Lítio de fora dos motivos que conduziram a detenções e arguidos da Operação Influencer
Henrique Ferreira
A concessão da exploração de lítio em Montalegre e o negócio com a empresa Lusorecursos não fazem parte do despacho de indiciação do Ministério Público em relação aos nove arguidos da Operação Influencer, onde se inclui o ministro das Infraestruturas João Galamba. Em causa está a abertura de novos processos com casos relativos aos negócios do lítio e hidrogénio verde, que deverão fazer novos arguidos.
No documento, que o Porto Canal consultou na íntegra, não há qualquer menção ao esquema que permitiu à empresa assinar com o Estado um contrato para a exploração de lítio por 20 anos (com a possibilidade de renovação por mais 15) e que previa um negócio potencial de cerca de 380 milhões de euros.
A explicação está no facto de a indiciação em causa estar circunscrita às matérias que o Ministério Público entende como relevantes para a aplicação das medidas de coação aos cinco arguidos que foram detidos na terça-feira.
No entender da justiça, o inquérito pode até versar sobre outras matérias, como é o caso do negócio da exploração de lítio, mas se os factos forem irrelevantes ou não imprescindíveis para as decisões mais urgentes, é normal que os procuradores não lhes façam menção nos autos de indiciação.
Apesar disso, os dois principais visados no ‘caso lítio’, João Galamba e Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente, são já largamente mencionados no despacho, até porque estão também envolvidos no alegado favorecimento do Governo à Star Campus no projeto do Data Center de Sines.
A ausência dos factos relacionados com os negócios do lítio e da exploração em Montalegre, no distrito de Vila Real, indicia que o Ministério Público está a a preparar uma futura investida contra Galamba e Matos Fernandes.
O processo será assim dividido em partes, uma relacionada com o negócio da Start Campus e outra para aprofundar as suspeitas relacionadas com a extração de lítio e do hidrogénio verde.
Segundo a edição desta sexta-feira do semanário Expresso, tanto o ex-ministro Matos Fernandes, como Duarte Cordeiro, que detém agora a pasta do ambiente, podem ainda vir a ser constituídos arguidos no âmbito deste caso. O mesmo pode vir também a acontecer com outros governantes, ex-governantes, autarcas e empresários que surgem como pessoas de interesse da investigação.