Rua Gisberta. “Isto é uma forma de a cidade reconhecer os seus pecados”

Rua Gisberta. “Isto é uma forma de a cidade reconhecer os seus pecados”
| Porto
Ana Francisca Gomes

A Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade a atribuição do nome de Gisberta a uma rua no Bonfim. Para o presidente Rui Moreira, esta é uma forma da cidade reconhecer os seus pecados e de “não esconder debaixo do tapete aquilo que foi um crime horrível”.

 
 
 
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As várias vozes políticas eleitas para a autarquia portuense uniram-se em torno de uma rua com o nome de Gisberta. A ideia? Dizer “nunca mais!”.

A eleita pelo PS Maria João Castro abriu as honras e não escondeu a emoção: “hoje é um dia muito importante para este órgão”.

A socialista relembrou que Gisberta foi “uma mulher que trans que deixou o Brasil por medo” e que não encontrou na cidade do Porto a segurança que procurava. Foi há quase 18 anos, em fevereiro de 2006, que Gisberta foi agredida e violada por um grupo de 14 adolescentes durante vários dias, acabando por ser encontrada sem vida no fundo de um poço de 15 metros.

“A cidade é daqueles que nos orgulham, mas também daqueles que nos confrontam”.

Uma vida à margem atirou “Gis” para a toxicodependência e para a rua, com as agressões a serem perpetuadas num edifício então embargado, onde pernoitava numa tenda. “Foi vítima do ódio àqueles que são diferentes”, lamentou Maria João Castro.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”

O presidente da autarquia, Rui Moreira, recordou que este foi um nome proposto várias vezes à Comissão de Toponímia da cidade, que o rejeitou. “Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades. Hoje a cidade está mais preparada e as coisas também têm o seu tempo”.

Para o autarca, esta atribuição tem vários significados e é uma forma da cidade reconhecer os seus pecados e de “não esconder debaixo do tapete aquilo que foi um crime horrível”.

Para Ilda Figueiredo, da CDU, “este é símbolo de uma cidade que queremos inclusiva, sem ódios, com a participação de todos e para que não se repita o que se passou”.

O bloquista Sérgio Aires lamentou que a comunidade LGBTQIA+ continue a ser vítima de crimes todos os dias e lembrou que a atribuição do nome de Gisberta a uma rua se deve muito ao trabalho das várias associações da cidade.

Ao Porto Canal, Filipe Gaspar, da Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto, afirmou que as associações querem uma cerimónia na inauguração do novo arruamento que junte a autarquia, associações e coletivos da cidade. “Gostávamos muito de construir esse caminho, achamos que também ia mostrar por parte do município uma abertura para o Porto ser uma cidade inclusiva e que acolhe todas as diversidades que nela existem e todas as pessoas que nela querem morar e viver”.

“Uma cidade diferente”

Mariana Macedo, eleita pelo PSD, considerou que a morte de Gisberta foi um “crime hediondo que merece o repúdio de todos” e congratulou que as mentes estejam “a evoluir com mais sensibilidade” e que este seja “um dia histórico” para o Porto.

No final da votação, que uniu todas as forças políticas, Rui Moreira afirmou que "não haveria muitas câmaras que aprovariam isto por unanimidade”

“Ainda somos uma cidade diferente. Somos mesmo".

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