Consultora sem funcionários contratada para decisão do novo aeroporto de Lisboa
Porto Canal
O Estado português contratou, por ajuste direto, serviços de consultoria para a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa a uma empresa sem funcionários e sem evidência pública de experiência no setor. A Asa Aviation Consulting tem sede em Londres e não dispõe de qualquer forma de contacto.
No final do ano passado, o Instituto da Mobilidade e Transporte (IMT) assinou um contrato, de 19.500 euros por ajuste direto, para que a Asa Aviation Consulting definisse as regras do concurso público para escolher quem iria fazer a Avaliação Estratégica do novo Aeroporto de Lisboa. Mais tarde, já depois de finalizado o concurso e adjudicado o serviço, surge um novo contrato por ajuste direto, desta vez no valor de 95 mil euros, para que a ASA acompanhasse os trabalhos.
Os contratos levantaram dúvidas e essas dúvidas tiveram eco no parlamento, ao longo das últimas semanas. A 14 de junho o presidente do IMT foi ouvido na Assembleia da República. Na altura, Eduardo Feio explicou que a empresa “já tinha colaborado com o Ministério das Infraestruturas em 2018” e que, por isso, já conhecia a realidade nacional.
Apesar disso, contactado pelo Porto Canal, o Ministério esclarece que nunca trabalhou com a Asa Aviation Consulting, mas que já conhecia sim o diretor da empresa, Alejandro Querido Tomás. Em 2018, Alejandro foi “apresentado pela empresa AERTEC como a pessoa responsável pela coordenação da verificação técnica da proposta para a ampliação do Aeroporto Humberto Delgado e construção do aeroporto do Montijo”, explica o gabinete de Pedro Nuno Santos em comunicado.
Na semana passada, o tema voltou ao Parlamento. A Iniciativa Liberal questionou o Ministro das Infraestruras sobre o processo. A resposta chegou, no entanto, do Secretário de Estado Hugo Santos Mendes que reforçou que a Asa Aviation Consulting “tem 25 anos de experiência, trabalhou em mais de 30 países, em 120 projetos”.
Apesar das explicações do IMT e do Ministério, não há evidência publica da atividade da empresa ou da experiência de Alejandro Querido Tomás, enquanto especialista, na execução de trabalhos similares noutros aeroportos.
Percebe-se também que a atividade económica da empresa é residual. A 31 de março de 2021, por exemplo, a ASA apresentava ativos no valor aproximado de 10 mil libras, o equivalente a 11 mil e 100 euros. A informação está disponível no portal “Companies house”, do governo britânico, onde é possível ver também que o objeto social da empresa não está relacionado com o setor da aviação, mas é sim para “outras atividades e serviços de apoio a empresas”.
Na mesma morada da consultora localiza-se também a Brookson One, uma empresa especializada em incorporação de empresas, serviços fiduciários e apoio à gestão e secretariado. Uma “umbrella company”, em português empresa “guarda-chuva”, atividade comum no Reino Unido.
O Porto Canal não obteve qualquer resposta da Brookson One, da ASA Aviation Consulting ou de Alejandro Querido Tomás, empresário e especialista em aviação, que na internet tem apenas uma conta na rede social Linkedin.
Também contactada pelo Porto Canal, a AERTEC, a empresa que fazia parte do consórcio de três empresas que já tinha colaborado com o Ministério das Infraestruturas em 2018, não esclareceu quem, quando e em que moldes trabalhou com Alejandro Querido Tomás.
No Parlamento, o Ministério das Infraestruturas garantiu que o ajuste direto foi legal, transparente e que apenas serviu “para não se perder mais tempo”.
Quanto ao papel que Alejandro Querido Tomás terá no processo de escolha do novo Aeroporto de Lisboa, o IMT e o Ministério das Infraestruturas não prestaram esclarecimentos adicionais.