Américo Aguiar quer "tolerância zero" na igreja e na sociedade para abusos sexuais
Porto Canal/Agências
O novo bispo de Setúbal defendeu esta quinta-feira que tem de haver "tolerância zero" por parte da Igreja Católica e da sociedade para com os abusos sexuais e "fazer de tudo" para que as vítimas sejam "acolhidas e acompanhadas".
"A tolerância é mesmo e tem que ser mesmo zero. Tem que ser para a Igreja e tem que ser para toda a sociedade", assumiu Américo Aguiar em declarações aos jornalistas no Paço Episcopal do Porto onde, esta manhã, anunciou ter sido nomeado bispo de Setúbal.
O até agora bispo auxiliar de Lisboa entendeu que continuam a acontecer "demasiados casos de abusos sexuais" em Portugal, o que significa que ainda não se fez tudo para a tolerância zero.
"Ainda há corações e mentes que, porventura, por doença ou por maldade, continuam a não se converter", vincou.
Em matéria de abusos sexuais, Américo Aguiar disse que a Igreja Católica fez o seu trabalho "mais ou menos de boa vontade e de sorriso aberto" com sofrimento e dificuldades.
Mas, acrescentou, o sofrimento e as dificuldades que a Igreja Católica vive não se comparam com o sofrimento de uma vítima que seja.
"E, portanto, nada de confundir cenários. Nós temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os e as corajosas que tiveram a heroicidade de abrir o seu coração e partilhar esses momentos negros das suas vidas se sintam acolhidas, protegidas, amadas, cuidadas e acompanhadas", frisou.
Assumindo que o caminho "continua a fazer-se", referiu que o lugar da vítima em 2019 "não é exatamente o lugar da vítima hoje".
Dado que, ressalvou, o lugar da vítima hoje é de "prioridade e de importância total".
Segundo Américo Aguiar é necessário continuar a investir na prevenção destas situações e tratar as que existem do passado e aquelas que, infelizmente, surjam.
O Grupo VITA recebeu 48 denúncias de abusos sexuais contra crianças e adultos vulneráveis no seio da Igreja Católica portuguesa durante os primeiros três meses de funcionamento, revelou, no final de agosto, a coordenadora da plataforma.
Criado em abril, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica, numa lógica de intervenção sistémica.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.