Avenida da Ponte: Para se transformar a Sé é preciso “vontade política”, afirma antigo vereador do urbanismo

Avenida da Ponte: Para se transformar a Sé é preciso “vontade política”, afirma antigo vereador do urbanismo
| Porto
Ana Francisca Gomes

Manuel Correia Fernandes, vereador com o pelouro do Urbanismo na Câmara do Porto durante o primeiro mandato de Rui Moreira, eleito pelas listas do Partido Socialista, lamenta que se tenham colecionado projetos para a revitalização da Sé. Para o arquiteto, há verbas para se transformar e reabilitar esta área deprimida da cidade, mas é preciso que haja “vontade política”. Correia Fernandes considera preocupante a ausência de ideias para o que vai acontecer nesta zona da cidade na versão mais recente do Plano Diretor Municipal (PDM).

O recente encerramento do Mercado de São Sebastião, a decisão da Câmara do Porto de avançar para a demolição, a abertura de uma nova residência de estudantes e ainda a migração do consumo e tráfico de droga tem feito com que as atenções estejam novamente postas na freguesia da Sé. O que é que vai acontecer a uma das zonas mais deprimidas e esquecidas do Centro Histórico?

Em entrevista ao Porto Canal, Manuel Correia Fernandes alerta para a necessidade de haver um projeto que pense aquela área como um todo. “Houve vários projetos e como cada um deles se foi transformando em não-exequível - por qualquer razão, seja política ou económica - nós hoje colecionamos projetos para a Avenida da Ponte”.

Porto Canal

A história dos últimos 80 anos da freguesia da Sé pode ser escrita pelo prisma das demolições. As primeiras foram ordenadas pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) no final dos anos 30 e arrasaram as casas em torno da catedral, para “limpar” a paisagem em seu redor, num movimento patrimonialista próprio daquele tempo. Também em 1948 começou a demolição de uma parte significativa para abrir uma ligação que permitisse a circulação rápida de automóveis entre os automóveis que chegavam da Ponte Luiz I, então principal porta de entrada rodoviária da cidade, até aos Aliados. Nascia assim a Avenida Dom Afonso Henriques, também conhecida como Avenida da Ponte.

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Para resolver as crateras deixadas abertas por estas demolições, que deixaram partes sem qualquer edificado, foram-se pensando planos para o problema da Avenida da Ponte. E muitos nomes foram surgindo e redesenhando este pedaço de cidade, como Fernando Távora. O trabalho mais conhecido, contudo, é o do arquiteto Álvaro Siza, que em 1968 completou um primeiro plano para a avenida, que depois voltou a desenvolver em 2000, no encalço da Porto 2001. Ambos os planos nunca chegaram a sair da gaveta e a Sé tornou-se, paradoxalmente, um dos lugares mais visitados pelo turismo que entretanto transformou a cidade e, ao mesmo tempo, um dos mais esquecidos e marginais para os habitantes.

E este é um problema que anda de mãos dadas com a crise demográfica que afeta o país e do qual o Porto não é exceção. De acordo com os dados dos censos de 2021, a cidade perdeu 2,4% da sua população, tendo passado de 237.591 residentes em 2011 para 231.962 em 2021. Tal queda repsenta uma diminuição de 5.629 habitantes.

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“Os projetos até existem, mas não foram executados. Houve a demolição e ficou a ferida. Aquilo é um rasgão e um rasgão é uma ferida que continua aberta. E de facto continua aberta porque aquilo que está ali não faz sentido nenhum em nada”, lamenta o antigo vereador eleito pelo Partido Socialista e que, juntamente com Manuel Pizarro, entregou os pelouro em 2017.

Mas o que falhou? Porque é que nunca nenhum plano foi posto em prática?

“Todos os projetos são passíveis de serem levados para a frente, mas precisam de duas coisas: vontade política e capacidade técnica. Capacidade técnica pelo menos ao nível do planeamento. Ou seja, as intervenções em qualquer zona do mundo precisam de um programa. (...) Um arquiteto urbanista tem ideias próprias, que transporta, mas a decisão programática é uma decisão política”.

Para o arquiteto, o que falta é haver um plano do que se fazer ali - “se uma escola, um jardim, um parque estacionamento, ou tudo junto e ao mesmo tempo” e haver um projetista designado pela Câmara Municipal. Depois, o resto vai acontecendo, até porque, diz, “há verbas”. “Mas só existem verbas se houver intenção política. Neste quadro, nós chegamos ao dia de hoje sem programa, sem indicação do autor do projeto e sem vontade política da câmara.”

O facto de não haver na versão mais recente do Plano Diretor Municipal (PDM) do Porto uma ideia do que vai acontecer nesta zona da cidade é algo que preocupa Correia Fernandes. “E, não havendo plano – podem deitar abaixo o Mercado de São Sebastião, podem fazer um novo – mas sem o plano, ele vai ser uma espécie de disco voador: vai aterrar ali num contexto que não sabe muito bem, é desconhecido. E a responsabilidade é dos órgãos do governo da cidade.”

 
 
 
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