Novo 'patrulha' é o primeiro em 69 anos sem baptismo lamentam os trabalhadores
Porto Canal / Agências
Viana do Castelo, 16 dez (Lusa) - Os trabalhadores dos Estaleiros de Viana afirmam que o navio-patrulha construído para a Marinha, que hoje deixou as docas da empresa, foi o primeiro em 69 anos a partir sem a tradicional cerimónia de batismo.
A posição foi assumida pela comissão de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) na forma de carta aberta enviada ao Presidente da República, na qual afirmam não haver memória de um navio que tenha deixado a empresa "sem o tradicional batismo".
"É bom que se lembre que ao longo dos 69 anos de laboração dos ENVC, depois de mais de 220 navios construídos, nunca tal episódio aconteceu", lê-se na carta aberta enviada a Cavaco Silva, na qual os trabalhadores dizem "repudiar" um "acontecimento que é no mínimo lamentável".
"Por que será?", questionam.
Em causa está o NRP (Navio da República Portuguesa) Figueira da Foz, o segundo Navio de Patrulha Oceânica da classe "Viana do Castelo" construído naqueles estaleiros, de uma encomenda inicial de oito que foi assumida em 2004 pelo Ministério da Defesa - entretanto revogada pelo atual Governo - para substituir a frota de corvetas, com 40 anos de serviço.
Contactada pela agência Lusa, fonte oficial do Ministério da Defesa Nacional, que tutela igualmente os estaleiros, escusou-se a comentar o assunto.
O NRP Viana do Castelo, entregue pelos ENVC em 2011, teve a cerimónia de batismo realizada dois anos antes e a ex-primeira-dama Manuel Eanes como madrinha no navio.
Já o segundo navio, que custou igualmente mais de 50 milhões de euros, saiu das docas dos ENVC pelas 14:30 de hoje, levando a bordo os 39 elementos que compõem a guarnição e mais nove operacionais responsáveis pelas equipas de treino, que ainda decorre.
Os ENVC estão em processo de encerramento, com o despedimento dos 609 trabalhadores, decorrendo em paralelo a subconcessão de terrenos e infraestruturas ao grupo Martifer, após concurso público internacional. Várias dezenas de trabalhadores concentraram-se por isso nas docas para assistirem à partida daquele que terá sido o último navio construído por aqueles estaleiros públicos e que aconteceu sem qualquer tipo de cerimónia.
O navio foi formalmente entregue pelos ENVC à Marinha a 25 de novembro, em cerimónia fechada realizada na empresa, presidida pelo Chefe do Estado-maior da Armada. Passou então a integrar o efetivo daquele ramo das Forças Armadas, sendo agora esperado na Base Naval de Lisboa, no Alfeite, a 19 de dezembro.
A atividade operacional do NRP Figueira da Foz deverá arrancar em janeiro, depois de concluída a formação da guarnição.
Com desenho próprio dos ENVC, estes navios-patrulha têm 83 metros de comprimento, capacidade para receber até 67 pessoas e podem transportar um helicóptero Lynx.
Concebidos como navios militares não combatentes, podem ser utilizados para fiscalização, proteção e controlo das atividades económicas, científicas e culturais ligadas ao mar.
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