Ramalde e Campanhã sofrem com a ‘limpeza’ da Pasteleira

Foto: Pedro Gabriel Soares | Porto Canal
| Porto
Pedro Benjamim

Passaram dois meses da megaoperação da Polícia de Segurança Pública (PSP) nos bairros da Pasteleira Nova e Velha, que levou à detenção de 15 pessoas e apreensão de 62 mil doses de droga (cerca de 11kg de estupefacientes), com um valor de mercado estimado de um milhão de euros. Aquele que era o principal centro de tráfico de droga da cidade já não vive dias de abundância, mas o comércio de droga viajou para outros bairros do Porto.

A venda foca-se agora nas freguesias de Ramalde e de Campanhã, bairros que não eram estranhos a esta realidade, mas há diferenças já que as drogas que passam por aquelas geografias são agora mais ‘pesadas’.

Ouvido pelo Porto Canal, o presidente da associação Consumidores Associados Sobrevivem Organizados (CASO), Rui Coimbra, aponta que a ‘limpeza’ feita na Pasteleira não resolve o problema.

Já deveria ser uma coisa adquirida que não funcionam estas intervenções apenas de limpeza, ou apenas policiais, quando estamos a falar de problemas sociais. Estamos a falar de pessoas completamente na miséria, sem qualquer apoio, retaguarda familiar. Pessoas que vivem em condições muito más, na rua. Não existem abrigos adequados a esta população, mesmo que se diga que o Joaquim Urbano [Centro de Acolhimento Temporário do Porto orientado para consumidores] serve para tudo, é verdade que é um excelente abrigo, com muito boas condições, mas não serve para toda a gente”, afirma.

Na terça-feira, o ministro da Administração Interna falou aos jornalistas lembrando que "quando se destruíram os bairros de São João de Deus, tinha-se a convicção que desaparecia o problema do tráfico de droga desses bairros. Depois destruiu-se o bairro do Aleixo, e também se julgou que se destruía o problema do bairro do Aleixo e da droga". Nas declarações o ministro afirmou "não haver soluções céleres" para o problema.

Limpezas penalizam os mais fracos

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Os consumidores de rua, aqueles mais expostos aos problemas, deixaram a Pasteleira e migraram para zonas onde o tráfico acontece com mais intensidade. Bairros do Cerco e Lagarteiro, em Campanhã, e também bairros do Viso, Ramalde do Meio, Campinas e Francos, em Ramalde.

“As compras maiores, as compras para consumidores traficantes, essas continuam a acontecer. Este tipo de medidas penaliza sempre os mais frágeis. Quem é que consome na rua? Quem não tem casa para consumir, quem não tem carro para consumir. Quem tiver a sua casa, o seu conforto, ou o carro, que é mais recatado, não vai andar a consumir na rua. Consomem nas ruas os mais fragilizados”, diz Rui Coimbra.

O sentimento de segurança em alguns dos bairros de Ramalde tem-se esfumado nos últimos tempos. Assaltos a carros, vidros partidos, roubo de metais em domicílios e também em espaço público são problemas vividos com maior frequência. As queixas têm chegado à Junta de Freguesia, tendo a presidente Patrícia Rapazote contactado o ministério da Administração Interna na procura de soluções. “Já enviámos atempadamente um ofício para o Sr. Ministro a pedir uma reunião com carácter de urgência uma vez que sentimos que as pessoas têm medo e nesse sentido precisamos de mais policiamento de forma a que seja devolvida à população a sensação de segurança”.

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Patrícia Rapazote, presidente da Junta de Freguesia de Ramalde

As preocupações da presidente da Junta de Freguesia de Ramalde são partilhadas pelo congénere de Campanhã. Paulo Ribeiro, que lidera a Junta, relata a mesma situação. “Nas primeiras 48 horas após a intervenção da polícia na Pasteleira notou-se na freguesia um aumento de toxicodependentes”, diz ao Porto Canal. O presidente da Junta diz, no entanto, que não teve relatos de violência por parte dos consumidores.

Também Paulo Ribeiro enviou uma carta ao ministério da Administração Interna há cerca de “duas a três semanas”. Contudo, quer um, quer a outra, não receberam ainda qualquer respostas por parte da pasta liderada por José Luís Carneiro.

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Paulo Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã

Além dos relatos de um aumento de roubos em Campanhã e do pedido de um policiamento mais intensivo, Paulo Ribeiro está preocupado com a realidade nas escolas. “Há pais a dizer que se calhar vão tirar os filhos aqui das escolas e colocá-los noutro lado. Nós temos um agrupamento das escolas do Cerco que é um exemplo no país e queremos continuar a ter coisas boas cá na freguesia”, refere.

A nova vida na Pasteleira e área envolvente

Uma moradora do bairro das Condominhas, nas imediações da Pasteleira, disse ao Porto Canal que a intervenção da polícia mudou o bairro “para melhor”. “Já não há tanta gente a comprar. Havia muitos assaltos, agora não há. Está tudo mais sossegado. Oxalá que nunca saia a polícia”, desabafa.

Uma outra moradora de um bairro das imediações da Pasteleira diz ao Porto Canal que “tinha medo de ir lá abaixo [à Pasteleira]”. “Se a polícia sai, volta tudo ao antigamente”, afirmando que “agora está mais calmo”, devido à presença policial.

A ação da PSP

Hoje em dia o bairro da Pasteleira vive com policiamento permanente e de visibilidade. Viaturas e agentes estão 24 horas por dia junto aos edifícios do bairro.

Dados do Comando Metropolitano do Porto da PSP enviados ao Porto Canal, relativos a ações realizadas desde o início do ano apontam que, nos bairros da Pasteleira Nova e Pinheiro Torres, “289 detenções”, sendo “217 por tráfico de estupefacientes”.

Nas ações policiais foram também “apreendidas mais de 100.000 doses de estupefacientes”, nomeadamente mais de 48 mil doses de cocaína e mais de 43 mil doses de heroína.

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