Rui Moreira arrasa Metro do Porto por atrasos nas obras e apela ao Governo
Porto Canal
Rui Moreira vai pedir ao Governo uma “avaliação urgente” do estado das obras do metro. Numa proposta assinada pelo presidente da Câmara a submeter a votação na próxima reunião do executivo municipal, o autarca atira à Metro do Porto e denuncia problemas e atrasos nas várias frentes de obra da cidade. No texto, a que o Porto Canal teve acesso, pode ler-se que estão em causa “questões básicas de segurança” e “falta de transparência” que assume “foros de escândalo.” Construção da Linha Rubi não será autorizada até que obras em curso estejam terminadas.
As recomendações são do executivo municipal e serão levadas a votação na próxima reunião de câmara, agendada para segunda-feira. O texto, assinado por Rui Moreira, enumera “atrasos”, “deficiente planeamento” e os “problemas de segurança” que têm afetado as várias frentes de obra e que preocupam o executivo municipal.
No documento, a que o Porto Canal teve acesso, pode ler-se que as obras em curso, “quer na linha Rosa quer da linha de BRT não cumprem os calendários, não são sinalizadas devidamente e não acautelam questões básicas de segurança”. Assim, o município diz ser necessário “um incremento imediato da qualidade para minimizar o impacto sobre aqueles que vivem ou trabalham na cidade do Porto”.
O município acusa ainda a empresa de “falta de transparência, patente em casos extremos como as obras na Avenida Marechal Gomes da Costa ou na Rua Mouzinho da Silveira” que, escreve a autarquia, “assumem foros de escândalo”.
Uma vez que, conclui a proposta de Rui Moreira, “não há um esforço consequente no sentido de melhorar as condições das inúmeras frentes de obra”, a Câmara Municipal do Porto vai solicitar ao Governo “que proceda a uma urgente avaliação do estado das obras em curso, e a uma auditoria sobre a fiscalização e alterações de projeto verificadas das mesmas e sobre as medidas de segurança nas várias frentes de obra”.
Se a proposta for aprovada, a autarquia informará “o Governo e a Metro do Porto que não concederá quaisquer licenças para qualquer obra da linha Rubi que provoque alteração ou novos constrangimentos na mobilidade e nos métodos de transporte público existente, até que as obras da linha Rubi e da BRT estejam concluídas, ou permitam os normais fluxos de mobilidade”.
Moreira fala em “situação catastrófica”
Na última Assembleia Municipal, a 30 de outubro, Rui Moreira já tinha apontado à Metro do Porto ao criticar os sucessivos atrasos nas obras efetuadas pela empresa na cidade.
O autarca do Porto voltou a reforçar que o Porto não tem capacidade para aguentar mais frentes de obra e que a cidade não pode ser “um campo para se fazer experimentalismos”. “Se quiserem, acabam primeiro a linha rosa, fazem o metrobus. E quando fizerem isso, o meu sucessor (que já não serei eu) há-de passar uma licença para fazerem as obras para a linha rubi. Se não houver PRR? Não há PRR. Se não houver ponte? Não há ponte. O que não podemos é ter linhas e não ter pessoas. A situação agora é catastrófica.”
Histórico de polémicas entre Câmara e Metro
Este é apenas mais um episódio das polémicas entre a Câmara do Porto e a Metro, sendo já antiga a polémica entre Rui Moreira e a empresa. Tiago Braga, presidente do conselho de administração da Metro, esteve já presente numa Assembleia Municipal e numa reunião de Câmara para junto dos eleitos apresentar pontos de situação do estado da empreitada.
Em novembro de 2022, Moreira visou a empresa através de uma carta sobre os “excessivos atrasos” das obras da linha Rosa. O presidente da Câmara do Porto mostrou-se então preocupado com o "impacto profundamente negativo" da construção da nova linha, que, segundo ou autarca, apresentava já "excessivos atrasos" em "praticamente todas as frentes", segundo o ofício enviado à empresa.
Tiago Braga, presidente da Metro do Porto, respondeu também por escrito e recordou os vários fatores que impactaram no calendário da empreitada - arqueologia, pandemia e guerra na Ucrânia -, tendo ainda assumido compromissos com um novo programa (Plano de Trabalhos Modificado).
Na sequência das inundações causas pelas obras do metro na Avenida dos Aliados, Praça da Liberdade e Rua Mouzinho da Silveira, em janeiro, o verniz estalou entre a autarquia e a empresa. Um relatório do LNEC, divulgado em agosto, viria a imputar as responsabilidades à empresa, que incorporou as recomendações daquele organismo.
“Fantasma” da Porto 2001 assombra cidade
No texto da proposta assinada por Rui Moreira, uma referência à Porto 2001 traz à memória um dos períodos mais conturbados da cidade. É sob esse desígnio que a autarquia não quer ver repetido um passado marcado pelo caos provocado por várias frentes de obra em simultâneo na cidade. “Considerando a realidade existente, a cidade não aguente a abertura de novas frentes de obra que tenham impacto na já tão fustigada mobilidade. Sob pena de termos um impacto terrível numa cidade que ainda não esqueceu o impacto a médio e longo prazo das obras da Porto 2001”, pode ler-se no documento.