Os planos de Rui Moreira para a VCI: “É o grande problema do Porto” - Entrevista exclusiva ao Porto Canal

Fotos e vídeo: Pedro Benjamim | Porto Canal
| Porto
Henrique Ferreira e Catarina Cunha

A Via de Cintura Interna (VCI) é considerado o problema transversal do trânsito no Porto, resultado de um tráfego intenso e de congestionamentos que, por vezes, se estendem por longos quilómetros.

Entre abril e junho, o tráfego cresceu comparativamente ao período homólogo; só em junho de 2023, verificou-se um crescimento de 6%, face ao mesmo mês de 2022. 

Em entrevista exclusiva ao Porto Canal, Rui Moreira garante que o trânsito estará no centro das suas preocupações até ao final do mandato e reconhece que “a VCI é de facto o grande problema do Porto”.

 
 
 
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O trânsito na cidade do Porto, em particular, na Via de Cintura Interna (VCI) é uma dor de cabeça para os milhares de condutores que por lá circulam, diariamente. Este problema tem se agravado desde 2022 e em especial nos últimos dias,graças ao regresso às aulas de milhares de alunos, bem como ao retorno ao trabalho, após o período de férias.

Perante esta tendência, Rui Moreira apela à paciência dos cidadãos e acredita que parte da questão vai ser resolvida com a conclusão das obras da Metro do Porto, referindo também que o constante adiamento da requalificação acabou por sobrecarregar as vias rodoviárias.

Só podemos apelar à paciência dos cidadãos, quando isto estiver concluído as coisas ficarão melhores e haverá mais soluções de uma mobilidade mais económica e sustentável”, afirma o autarca.

O independente recorda também que “o problema que nos preocupa mais é que a VCI é um atravessamento Norte-Sul e Sul-Norte de automóveis e de veículos de mercadorias que a nosso ver não deviam de passar no espaço urbano”.

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Recolocação de pórticos não avançou porque “Matosinhos saltou fora”

A intensificação do problema do trânsito foi o mote para a criação de um grupo de trabalho que integra representantes de três autarquias - Porto, Matosinhos e Maia -, a Infraestruturas de Portugal (IP) e técnicos especialistas, tendo em vista um levantamento dos problemas existentes e a definição de uma estratégia e medidas de melhoria para a VCI. As conclusões a médio e a curto prazo foram conhecidas em abril de 2021, tendo das reuniões do grupo de trabalho resultado 27 medidas.

Do leque de opções apresentadas, duas foram introduzidas como as “salvadoras”, denominadas pelo grupo de trabalho como cenário B e cenário G.

No cenário B consta a hipótese de eliminação dos dois pórticos na A4, entre a VRI – Via Regional Interna - e a A3, taxado em 0,45€. Um plano que é considerado de “fácil implementação, com uma perda de receita estimada de 5 milhões de euros”, lê-se no relatório final disponibilizado ao Porto Canal, pela autarquia do Porto.

Já o cenário G, além de incluir a retirada dos dois pórticos na A4, prevê a introdução de pórticos entre a A4 e a A3, com uma taxa de 0,45€, e na A28 - a sul da interseção com a A41 - no valor de 0,20€. Esta opção abrange ainda a alteração da taxa de portagem na A28 de 0,90€ para 0,70€.

Contudo, a recolocação dos pórticos não avançou. “Estava tudo combinado e acertado entre a IP, o Governo” e as câmaras municipais envolvidas e “Matosinhos saltou fora e desde aí não foi possível reatar esse diálogo”, explica Moreira.

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O Presidente descarta que o reatar do debate sobre a recolocação dos pórticos tenha de partir da Câmara do Porto. Na perspetiva do autarca, os responsáveis pelo diálogo são a IP e o Governo, “porque estamos a falar de territórios que não são nossos”.

Sobre a falta de respostas do Governo, Moreira atirou: “Estamos um pouco distantes de Lisboa, se este assunto fosse em Lisboa se calhar já se tinha resolvido, ou não, porque Lisboa também tem a Segunda Circular que não tem uma solução à vista”.

