Obras do metro do Porto agravaram cheias de janeiro em 44%. Este e outros destaques do relatório do LNEC que demorou oito meses a chegar
Henrique Ferreira
As obras de construção da nova linha rosa fizeram com que “a área urbana afetada com gravidade média a elevada” pelas cheias do dia 7 de janeiro, no Porto, aumentasse “cerca de 44%”. Esta é uma das conclusões do relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil encomendado pela Metro do Porto, a que o Porto Canal teve acesso.
O documento em causa explica, no entanto, que o valor “poderia ter sido superior se não fosse o efeito de retenção de volumes proporcionado pelo estaleiro da obra e pela utilização da passagem inferior pedonal como bacia de retenção”.
Segundo o relatório, os engenheiros do LNEC concluíram ainda que “teria existido inundação relevante na zona de interesse”, ou seja, nas ruas Mouzinho da Silveira e das Flores, “mesmo que não estivessem a decorrer as obras em análise”.
Zona adjacente à Estação de São Bento foi uma das mais afetadas pela chuva forte
Apesar disso, verificou-se “que as alterações à rede de drenagem e à superfície urbana alteraram as condições de escoamento, ocorrendo, em alguns locais, agravamento da inundação", pode ler-se no relatório.
Para o LNEC, a “perturbação na mobilidade e nas atividades económicas” foram as consequências de “maior gravidade” para a cidade do Porto depois das inundações de janeiro.
As recomendações do LNEC
No relatório, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, deixa várias recomendações à Metro do Porto para evitar situações semelhantes no futuro. Segundo os investigadores, a empresa deve melhorar “a circulação da água no espaço urbano” e reconhecer “a relevância da integração dessa preocupação na atuação diária”.
O LNEC sugere que “os materiais depositados ou soltos no estaleiro sejam contidos por forma a evitar o seu arrastamento” e que se desobstruam as sarjetas e sumidouros.
Além disso, “em locais com uma ocupação vasta da superfície por fronteiras fixas” devem ser “utilizados tapumes que permitam a passagem de água” ou criados “desvios para locais que permitam a acumulação temporária de água em excesso”.
Por fim, o LNEC recomenda que "os acessos às estações de metro sejam sobrelevados em relação à superfície circundante e que o alinhamento da entrada não coincida com o sentido predominante do escoamento à superfície.
Estação de metro de São Bento, no Porto, no dia 7 de janeiro de 2023
Ao Porto Canal, fonte oficial da Metro do Porto garante que a empresa “já incorporou as recomendações” em causa na empreitada de construção da nova linha rosa, “tendo como prioridade absoluta e inegociável a segurança na execução dos seus projetos”.
Mais de 150 pedidos de ajuda em apenas duas horas
A chuva forte do dia 7 de janeiro de 2023 provocou o caos na cidade do Porto. De acordo com fonte da Proteção Civil local, o concelho registou, em menos de duas horas, mais de 150 pedidos de ajuda.
As zonas mais afetadas foram a baixa da cidade, com as imediações da Estação de São Bento completamente alagadas pela chuva.
Também o Bairro dos Moinhos, nas Fontaínhas, foi muito afetado. Nesta zona, a força da precipitação levou a grandes inundações nas casas, com a água a arrancar portas e janelas.
Este evento meteorológico resultou, segundo o estudo do LNEC, num “fenómeno de precipitação localizado, no tempo e no espaço, com período de retorno compreendido entre 20 a 50 anos.
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