O Jornal de Notícias (JN) e outros títulos do grupo Global Media, como a TSF ou O JOGO, vão abandonar a sede histórica na Rua de Gonçalo Cristóvão ainda antes do verão. O novo local de trabalho do único jornal generalista sediado no Porto está escolhido: Rua do Monte dos Burgos, 470.

A saída da conhecida “Torre JN” tem sofrido avanços e recuos nos últimos anos. O prédio foi vendido no início de 2019 a uma sociedade chinesa relacionada com o empresário macaense Kevin Ho, detentor de 30% da Global Media. Na altura, segundo a revista Sábado, a venda da torre terá valido nove milhões e 500 mil euros.

Uns meses depois, esta sociedade acordou um projeto de construção de um hotel com o grupo Marriott, num plano de investimento de 35 a 40 milhões de euros para se criarem 213 quartos “de luxo”, com alusões históricas ao jornalismo e à atividade do JN. De nome “Hotel Journal”, o alojamento entraria na gama “Autograph Collection by Marriott”.

^{Edifício histórico do JN foi construído na década de 60. São 17 pisos, num formato de torre assente em andares reforçados para o trabalho das rotativas do jonal}

Mas a escolha de um novo local de trabalho para os profissionais da Global Media não tem sido linear: a primeira hipótese para a nova redação do JN, TSF, O JOGO e Dinheiro Vivo foi na Rua Latino Coelho, a um quilómetro da Torre JN, na “Garagem da Fiat”, um edifício devoluto que serviu de concessionário de automóveis durante décadas.

A saída dos jornalistas planeada para 2019 não aconteceu, um novo prazo para final de 2021 também não foi respeitado, e a ideia da Latino Coelho foi eventualmente abandonada.

Nova sede na Prelada

Com o processo de transição para a “Garagem da Fiat” finalmente de lado, a Global Media virou-se para a zona da Prelada. Confirmado pelo Porto Canal, o novo edifício-sede está escolhido. Estão a ser equipados dois pisos no número 470 na Rua do Monte dos Burgos, ao lado da VCI e logo após a estação de serviço da Repsol. O imóvel não pertence à Global Media, mas existe um contrato de arrendamento.

^{JN vai ocupar dois pisos deste edifício da Prelada, na Rua do Monte dos Burgos. Mudança deve ser finalizada antes do verão}

Segundo fontes do JN ouvidas pelo Porto Canal, o objetivo é que a mudança aconteça até 30 de abril, com o processo de transferência de equipamento e preparação do espaço já a decorrer. Caso haja atrasos, o prazo final é o primeiro semestre do ano, com ideias fixas de mudanças antes do verão.

Contactada pelo Porto Canal, a atual diretor do JN, Inês Cardoso, recusou comentar por “não se tratarem de questões editoriais, mas sim de gestão” e reencaminhou qualquer pergunta à administração do jornal. O Porto Canal não conseguiu entrar em contacto com Domingos Andrade, diretor-geral e administrador da Global Media.

Trabalhadores insatisfeitos com mudança

A mudança de instalações do centro do Porto provoca, desde 2019, tensão entre jornalistas e colaboradores dos órgãos de comunicação detidos pela Global Media. Entre queixas e críticas ouvidas pelo Porto Canal, destacam-se a falta de transportes diretos para a Rua de Monte dos Burgos e lugares limitados de estacionamento, espaço insuficiente para todos os profissionais dos vários jornais e deslocalização do centro da cidade.

A Global Media tem passado por várias reestruturações desde 2014, com processos de despedimentos coletivos e medidas de contenção de custos. No verão do ano passado, foi aberto outro processo de rescisões amigáveis em praticamente todos os jornais do grupo.

 

 

 

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Torre JN histórica, mas pouco cuidada

A sede do JN na Rua de Gonçalo Cristóvão é um dos marcos da cidade, definindo o topo norte da Trindade e destacando o processo urbanístico de “terceirização” do Porto na década de 60 do século XX.

Edifício projetado por Márcio Freitas para o trabalho jornalístico, com uma torre de escritórios por cima de um pódio desenhado especificamente para as máquinas de impressão do Jornal de Notícias, apresenta ainda um mural de Charters de Almeida virado para o viaduto da Gonçalo Cristóvão. Vários dos 17 pisos da torre estão devolutos, com vidros partidos e áreas sem acesso.

O JN mantém-se como último símbolo vivo do jornalismo impresso portuense e como “jornal resistente” fora de Lisboa, depois do desaparecimento dos generalistas Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro, já no século XXI.