Praça da Corujeira, o pulmão que tarda em fazer ‘respirar’ o Porto Oriental. Requalificação só arranca “em meados de 2025”

Praça da Corujeira, o pulmão que tarda em fazer ‘respirar’ o Porto Oriental. Requalificação só arranca “em meados de 2025”
| Porto
Fábio Lopes

“Caída no esquecimento”. “Deserto”, ou até “aldeia perdida no meio da cidade”. São algumas das expressões ouvidas para caracterizar a “esquecida” Praça da Corujeira, em Campanhã, que tem no horizonte um novo rumo, com uma obra de requalificação que deverá arrancar somente em meados de 2025, adianta ao Porto Canal a autarquia portuense.

 
 
 
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Com o propósito de dinamizar esta zona oriental da Invicta foi selecionado em outubro de 2020 um projeto de requalificação deste emblemático jardim portuense, com a expectativa de que este fosse concluído no decorrer deste ano. Quatro anos volvidos, a ambição ainda não saiu do papel, perante as palavras de mudança pedidas pelos moradores.

De acordo com a Câmara do Porto, esta é uma intervenção que “permitirá reforçar a integração da Praça da Corujeira no sistema de acessos ao centro da cidade a partir do Porto Oriental, potenciando e valorizando a sua ligação à malha envolvente e afirmando este lugar como um dos principais espaços lúdicos e turísticos da cidade, a par da reconversão do antigo Matadouro de Campanhã”.

Um cenário ainda longínquo que contrasta com a pouca azáfama do local nos dias que correm e em que os sinais do tempo se fazem sentir.

“Moro aqui há 50 anos e quando vim para aqui, isto era outra coisa… O espírito era diferente”, relata Maria José Sá, em tom saudoso, recordando a época em que era apanágio “as pessoas virem para aqui num dia de verão, estenderem a manta, fazerem piqueniques”. Imagens que esbarram com o pouco movimento e quase sentimento de abandono que caracteriza atualmente a Corujeira.

Corujeira aclama por nova vida

O ambiente perfumado com o esporádico barulho das crianças a brincarem no recreio da Escola Básica adjacente e no parque infantil localizado numa das extremidades da Praça não condiz com o lixo espalhado pelo jardim, com a relva que cresce livremente sem uma manutenção regular ou com as descrições dos moradores que apontam para um “ambiente noturno pesado” do local.

“Fui nascida e criada aqui. Nasci aqui em 1960 e continuo a ser moradora nos arredores daqui”, afirma orgulhosamente Ana Moreira, elencando o que, na sua ótica, mancha aquele ponto tão especial para a portuense de gema.

“O jardim está muito mal estimado, porque o ambiente aqui é um bocadinho pesado. A juventude havia de refletir que a Câmara vem arranjar isto, mas logo de seguida partem os bancos, vêm arranjar e pintar os bancos, aparecem partidos logo no outro dia, os caixotes do lixo é tudo no chão….”, sublinha, reforçando a necessidade de uma nova vida para a praça.

“Acho que uma reestruturação aqui vai trazer muita melhoria. Depois disto feito também vai haver um certo gosto, um certo cuidado. Acho que vai melhorar bastante e espero ser viva para poder ver isso”, acrescenta Ana Moreira.

Uma requalificação “ajustada aos moradores”

Uma visão partilhada por Patrícia Brito, moradora há cinco anos numa rua paralela ao Jardim. “Acho que peca por estar um bocadinho sujo, mas não quero apontar dedos a ninguém e acho que é um espaço super agradável que precisava de uma dinâmica um bocadinho diferente”, frisa a jovem, defendendo uma requalificação ajustada às necessidades dos habitantes desta zona oriental da cidade.

“Vejo com bons olhos dependendo do tipo de requalificação, do interesse em atrair pessoas….”, ressalva, opondo-se a uma empreitada “espampanante só para atrair mais turistas. Acho que é por isso que gosto de morar nesta zona, ainda não está assim tão gentrificada”, aponta.

Ventos de mudança suportados na proposta do atelier de Miguel Melo Arquitetura, com sede em Guimarães, que foi a vencedora do concurso de concepção para a requalificação da praça da Corujeira, cujo investimento ascende a 4,4 milhões de euros, mas que tarda em ver a luz do dia.

