Em Gaia, só o metro flui numa Avenida da República "terrível" do início ao fim

Em Gaia, só o metro flui numa Avenida da República "terrível" do início ao fim
| Norte
Porto Canal/Agências

A Avenida da República, em Gaia, a 'artéria' mais importante da mobilidade da cidade, é "terrível" do início ao fim, disse à Lusa um especialista, num dia passado ao som de buzinadelas e da constante passagem do metro.

"Acho que é terrível. A avenida foi feita com um desenho dos anos 70 e anos 60 tardios. Se há um problema com um veículo, e se bloqueia uma ou duas faixas de trânsito, vai causar problemas de congestionamento de tráfego por toda Gaia", disse à Lusa o americano James Cooling Smith, curiosamente engenheiro de tráfego.

O especialista de 55 anos, que tinha acabado de estacionar em sítio proibido na avenida, disse que deixou Gaia rumo a Esmoriz, ao fim de cinco meses, "exatamente por causa dos problemas de trânsito". "O trânsito de hoje já está 20 ou 30 anos atrasado. A infraestrutura que têm em Portugal relembra-me 1975", afirma, considerando que "tudo tem de ser refeito".

O dia começa na Rotunda de Santo Ovídio, ponto de chegada de seis vias provenientes de todas as geografias do concelho, todas entupidas logo pela manhã. Perto das 08h30, quando o trânsito já gerava buzinadelas, irritações (até com peões), ar poluído e acelerações bruscas de cada vez que se conseguia andar 10 metros, dá-se um acidente entre um autocarro de turismo (em serviço urbano) e um ligeiro, aumentando a impaciência.

As dezenas de autocarros nas vias que alimentam Santo Ovídio continuavam a querer entrar na rotunda, mas os passageiros vindos da Estrada Nacional (EN) 1 perderam a paciência e foram a pé cerca de 300 metros até ao metro, ao mesmo tempo que um autocarro da STCP demorava 10 minutos para circundar a rotunda e uma ambulância ficava retida na Avenida da República.

Autocarros sobrelotados são uma imagem comum em Santo Ovídio, sendo também comum o descarregamento de passageiros em massa para ligação ao metro. Após Santo Ovídio, todos os autocarros observados pela Lusa, sem exceção, incluindo os de circuitos turísticos de dois andares, iam maioritariamente vazios rumo a General Torres ou ao Porto, fazendo um percurso redundante ao do metro na Avenida da República, mas ocupando espaço e emitindo dióxido de carbono.

Indiferente a tudo isto, por debaixo da rotunda, o metro seguia sem problemas, levando milhares de pessoas para o Porto. Por debaixo do metro, o reaberto túnel rodoviário de Santo Ovídio já contava também com filas, apesar de a nova rotunda a sul aliviar um pouco o tráfego.

 
 
 
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"Estamos sempre sujeitos à multa do estacionamento"

Descendo a avenida, na estação intermodal de D. João II, há novos problemas: carros ligeiros estacionados preenchem quase na totalidade a plataforma destinada a autocarros que servem a EN 222. Vindos daquela estrada, nos semáforos antes de D. João II, os automobilistas mais impacientes ignoram as indicações da faixa BUS que lhe dá acesso, uma estação também marcada por caminhos de peões desenhados nos separadores de relva entre metro e rodovia, marcas dos trajetos mais rápidos que os sinalizados pelas passadeiras.

Entre D. João II e João de Deus, os passeios amplos e a ausência de cruzamentos garantem uma viagem sem sobressaltos, mas os problemas voltam na ligação entre a Rua D. Pedro V e a Rua Raimundo de Carvalho, perpendiculares à Avenida da República, e entupidas e com longas filas a meio da manhã. Em João de Deus, uma zona transformada num segundo epicentro de mobilidade rodoviária em Gaia, também se verifica a violação de uma faixa BUS na Rua Pádua Correia, devido aos carros estacionados em segunda fila.

O mesmo cenário começa a aparecer na própria Avenida da República, imediatamente após João de Deus, no percurso até à Câmara de Gaia e à Praceta 25 de Abril.

José Tavares, de 71 anos, estacionou o carro só para ir comprar o jornal, mas apenas o usou por necessidade do filho deficiente, pois quando tem de ir ao Porto vai "sempre de metro ou de autocarro". "Estamos sempre sujeitos à multa do estacionamento. Arriscamos. Para ir buscar o jornal, para ir ao café ou assim…", assume, admitindo que "as pessoas também são cómodas", incluindo-se nesse lote.

Tirando junto à Câmara de Gaia, o cenário do estacionamento ocasional repete-se até ao Jardim do Morro, ajudado pelas clínicas e centros de análises que existem no local, bem como por outro tipo de comércio e serviços na avenida. Ali, a Polícia Municipal não evita as cargas e descargas, mas adverte para o estacionamento indevido no passeio, num processo que se repete em pouco tempo entre a ordem da força policial e a nova ocupação por um automóvel.

Já no Jardim do Morro, numa alameda que poderia ser completamente pedonal, há vários carros estacionados por debaixo da Serra do Pilar, com viaturas a quase invadirem as plataformas da estação de metro, um cenário habitual. À tarde, o parque de estacionamento a céu aberto em que se tornou a zona do Jardim do Morro ganhou ainda mais carros, e as paragens de autocarro no sentido norte-sul da avenida, que servem quem vai para o sul de Gaia e outros concelhos, estão subdimensionadas, com pessoas de pé e ao ar livre.

"Aqui não há conforto. Está sempre toda a gente aqui. E às vezes estamos três horas à espera", disse à Lusa Aida Maria, de 67 anos, que ia para a Praia de Salgueiros, confessando que apanha o autocarro na primeira paragem da avenida, porque "é mais certo, senão chega-se à Câmara e já está tudo cheio".

Ao longo da subida da avenida o cenário repete-se, especialmente nas paragens de General Torres, João de Deus, D. João II e Santo Ovídio, por entre trânsito parado, carros avariados, barulhos de motores e ar irrespirável.

No final do dia, a rotunda de Santo Ovídio está menos congestionada, mas ainda se ouvem buzinadelas rumo a outra Gaia menos congestionada, após mais uma odisseia anormal tornada quotidiano. Em Santo Ovídio, a via que dá acesso à autoestrada transforma-se num parque de recolha dos passageiros de metro, que passaram pela avenida mais rápido do que qualquer automóvel ou autocarro.

O cenário poderá alterar-se com a chegada do metro a Vila d'Este e com o aumento de frequências para três em três minutos, retirando muitos passageiros aos autocarros que servem a zona do Monte da Virgem, mas o aumento de frequências terá consequências para o já caótico trânsito rodoviário.

Santo Ovídio e D. João II aguardam ainda um plano urbanístico do arquiteto catalão Joan Busquets, à boleia da nova estação de comboios de alta velocidade a instalar no local.

A Lusa enviou questões à Câmara de Gaia sobre os problemas de mobilidade na Avenida da República e melhorias esperadas no futuro e aguarda resposta.

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