Um ano a levar a “fórmula do Porto” a todo o país. Fernando Araújo é o “messias” da grande revolução do SNS?
Henrique Ferreira
“Uma personalidade bem conhecida de todos os portugueses e um profissional de méritos conhecidos”. Foi assim que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, apresentou, há precisamente um ano, o responsável pela recém-criada Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde. Fernando Araújo foi nomeado a 23 de setembro de 2022 para “melhorar a articulação entre o Governo e as instituições de saúde”.
Fernando Araújo era, desde abril de 2019, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. Foi também secretário de Estado Adjunto da Saúde, cargo que deixou em 2018, após uma remodelação governamental no executivo de António Costa, que ditou a saída do então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes.
Fernando Araújo foi presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João entre 2019 e 2022
Quando se começou a falar na criação da Direção Executiva do SNS, ainda com Marta Temido na pasta da saúde, o médico do Porto foi automaticamente apontado como um dos nomes possíveis para ficar à frente da estrutura. O convite terá sido formalizado pouco depois pelo primeiro-ministro que, à data admitia que o país tinha muito a aprender com o Norte na gestão dos hospitais e das unidades de saúde.
Segundo um estudo da Coimbra Business School, os hospitais do Grande Porto são os que apresentam maior capacidade de prestação de serviços e os que tiram melhor partido dos recursos disponíveis. Ao mesmo tempo, segundo um relatório do Tribunal de Contas, mais de dois terços dos hospitais públicos acumularam prejuízos operacionais e estão “fortemente descapitalizados”.
Em sentido oposto, o Hospital de São João apresentou em 2020 resultados muito superiores a outros hospitais do país em eficiência. Os bons resultados, aliados à menor despesa, levou a que fosse distinguido como o hospital mais eficiente dentro dos hospitais universitários, o que quer dizer que é o que gasta menos por cada doente tratado.
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Fernando Araújo impôs, por isso, algumas condições para aceitar o cargo, nomeadamente a instalação da sede da nova estrutura na cidade do Porto. Atualmente, o núcleo duro da Direção Executiva do SNS trabalha nas antigas instalações do Hospital Pediátrico do São João. Alguns membros exercem depois funções a partir do Parque da Saúde, em Lisboa.
O “messias” para a grande revolução da saúde
Ao longo do último ano, Fernando Araújo enfrentou greves dos profissionais de saúde, o encerramento de vários serviços de urgência e a falta de médicos para assegurar escalas. Mas manteve-se sempre recatado, deixando a maioria das reações públicas para o ministro da Saúde.
No entanto, no início do mandato deu várias entrevistas. Assumia a criação da Direção Executiva do SNS como a “grande revolução da saúde” e lançava novidades. Ao Porto Canal, garantia, por exemplo, que todas as maternidades do Norte do país iam continuar de portas abertas. Ou seja, que os blocos de parto da Póvoa de Varzim e de Famalicão não iriam encerrar, ao contrário do que estava previsto na proposta da comissão de acompanhamento das urgências de obstetrícia.
Araújo quer SNS “mais ágil e flexível”
O Serviço Nacional de Saúde celebrou recentemente o 44º aniversário. Na ocasião, Fernando Araújo explicou que a sustentabilidade do SNS, através de uma estrutura “mais ágil e flexível”, acesso aos cuidados e recursos humanos, são os três grandes desafios do novo cargo.
“E a verdade é que, com os profissionais que temos, que são excelentes, poderemos com estratégia, com uma nova visão do ponto de vista gestionário, adaptar o SNS e mantê-lo entre os melhores que temos do ponto de vista europeu. É isso que estamos a tentar fazer, dar-lhe um novo ânimo, uma nova visão, uma nova estratégia, mas para obter os mesmos resultados, resposta acessível a todos os portugueses”, declarou.
A luta do Governo com os sindicatos
Sobre a falta de consenso nas negociações do Ministério da Saúde com os sindicatos e as dificuldades que têm gerado, nomeadamente as greves dos médicos e dos farmacêuticos, Fernando Araújo reconhece que “não tem sido fácil”.
“Pensávamos que eventualmente até junho podia ter sido conseguido esse acordo com os sindicatos. Não foi possível, o diálogo neste momento continua, e continuamos com a expectativa favorável que o mesmo chegue a bom termo”, afirmou o médico do Porto, há pouco mais de uma semana.
SNS distinguiu profissionais de saúde com… “um troféu personalizado”
Recentemente, o SNS esteve envolto em polémica pela distinção de profissionais de saúde através da atribuição de um "troféu personalizado".
“É importante que quem se dedica, quem se esforça e quem, ao longo do ano, tem uma cultura de compromisso possa ver no final algum desse reconhecimento”, realçou Fernando Araújo.
Questionado sobre se os prémios poderão ser uma forma de atrair novos profissionais para o SNS, o dirigente explicou que “a questão dos vencimentos cada vez mais não é suficiente para cativar”.
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