O “falso extrovertido” que ainda sonha com a Câmara do Porto. Este é o perfil do novo Ministro da Saúde

O “falso extrovertido” que ainda sonha com a Câmara do Porto. Este é o perfil do novo Ministro da Saúde
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“As quintas-feiras no consultório dele eram terríveis. Terríveis”, ri-se Jorge Almeida, diretor do serviço de medicina interna do Hospital do São João e colega de Manuel Pizarro desde 1991. “Ele ia prometendo consultas a todas as pessoas que apareciam no hospital. Juntava tudo à quinta-feira, era um vendaval. 30 pessoas na fila. O Manel acabava o turno às 4 da tarde, mas eram 8 e 9 da noite e ainda andava por lá a ver os doentes”.

Para Jorge Almeida, a característica definidora da personalidade do novo ministro da Saúde é “dizer que sim a tudo”. A ânsia de fazer e de mostrar serviço pode ser caótica, exacerbada num ministério que tem de equilibrar vontades de médicos e enfermeiros, gestores hospitalares e grupos privados, vários sindicatos e um Ministério das Finanças a servir de tampão.

Quem o conhece bem assume que as ‘pizarrices’ serão “inevitáveis”. O que são ‘pizarrices’? Promessas ditas no calor do momento, “bem-intencionadas”, mas que dão “muito, muito trabalho”, concordam amigos, socialistas e colegas de trabalho ouvidos pelo Porto Canal. O novo ministro pode ter energia, mas ou aprende a gerir esforços ou vai acabar a atirar para todos os lados.

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Manuel Pizarro na Feira do Livro do Porto, este ano, já depois de nomeado Ministro da Saúde. O médico gosta de partilhar fotos da cidade nas redes sociais (Imagem: Manuel Pizarro / Facebook)

O tímido que se tornou animal de palco

Jorge Coelho lembra-se de um Manuel Pizarro completamente diferente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. “Era tímido, gaguejava um pouco e era sopinha de massa, mas depois queria sempre resolver tudo, era muito próximo e afetivo”. Se tivesse de classificar, Pizarro seria um “falso extrovertido”. Com o passar dos anos, deixou cair o ‘falso’ e passou a ser um extrovertido puro.

“É o centro das atenções em qualquer sítio, tem um grande sentido de humor e adora contar histórias”, confirma Hugo Carvalho, deputado socialista. Durante as autárquicas de 2021, Pizarro foi presença assídua no concelho de Amarante, onde fez campanha ao lado de Hugo Carvalho. O deputado recorda uma “memória implacável”: “Subia ao púlpito e enumerava cada uma das 26 freguesias de Amarante, lugares, pessoas de cada terra. Empresas. É um defeito que lhe ficou dos tempos de estudante”. E não faltam casos de pistas de dança que foram abertas pelo antigo eurodeputado. “Tanto está bem entre a alta sociedade como num bailarico. Gosta de dançar”.

Hugo Carvalho já ouviu falar do famoso termo ‘pizarrice”? O deputado ri-se. “O Pizarro às vezes é descontraído de mais. Ou seja, é genuíno e saem-lhe algumas coisas da boca…”

Renato Sampaio, antigo presidente da Federação Distrital do PS Porto, só tem elogios para o ex-eurodeputado. “Se era mais ou menos tímido quando era novo, não sei. Agora é um animal de palco. E também falam que passou pelo Partido Comunista [Manuel Pizarro filiou-se no PCP aos 14 anos e por lá andou uma década]. Agora até me ultrapassa pela direita”.

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Manuel Pizarro em campanha em Amarante nas Autárquicas de 2021. O PS venceu 12 das 18 câmaras no distrito do Porto (Imagem: PS Amarante)

O dono do aparelho e o sonho da Câmara do Porto

Manuel Pizarro foi eleito à Assembleia da República em 2005, entre 2008 e 2011 assumiu o cargo de secretário de estado da Saúde do governo Sócrates e passou a eurodeputado em 2019. Mas a cidade do Porto acaba sempre por chamar pelo médico.

O presidente do PS Porto vai já no terceiro mandato à frente da federação distrital, e antes foi líder da concelhia. Tem um controlo férreo sobre o ‘aparelho’, foi duas vezes candidato único nas listas internas do partido e esmagou uma revolta anti-costista em 2020.

Em 2021 fez valer a palavra contra o próprio António Costa na escolha do candidato à Câmara do Porto e ‘bloqueou’ candidaturas de José Luís Carneiro e Eduardo Pinheiro. Correu todos os concelhos do distrito nas eleições autárquicas, são conhecidos os telefonemas até às tantas e ainda apareceu a beber champanhe ao lado de Vítor Costa, na vitória surpreendente de Vila do Conde. Numa mensagem ao Porto Canal, Vítor Costa diz que Pizarro é “de palavra como poucos”, confirmando a importância do ‘cacique’ local na conquista rosa de 12 das 18 câmaras em jogo.

Mas se a vida interna no PS corre de feição, não se pode dizer o mesmo das corridas aos Paços do Concelho da cidade. Derrotado em 2013 e 2017, Manuel Pizarro diz a amigos próximos que o seu grande desejo não mudou: chegar a presidente da Câmara da segunda maior cidade do país.

O ‘sim’ dado a António Costa para ficar com a pasta da Saúde pareceu, por isso, estranho. Ainda mais estranho a um antigo colaborador próximo de Manuel Pizarro com quem o Porto Canal falou, mas que prefere permanecer anónimo. Num setor com um novo estatuto do SNS por aprovar e em conflito aberto com médicos e profissionais de saúde, trocar uma posição dourada em Bruxelas pela ‘batata quente’ que deitou abaixo Marta Temido tem pouca explicação. Este colaborador avança uma hipótese: o médico assegura a pasta e dá cobertura política a António Costa em troca do apoio necessário para uma terceira disputa à Câmara do Porto em 2025, no final do mandato de Rui Moreira. Mas são tudo suposições. O que é certo é que ser ministro da Saúde "nunca esteve nem estava nas perspetivas polítivas próximas", até porque Pizarro tinha sido nomeado recentemente coordenador da delegação socialista no Parlamento Europeu.

Quando questionado se Manuel Pizarro preferiria o Ministério da Saúde ou Câmara do Porto, Renato Sampaio não duvida. “Câmara do Porto”. A mesma pergunta é feita a Hugo Carvalho. Um silêncio longo. “Se o Porto precisar de Pizarro, ele vai lá estar”.

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