Autárquicas. Independentes aquecem os motores com 2025 no horizonte
Ana Francisca Gomes
As eleições autárquicas são apenas em 2025, mas a limitação de mandatos de Rui Moreira obriga o movimento a que deu origem a reinventar-se. Os independentes, agora comandados pelo ‘vice’ e provável candidato Filipe Araújo, começam a fazer as contas e a aquecer os motores, tendo em vista o futuro político da cidade.
Agendada para a noite desta quinta-feira está uma reunião entre a direção da associação e os presidentes das juntas conquistadas pelo movimento – Bonfim, Lordelo do Ouro e Massarelos, Centro Histórico, Ramalde e Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.
Raúl Almeida, líder do Grupo Municipal do Movimento Rui Moreira, confirmou ao Porto Canal a reunião. Não confirmou, contudo, que os olhos estejam postos no futuro: "Não é inevitável falar do futuro, mas obviamente que é uma reunião de rotina de coordenação política e fala-se de tudo", declarou.
Em cima da mesa deverá estar a organização para o jantar evocativo dos dez anos de Rui Moreira à frente da Câmara do Porto, organizado pela Associação “Porto, o Nosso Movimento” para o próximo dia 28 e que contará com a presença do presidente da Câmara. O evento é visto como um teste às bases independentes e à capacidade de mobilização da ‘estrutura’ do movimento.
Autárquicas no horizonte
Líder do movimento independente há menos de um ano, Filipe Araújo já viu baterem com a porta dois dos seis vereadores eleitos na lista encabeçada por Rui Moreira.
O primeiro a abandonar a associação foi o liberal Ricardo Valente, em novembro de 2022, e, mais recentemente, Fernando Paulo, que saiu em rutura com o atual líder do movimento e também vice-presidente da Câmara do Porto, acusando-o de “desrespeito e falta de solidariedade pessoal e institucional, nomeadamente ao Presidente da Câmara”. Nos corredores políticos da cidade, é sabido que a relação entre ambos se deteriorou desde então.
O vereador com os pelouros da Educação e da Coesão Social justificou ainda a sua saída acusando a direção eleita de ter as próximas autárquicas como “assunto prioritário (…) apesar do mandato em curso nem sequer ter atingido os dois anos”.
Com a IL a preparar caminho próprio, com vista a uma mais do que provável candidatura ‘a solo’ à Câmara, o risco de fragmentação é real. Também entre os presidentes da junta, garantem fontes do movimento ao Porto Canal, o futuro é visto com desconfiança.
Filipe Araújo ainda não o anunciou publicamente, mas a hipótese de suceder Moreira como candidato independente à Câmara é um dado adquirido no movimento. Ao Jornal de Notícias, Araújo declarou, aliás, que em 2025 o movimento vai apresentar-se a votos com lista própria, sem integrar nela nenhum partido.
Em junho deste ano o Público avançava o “desconforto” sentido por membros do movimento desde que Filipe Araújo assumiu de forma mais acérrima a sua propensão à liderança da quarta maior câmara do país, dando nota de que a mais recente quezília seria mesmo o anúncio das listas próprias.
O ‘peso’ e a sombra de Moreira
Fontes do movimento contactadas pelo Porto Canal não duvidam da capacidade política de Filipe Araújo, mas sabem que vai sofrer com comparações a Rui Moreira, quando os dois “não são comparáveis”. Para um quadro do movimento ouvido pelo Porto Canal, o melhor é mesmo não entrar em comparações, “se não aí está tudo perdido”.
E vão ainda mais longe: Moreira tem um carisma e uma forma de estar na política muito próprios, que, dizem, dificilmente conseguirão ser alcançados por outro candidato – seja ele um independente ou eleito por outro partido, como o PS ou PSD.
O Porto Canal tentou contactar Filipe Araújo, mas sem sucesso.
Independentes anteveem um PS forte
As próximas eleições autárquicas, previstas para 2025, vão coincidir com 24 anos de afastamento do Partido Socialista à frente da Câmara do Porto. O último autarca socialista eleito na Invicta foi Fernando Gomes, que deixou os comandos do município em 1999. Seguiu-se Nuno Cardoso, que terminou o mandato.
Os independentes anteveem, por isso, um regresso socialista com toda a força. Manuel Pizarro, atual ministro da saúde e antigo vereador da autarquia, é o nome mais provável.
Já sobre o PSD, a convicção é de que o partido não vai conseguir sozinho combater a força dos socialistas e a persistência dos independentes.