Bragança vai ser a primeira cidade portuguesa ligada diretamente à alta velocidade já em 2026
Francisco Graça
Bragança vai ser a primeira cidade portuguesa com ligação direta aos comboios de alta velocidade. A “estrada melhorada”, que já está adjudicada, vai ligar a capital de distrito a Puebla de Sanabria, localização espanhola com AVE – um comboio que pode atingir 300 quilómetros por hora. A empreitada deve estar concluída em 2026 e vai custar 29 milhões de euros.
Era um desejo com mais de duas décadas: uma estrada “sem buracos” e “com menos curvas” que fizesse a antiga ligação de contrabando que junta Bragança às aldeias de Varge, Rio de Onor e o lado espanhol. Isto porque a pequena vila história de Puebla de Sanabria tem, desde 2021, ligação de alta velocidade ao TGV espanhol.
A linha rápida, também conhecida como AVE, podia mudar tudo: ao chegar aos 300 quilómetros por hora (apesar de a linha da Galiza ter limites de velocidade mais reduzidos), tece facilmente os territórios ibéricos, e pode juntar Sanabria a Madrid em menos de duas horas.
Há aqui uma dupla ironia. Por um lado, fazer os 350 quilómetros que distam Sanabria e a capital espanhola fazem-se em 1h51 minutos, mas 45 quilómetros entre Bragança e a estação exigem paciência e cuidado, desviam entre curva contracurva durante quase uma hora. E isso “não é exequível”.
“Precisamos de um tapete novo daqui a Bragança, a cada meio ano tenho de mudar as rodas do carro. Não ganhamos para as rodas”, critica uma das 76 pessoas que vive em Rio de Onor e que trabalha num dos únicos cafés da aldeia. “Uma nova estrada vai ajudar muito Bragança, em vez de demorarem 50 minutos, os espanhóis vão demorar dez ou 15 minutos a cá chegar. É bom para o comércio, bom para as feiras”, diz um habitante de Varge ouvido pelo Porto Canal.
O outro lado da ironia prende-se com um fator histórico. Uma das primeiras capitais de distrito a ficar sem comboio, logo em 1991 com o encerramento da linha do Tua entre Bragança e Mirandela, é a cidade portuguesa mais próxima de uma estação de alta velocidade, servida pelos comboios mais modernos do mundo.
A recuperação da estrada vai custar 29 milhões de euros vindos do Plano de Recuperação e Resiliência. A Câmara de Bragança já adjudicou a execução da via, que não pode ser transformada em autoestrada ou IP por atravessar o Parque Natural de Montezinho.
A estrada com buracos e perigosa é feita devagar. Se os 350km de comboio à capital espanhola se fazem em alta velocidade, chegar até à estação demora praticamente uma hora
“Uma ligação rodoviária ao AVE espanhol é premente”, avalia o presidente da Câmara Municipal de Bragança. O turismo espanhol é uma mais-valia para o território, mas também as ligações comerciais, exportações através da ferrovia e aumento da mobilidade são um fator de crescimento de um concelho português envelhecido.
“A obra consiste na reabilitação da estrada existente, com a correção do traçado”, explica Hernâni Dias. A estrada vai alargar e ficar mais segura. “Vai haver uma variante na aldeia de Varge e em Rio de Onor, mas fica a faltar um ponte internacional, que vai depender do Governo português e do Governo espanhol, por forma a evitar que estejamos a fazer uma estrada até um determinado ponto, os espanhóis também reabilitem do lado de lá, e depois não haja uma ligação que é obrigatório ser feita”.