Administradores da era Salgado desconheciam veículos com dívida do grupo

| Economia
Porto Canal / Agências

Lisboa, 31 jul (Lusa) -- Os membros do Conselho de Administração que se mantiveram após a saída de Ricardo Salgado garantem que desconheciam que existiam transações com dívida do grupo BES através de veículos que não estavam nas contas.

"Os atuais membros do Conselho de Administração que estavam em funções à data de 30 de junho desconheciam as transações realizadas através de intermediários financeiros (...), bem como a constituição, desenho e funcionamento daqueles SPE [veículos], bem como [a existência] de um 4.º veículo cujo valor dos ativos deverá rondar os 77 milhões de euros", lê-se na documentação hoje divulgada.

As contas semestrais do BES hoje conhecidas, que reportaram prejuízos de quase 3,6 mil milhões de euros, revelam que em julho foram identificados três veículos "fundamentalmente constituídos pelas obrigações emitidas pelo Grupo" BES e que esses foram integrados nas contas consolidadas, tal como obrigam as normas internacionais.

O banco refere que a consolidação desses três veículos resultou numa "perda adicional de 44 milhões de euros". Além disso, constituiu uma provisão para um quarto veículo, sobre o qual diz que não se conhece qualquer informação.

No total, a perda conjunta é de 121 milhões de euros, referem as contas semestrais.

Ainda sobre a dívida emitida pelo grupo, o documento divulgado na quarta-feira à noite diz que, este ano, o banco fez emissões de obrigações a desconto que foram adquiridas por clientes do retalho. E refere que, tendo em conta que "foram criadas expectativas de liquidez que podem levar o grupo a proceder à compra de parte das mesmas aos clientes", que foi feito um ajustamento no valor das emissões, com um prejuízo de 767 milhões de euros.

Esta noite, após serem conhecidos os prejuízos históricos do BES, o Banco de Portugal emitiu um comunicado com várias determinações, entre elas a suspensão "com efeitos imediatos" dos administradores do BES responsáveis pela auditoria, compliance e gestão do risco, bem como dos titulares do órgão de fiscalização", devido aos "indícios da prática de atos prejudiciais aos interesses do BES".

Joaquim Goes era responsável pela área de risco, António Souto pelo departamento de 'compliance' e Rui Silveira pelo departamento de auditoria e inspeção. A comissão de auditoria do BES é, segundo o 'site' do banco na Internet, constituída por Horácio Lisboa Afonso (presidente), Pedro João de Matos e Silva e João de Faria Rodrigues.

IM/DN// ATR

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