Vizinhos do Eskada relatam dez anos de “terror e violência”
Porto Canal
“Se soubesse o que sei hoje - que na realidade já sei há alguns anos - nunca teria comprado casa aqui”. O desabafo é partilhado com o Porto Canal por um dos moradores da Rua da Alegria, alguém que tem na discoteca Eskada o vizinho indesejado que atormenta qualquer proprietário.
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A afirmação, proferida de forma crua e dura, não permite esconder o cansaço e rancor de anos acumulados de noites mal dormidas. Às chamadas para a polícia a altas horas da madrugada, aliadas à relatada inação das forças de segurança, juntam-se relatos de violência, gritos, lixo e sentimento de insegurança que leva ao medo de abandonar a própria casa.
“Dizem que o Brasil é perigoso. Já fui para o Rio de Janeiro de férias e senti-me mais seguro lá do que aqui. Não sinto que possa sair de casa em segurança depois da meia-noite e deixar o carro na rua é impensável”, conta um dos ‘vizinhos’ do Eskada que, tal como outros com quem o Porto Canal falou, pede para manter o anonimato face ao medo de represálias.
“De manhã encontramos ali no jardim (Largo de José Moreira da Silva) lixo, urina, vómito… há de tudo o que possam imaginar”, relata-nos um morador da rua da Alegria, reformado, e que ali reside há tantos anos que não é capaz de precisar.
Face à notícia do encerramento da discoteca, que havia já sido comentada com outros vizinhos durante as primeiras horas da manhã, a esperança não deixa de transparecer, ainda que por breves instantes. “Parece que agora houve finalmente coragem para fazer alguma coisa mas não vou celebrar já. Vamos esperar. Quanto mais não seja pelo menos durante os próximos dias vamos poder dormir descansados”, confessa.
Outro morador fala-nos de uma “discoteca com as características de espaço de diversão noturna de uma zona industrial a funcionar no centro da cidade do Porto”, frisando que “isto já dura há demasiados anos!”
“Isto já foi um bar de strip e eu sinceramente preferia esse tipo de estabelecimento. Os clientes sempre eram mais recatados… e discretos”, conta-nos o mesmo morador, entre risos. “As nossas queixas são antigas mas nota-se que nos últimos anos o perfil das pessoas que aqui vemos na rua mudou. São mais novos, alguns parecem não ter mais de 14/15 anos. Estão constantemente a pegar-se por causa de raparigas”.
‘Movida’ do Porto: a última esperança
O anúncio por parte da Câmara Municipal do Porto da revisão do regulamento da ‘Movida’, em finais de 2022, deu algum ânimo aos vizinhos do Eskada, tendo em conta a possibilidade de a Rua da Alegria ser incluída nesta zona delimitada da cidade, obedecendo dessa forma a regras e medidas de controlo mais apertadas. O partido socialista abraçou esta iniciativa dos moradores mas o executivo liderado por Rui Moreira acabaria por inviabilizar esta proposta.
“Em 2016 ou 2017 os moradores da zona juntaram-se e fizeram um abaixo-assinado que de nada serviu. Mais recentemente houve uma proposta para a Rua da Alegria ser inserida na zona da Movida do Porto, precisamente por causa do Eskada, e a Câmara não quis. É um absurdo, eles têm ali uma zona de jardim totalmente aberto e o barulho que vem só daí faz com que seja impossível que alguém consiga dormir”, realça um dos moradores.
Moreira e Carneiro de acordo com o encerramento da discoteca
Fonte ligada ao processo confirmou ao Porto Canal que José Luís Carneiro ligou a Rui Moreira durante a tarde do passado domingo para falarem do futuro da discoteca portuense. Esta chamada terá sido precipitada pelo escalar de casos e queixas verificadas ao longo das últimas semanas, participações recolhidas pela PSP e autarquia.
Situada no número 611 da Rua da Alegria, a discoteca Eskada Porto tem sido alvo frequente de queixas devido ao barulho, perturbação da ordem pública e vandalismo. A proposta de encerramento assinada pelo ministério tutelado por José Luís Carneiro destaca também “agressões envolvendo funcionários ou seguranças privados da discoteca e episódios entre clientes – com vários deles a receber assistência hospitalar”.
Fonte ligada ao processo confirmou ao Porto Canal que Rui Moreira está de acordo com a decisão de encerrar a discoteca (foto: Lusa)
“Dado o perigo de perturbação para a ordem, segurança e tranquilidade públicas, que decorre do alarme social gerado pela repetição constante dos factos relatados pela PSP, a reabertura do Eskada Porto fica sujeita à adoção das medidas que a Polícia considere necessárias para a reposição das condições de segurança e do normal funcionamento da discoteca”, avançou ao Porto Canal o Ministério da Administração Interna.