“A VCI é a via mais ruidosa que o Porto tem”, alerta especialista
Catarina Cunha
A par do tráfego, a Via de Cintura Interna (VCI) vê-se a braços com um outro sério problema: o ruído, que “tem aumentado sucessivamente”, ao longo dos últimos anos, ao contrário do que se tem verificado no centro do Porto, onde a sobre-exposição ao ruído “baixou” significativamente.
Quem confirma esta realidade atual é o professor de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Rui Calejo, especialista nesta matéria.
Ao Porto Canal, o docente explicou que não se pode desassociar uma questão da outra: a VCI “é a via mais ruidosa que o Porto tem, devido ao trânsito”, porque “onde há veículos, há ruído”, logo se não existisse a VCI “havia uma cidade diferente do ponto de vista do ruído”.
Como é possível visualizar no seguinte mapa de ruído disponível no sítio oficial da autarquia portense, os focos de sobre-exposição ao ruído perto da VCI localizam-se nas ligações da Autoestrada A3 e A28, na Via Norte e Ponte do Freixo e ,já na transição para Vila Nova de Gaia, na Ponte da Arrábida “que começa a levantar problemas por ter população urbana muito próxima”.
Mapa de ruído da cidade do Porto (As zonas mais escuras são as de maior sobre-exposição ao ruído)
Números de sobre-exposição de ruído “acima do expectável em termos legais”
O Porto Canal esteve a acompanhar uma monitorização do ruído proveniente da VCI, junto à saída do Amial, numa tarde de sexta-feira, em plena hora de ponta. Este ensaio foi efetuado com recurso a um sonógrafo, feito por um técnico habilitado para o efeito.
Em poucos minutos, foi possível constatar que, naquela zona, “os números estão acima do que era expectável em termos legais para a emissão de ruído. O limite é de 65 decibel para um parâmetro médio ao longo do dia e estamos na ordem dos 76 a 77 decibel, ou seja, bastante acima”, explica o engenheiro civil Rui Calejo.
Amostra do número de décibel captado através de aparelho de monotorização de ruído
“Impacto do ruído seria menor” com desvio de camiões para a CREP
Uma das soluções apontadas pelo Município do Porto para fazer jus ao aumento do tráfego na VCI é o desvio de veículos pesados para a Circular Externa do Porto, vulgarmente conhecida como CREP.
No capítulo do ruído, o professor universitário confessa que essa equação é como uma espécie de ‘penso-rápido’, ou seja, de facto o “impacto do ruído seria menor” com esse desvio, mas “a solução da VCI passa única e exclusivamente pela natureza do pavimento, limitação da velocidade e fundamentalmente pela [colocação] de barreiras acústicas”.
Alguns quilómetros desta estrada já estão forrados com estes ‘bloqueios’, que, com o passar do tempo, se tornaram num “canvas para os grafitis da cidade”, lamenta Rui Calejo, ressalvando também que o Município “merecia soluções de barreiras com uma qualidade de design muito superior às existentes”, que, no fundo, “dignificassem a cidade”.
A verdade é que existem “um sem número de soluções”, efetivamente mais caras, mas são “de alta eficiência, modernas e ecológicas. Nós podemos fazer isso”, argumenta.
Mas, afinal o que falta fazer para dar esse passo? Perentoriamente, o especialista retorquiu que por vezes há “uma falta de sensibilização” e de “sintonia” entre os diferentes agentes envolvidos, algo que “não é muito fácil numa cidade grande como a do Porto”.
Rui Calejo lembra ainda que a responsabilidade pela pasta ‘ruído’ pertence à entidade responsável pela tutela da VCI – a Infraestruturas de Portugal – e não à Câmara Municipal do Porto, no entanto reforça que a autarquia precisa de “insistir para resolver o problema”, de modo a que as medidas “sejam desenvolvidas com um maior critério”.
Carros elétricos “fazem menos ruído” apenas em ambientes urbanos
Quanto ao incentivo à adoção de automóveis elétricos, o engenheiro considera que os benefícios desses carros só se verificam em estradas de velocidade reduzida.
Os “veículos elétricos fazem de facto menos ruído em ambiente urbano, mas em estradas de grande velocidade o ruído é muito equivalente a um veículo a motor”, salienta.
“Em 120 mil veículos se substituirmos 10% por veículos elétricos é a mesma coisa. É preciso chegarmos a um grau de substituição na ordem dos 90% para começarmos a ter uma redução do ruido de veículos elétricos, e isso vai demorar alguns anos”, finaliza o professor.
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