Empreitada vai demolir edifício existente

A prioridade do projeto, idealizado em plena pandemia, é a de valorizar e assegurar a manutenção do arbóreo existente, com destaque para os centenários plátanos que reinam na Praça, aliado à vontade de “melhorar as condições de quem habita” a zona, naquela que é definida como uma quase missão, frisa o atelier vimaranense.

A empreitada prevê a “introdução de áreas de jogos tradicionais, para além de mobiliário urbano composto por bancos, bebedouros e apoios de estacionamento para bicicletas e trotinetes”, sublinha a Câmara do Porto.

Assim, a emblemática praça verá nascer um ‘edifício bar’, “localizado próximo da copa dos plátanos, que terá uma função primordial de atração e incentivo à contemplação, agregando também atividade cultural. Este edifício, cuja conceção será em madeira, personifica o carácter da Praça da Corujeira numa relação privilegiada com a área verde envolvente”, acrescenta o gabinete de comunicação da autarquia portuense.

É proposta ainda a demolição do edifício existente, face ao seu degradado estado de conservação. “Foi acordado com a Junta de Freguesia de Campanhã um polígono de implantação de um novo edifício com dois pisos, com uma área de construção total estimada em 320m2, no extremo sudeste da praça, para onde passará o serviço do Centro Social de Campanhã. O projeto deste novo edifício será desenvolvido em processo autónomo”, vinca a Câmara do Porto.

Na gaveta fica para já a ideia de instalar um ‘sky garden parque de arborismo’, apresentado como “uma mera ideia potencial e como eventual complemento do projeto”.

Uma nova vida tão ambicionada pelos moradores que colide nos sucessivos atrasos que têm pautado a obra.

Uma nova centralidade para Campanhã sucessivamente adiada

Recorde-se que em setembro de 2023 o município avançava, ao jornal Público, que o concurso para a empreitada seria lançado no primeiro semestre de 2024 e que o arranque da obra aconteceria no último trimestre do mesmo ano.

Agora, a autarquia da Invicta refere que “atualmente, a fase III - Anteprojeto encontra-se em análise, que, após aprovado, seguirá para a quarta, e última, fase de desenvolvimento do projeto: o Projeto de Execução”, sendo que o lançamento do concurso público da obra avançará até ao final do corrente ano.

O arranque da empreitada deve somente acontecer “em meados de 2025”. Metas que arrastam o projeto, tardando uma revitalização do local.

A autarquia portuense justifica o atraso na obra com a “necessidade de compatibilização e articulação com todos os projetos em curso na envolvente, nomeadamente o Projeto de Arranjos Exteriores da “Reconversão do Antigo Matadouro Industrial” a norte; o Projeto de Obras de Urbanização do Loteamento do Monte da Bela a sul, e os “Estudos preliminares no âmbito da delimitação de Unidades de Execução na UOPG11 – Corujeira” e o “Estudo de Requalificação Urbana - S. Roque da Lameira / Corujeira / VCI”, a poente”.

Nova vida na Corujeira de olhos postos no Matadouro

Se a Corujeira é o epicentro da requalificação, há também uma nova centralidade a surgir com a empreitada em curso no Antigo Matadouro, a escassos metros da Praça e que pretende transformar o edifício para acolher empresas, mas também galerias de arte, museus, auditórios, restauração e projetos de coesão social.

Esta é assim uma ação concertada que vai introduzir alterações de fundo nesta zona Oriental do Porto, bem como nos arruamentos envolventes: Rua Nova de Corujeira, Rua Central de Corujeira, Rua de Ferreira dos Santos, Rua das Escolas e Rua de S. Roque da Lameira.

“Eu gosto disto, digam mal ou digam bem para mim é sempre o Jardim da Corujeira e a Praça da Corujeira e eu nasci e fui criada aqui e é aqui que eu quero ficar sempre”, frisa Ana Moreira, esperando ver a obra concluída “ainda em vida”.

Origens do local

O nome desta mítica praça da cidade do Porto tem origem no seu passado dedicado à criação de corujas. Palco da feira do gado e dos moços (ali contratavam-se pessoas para trabalhar na lavoura), no local foi construído um parque infantil em maio de 1976 e um centro social em 1985, transformando-se num jardim municipal em 1993.

Agora é com expectativa que os moradores aguardam por outra dignidade para o local, visto como casa e com sentimento de pertença para quem sempre aqui morou.

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