UNIR. Alguns motoristas "não estão minimamente preparados", reconhece diretor dos Transportes Beira Douro
Fábio Lopes
A nova rede de autocarros da Área Metropolitana do Porto, UNIR, entrou ao serviço na passada sexta-feira, 1 de dezembro, depois de um concurso público lançado em 2020. O arranque das operações tem sido, no entanto, alvo de muitas críticas e desconfianças.
Escassez de informação, falhas no serviço e milhares de utilizadores deixados apeados refletem as dificuldades de um processo marcado por avanços e recuos.
Com a instalação da nova rede, a UNIR passou a utilizar quatro dígitos para identificar as linhas, seguindo uma lógica de atribuição por concelho, e deveria contar com autocarros azuis, brancos e pretos em toda a AMP. Contudo, este não é um cenário que se verifica, estando ainda por concretizar uma uniformização integral das viaturas em circulação.
Como o Porto Canal havia noticiado, uma publicação que está a circular nas redes sociais denuncia mensagens em sueco em alguns autocarros importados em segunda mão, que estão ao serviço da UNIR.
Autocarro da UNIR com informação ainda em sueco...
— Ran©️uca | Fighting idiotologies! (@rancuca84) December 5, 2023
Uma nova empresa de transportes, que foi adquirir autocarros poluentes e já usados no estrangeiro...
Uma vergonha... pic.twitter.com/NgUIxZYhQn
“Pintar 215 autocarros é uma aventura”
No caso tratam-se de veículos dos Transportes Beira Douro (da Autoviação Feirense), responsáveis pelo lote 4 (Sul Poente - Vila Nova de Gaia, Espinho).
Na opinião de Gabriel Couto, diretor-geral da empresa, a existência de viaturas descaracterizadas deve-se ao “curto tempo de transição” para finalizar todas as alterações necessárias.
“Neste caso tivemos 7 meses e pintar, no nosso caso, 215 autocarros é uma aventura”, realçou o representante, acrescentando que “os fornecedores de pintura estão todos cheios de trabalho, porque todos nós já fomos bater às portas e não houve capacidade técnica de mudar as cores dos autocarros todos”.
Gabriel Couto frisa que uma das partes mais morosas de todo o processo é a fase de matriculação das novas viaturas, tecendo críticas ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).
“Temos 20 milhões de euros de investimento para pôr na estrada”
“Os autocarros que vieram novos, com 0 km’s, temos muitos que ainda não têm matrícula, ou seja, nós, neste momento, ainda temos 20 milhões de euros de investimento para pôr na estrada”, defendeu, referindo que a nova frota é composta por cerca de 40 autocarros elétricos, sendo que 36 deles ainda não estão em circulação.
“A relação com o IMT é um mistério, porque os autocarros são todos iguais, foram submetidos todos no mesmo dia, e enquanto para alguns saiu a matrícula há uma semana, quanto aos restantes não sabemos de nada. Vamos sendo surpreendidos com a forma como o IMT põe cá fora os licenciamentos, as matrículas, nós não temos qualquer controlo sobre isso”, frisou o representante.
Na ótica de Gabriel Couto, o tumultuoso arranque das operações da UNIR justifica-se com a complexidade e rapidez do processo e com a escassez de preparação dos motoristas.
“Os motoristas foram transferidos do dia 30 de algumas empresas incumbentes para as empresas da UNIR no dia 1. Mesmo que dessem três anos para fazermos a transferência, a transferência era feita no último dia. Esses motoristas não estão minimamente preparados, não tiveram nenhum tipo de formação”, rematou o diretor-geral dos Transportes Beira Douro, dando nota de um dado, no mínimo, curioso.
“Nós já temos mais de 30 autocarros batidos, aqui nos parques de estacionamento. É o facto de nós, no dia 30, desativarmos uma frota e no dia 1 ativarmos uma frota. Nós tivemos que juntar os autocarros todos em alguns sítios e esses locais não estavam preparados para receber tantas viaturas ao mesmo tempo”, rematou Gabriel Couto.
UNIR "em pleno" só em 2024
O presidente da Área Metropolitana do Porto (AMP), Eduardo Vítor Rodrigues, admitiu esta quarta-feira à Lusa que o arranque "em pleno" da Unir, nova rede de autocarros da região, possa acontecer apenas no início do próximo ano.
Questionado sobre se o arranque tumultuoso da nova rede Unir pode ter sido uma má propaganda ao transporte público, e se conseguirá recuperar as pessoas afetadas pelas falhas, considerou que "da maneira que o serviço estava, é impossível ir para pior".
"Eu acho que volvidos estes dias de ajustamento e de adaptação as coisas tendem a melhorar, e nós vamos é conquistar gente para o transporte público", vaticinou.
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