O nome de Gisberta já está cravado nas ruas do Porto
Ana Francisca Gomes
Já foi colocada a placa toponímica na “Rua Gisberta Salce Júnior” na freguesia do Bonfim, no Porto. A decisão da atribuição foi aprovada no final de janeiro pelo executivo da Câmara do Porto.
Quem agora passar pela zona das Eirinhas, nas traseiras do Cemitério do Bonfim, poderá constatar que a nova rua alcatroada recebeu o nome Gisberta, uma mulher trans brasileira que em fevereiro de 2006 foi encontrada morta, depois de ter sido brutalmente agredida e violada por um grupo de 14 adolescentes.
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A deliberação foi aprovada pelo executivo municipal a 29 de janeiro, com as várias forças políticas da cidade a demonstrarem o seu desejo de uma cidade inclusiva. Mas a atribuição do nome de Gisberta gerou divergências no entendimento dos critérios ditados pelo regulamento da Comissão de Toponímia, órgão consultivo do município para as questões de toponímia da cidade.
Em 2021, quando a Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP) e a atriz e ativista Sara Barros Leitão propuseram, através de um abaixo-assinado, que o nome de ‘Gis’ fosse atribuído a uma rua da cidade, Isabel Ponce Leão, presidente da comissão, afirmou ao Expresso que, apesar de ter “o maior respeito pelo caso”, “a pessoa em si nada fez em prol do Porto”.
Depois de ter sido recusada em duas outras ocasiões, a atribuição do nome de Gisberta a uma rua do Porto dividiu os votos dos membros da comissão. Dos 19 elementos que a compõem, estavam naquela reunião 13, tendo sete votado a favor e seis contra.
Em 22 de março de 2022, o Jornal Público escrevia que Germano Silva tinha abandonado a Comissão de Toponímia por motivos pessoais, lembrando, no entanto, que a discussão em torno da atribuição do nome de Gisberta mereceu a desaprovação do jornalista por “violar o regulamento”. "O regulamento prevê que se dêem nomes de ruas a pessoas do Porto, que tenham feitos notáveis. Se o regulamento está errado então faça-se uma revisão. Mas respeite-se o regulamento", adiantou à época o diário, citando o jornalista.
Comissão Organizadora da Marcha queria cerimónia de inauguração
Filipe Gaspar, da Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto afirmou em janeiro, em entrevista ao Porto Canal, que a organização desejava a realização de uma cerimónia na inauguração do novo arruamento que fosse capaz de juntar a autarquia, associações e coletivos da cidade.“Gostávamos muito de construir esse caminho, achamos que também ia mostrar por parte do município uma abertura para o Porto ser uma cidade inclusiva e que acolhe todas as diversidades que nela existem e todas as pessoas que nela querem morar e viver”.
Segundo fonte da COMOP, a autarquia liderada por Rui Moreira não dialogou com os coletivos da marcha sobre a colocação da placa toponímica. O Porto Canal questionou o município, não tendo obtido resposta à data de publicação desta notícia.