O plano para a VCI “é dedicar as faixas exteriores ao trânsito local”

Questionado sobre o plano perfeito para minimizar o fluxo de trânsito na VCI, o presidente da CMP é perentório e sugere mais uma proposta, que, aliás, não aparece elencada na lista de medidas decididas no grupo de trabalho: “aquilo que precisaríamos de fazer na VCI seria dedicar as faixas exteriores, na aproximação nomeadamente pelo Freixo, para o trânsito local, aquele que anda pela cidade, que é considerado doméstico” e “deixar as faixas centrais separadas para o tráfego de atravessamento”.

Neste caso, o tráfego de atravessamento “seria penalizado, através de portagens”, ou então seria “ induzido a utilizar as outras alternativas, através de abolição das portagens”, acrescenta.

Se estas sugestões não forem avante, “um dia pode chegar aqui um Presidente da Câmara e dizer que nos nós da VCI, que são nossos, não podem andar pesados”, o que causaria “um enorme impacto e um grande constrangimento aos operadores de logística”, reforça.

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“A CREP é distante do centro”

A CREP (Circular Regional Exterior do Porto) chegou a ser apontada como solução para desviar o trânsito de pesados, sobretudo de redes regionais, nacionais e internacionais, da VCI. Mas as portagens afastam os utilizadores e, sobretudo, as empresas transportadoras, responsáveis para sobrecarga causada pelo tráfego de pesados na cintura interna.
Rui Moreira é da opinião que a CREP, “enquanto circular externa do Porto, é demasiado excêntrica, ou seja, é demasiado distante do centro para gerar trânsito por si própria”.

“Porque é que eu devo ir por lá se tenho que fazer mais quilómetros e ainda tenho que pagar portagem?”, questiona.

O autarca confessa que a autoestrada tem um problema, não relacionado com a existência ou não, de entendimento entre os municípios, mas sim associado “ao facto de o desenho estratégico da CREP ter sido mal planeado”.

Na opinião do Presidente, a A41 “não devia de ser concessionada, ou ao ser concessionada o concessionário devia de ser compensado de outra maneira”.
“Rede de transportes públicos não tem a capilaridade necessária”

Para Rui Moreira, a não utilização em massa de transportes públicos por parte dos portuenses é complexa e deve-se a um conjunto de razões.

“Por um lado, a rede de transportes públicos não tem a capilaridade necessária”, afirma. “Por exemplo, o Metro é útil para entrar e sair da cidade do Porto, contudo no seu interior tem pouca densidade, mas isso vai ser atenuado com o fim da construção da linha Rubi e também com a Metrobus.”

O independente realça também que a frequência de utilização de transportes públicos é baixa e que isso se deve aos hábitos da sociedade. Em primeiro lugar, “as pessoas param os carros onde querem, isto é um problema que já existia, mas agravou-se imenso com os TVDEs”, que param na faixa bus recorrentemente.

Em segundo, refere o problema da ‘logística urbana’, ou seja, tendo em conta que “cada vez que fazemos compras online para temos à nossa porta uma furgoneta que pára numa faixa bus”.

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Devido a estas condicionantes, “o transporte público acaba por sofrer na sua velocidade comercial, o que faz com que seja menos interessante”, frisa Rui Moreira.

O terceiro fator apontado pelo edil deve-se a uma questão cultural. “Hoje em dia, os pais têm medo de mandar os filhos para escola de transporte público. Não por terem medo do que acontece no interior do autocarro, mas daquilo que pode acontecer no trajeto de casa para paragem e depois da paragem para escola”, sublinha.

Rui Moreira acredita que esta questão cultural vai ser vencida com as novas gerações, que vão obrigar a uma mudança de comportamentos.

Mobilidade “é absolutamente crucial” para atingir neutralidade carbónica em 2030

O autarca lembra ainda que a aposta na mobilidade “é absolutamente crucial” para atingir os objetivos de neutralidade carbónica até 2030.

Para Rui Moreira a adoção de comportamentos sustentáveis na questão da mobilidade não passa pela transição de carros a combustão para os veículos elétricos, mas sim pelo uso do “transporte público, ou do transporte suave”.

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