Gregos "chocados" com as medidas anunciadas

Gregos "chocados" com as medidas anunciadas
| Economia
Porto Canal (MPM)

Começaram a chegar as reacções ao acordo. Sentimento do povo grego é de choque e frustração com as medidas aprovadas em Bruxelas. Já foram anunciadas algumas greves, uma das quais, a do sector público, realiza-se já esta quarta-feira.

A notícia do acordo entre o Governo de Atenas deixou muitos gregos em choque. No entanto, mesmo entre os que votaram 'não' no referendo às propostas anteriores, são vários os que acreditam que agora tentam compreender o entendimento e acreditam que neste momento será a única saída viável. É o caso do jornalista Argiris Panagopoulos do Avgi, jornal grego associado ao Syriza, que defende que "O mais importante é que evitámos um golpe de Estado contra um Governo democraticamente eleito e evitámos também um executivo com técnicos, que já mostrou que é um desastre, tanto aqui como em Itália".

George Tzogolopoulos, analista do centro de estudos Eliamep e tradicionalmente afastado das ideologias do Avgi, está em total sintonia com o jornal. "Agora o mais importante é que se vote, e se forme um governo de unidade nacional para aplicar as medidas", disse Tzogolopoulos, ao que o jornal acrescenta a necessidade de que "se abram os bancos".

A opinião que os liga é a de que "foi o acordo possível", apesar do Banco Central Europeu não ter aumentado o financiamento aos bancos gregos, que vão continuar fechados até quarta-feira, conforme revelado pelo Ministério das Finanças.

A sensação de que o acordo é a última hipótese para a Grécia não é, no entanto, generalizada. O facto de terem sido exigidas ainda mais medidas do que as anteriores propostas, de deixar a Grécia sob supervisão da troika, e de fixar garantias em caso de incumprimento, sem conseguir uma declaração inequívoca de reestruturação da dívida, deverá, provavelmente, levar à divisão entre o partido do Governo, sobretudo considerando a ala mais radical do Syriza, a Plataforma de Esquerda.

Os jornais gregos falavam na manhã desta terça-feira, no sentimento de profunda derrota. “Afundem o país, ordena Schäuble”, atirou o Efimerida Ton Syndakton, publicação considerada de esquerda. As redes sociais evidenciaram a frustração do povo, com a hashtag “ThisIsACoup” (Isto é um golpe de Estado), a figurar entre as tendências gregas no Twitter.

Aprovação será concretizada

Graças ao apoio da oposição, Tsipras conseguirá aprovar as quatro medidas iniciais até esta quarta-feira, tendo até dia 22 de Julho para votar outras duas reformas.

Eleições antecipadas

Um cenário que vem sendo apontado como possível durante os últimos dias é o de eleições antecipadas. Mas, para George Tzogopoulos, essa situação seria um pesadelo. "Já votámos em Janeiro, já votámos agora… Com cada nova eleição, vamos ter de aceitar ainda mais medidas".

Dimitris Rapidis, do centro de estudos Bridging Europe, contraria a opinião de Tzogopoulos. “Nestas circunstâncias de ruptura significativa no Syriza, Tsipras será forçado a eleições antecipadas porque perderá o apoio do seu partido”. Rapidis crê, no entanto, que as novas eleições legislativas poderão não realizar-se no imediato, "mas os partidos da oposição vão questionar a maioria do Governo, e forçá-lo a eleições mais tarde ou mais cedo".

Quem estaria preparado para assumir a liderança de um país nas condições da Grécia é outra questão fundamental. A Nova Democracia, que esteve no governo anterior ao de Tsipras, tem agora um novo líder, ainda que de forma interina, Antonio Samaras.

O PASOK, partido socialista que entre 2009, quando governava o país, e 2015, perdeu uns impressionantes 147 deputados no parlamento, viu Evangelos Venizelos demitir-se após o desastre de Janeiro e está agora a cargo de Fofi Gennimata, que tenta recuperar o peso do PASOK na política grega.

Já o To Potami, partido liberal, garantiu apoio a um novo Governo, mas recusa a participação. Harry Theoharis, deputado do To Potami, defendeu a ideia de um executivo liderado por "personalidades capazes de ser muito técnicas mas também com um sentimento político", disse ao jornal francês Le Monde.

"Uma coisa é aprovar as medidas, outra é aplicá-las"

Os analistas sublinham que o facto de as medidas virem provavelmente a ser aprovadas no parlamento, a concretização das mesmas não está garantida. "A linha dura [europeia] quer dizer que os riscos políticos de um lado ou outro não conseguirem concretizar são grandes", afirma a revista britânica The Economist.

O jornalista Nick Malkouztis, do diário Kathimerini e do site Macropolis, reitera toda a dificuldade do processo, e lembra que o Governo "tem de aprovar quatro leis até quarta-feira e outras duas até 22 de Julho, que é provavelmente mais do que o que legislaram desde a vitória eleitoral".

Palavras do primeiro-ministro

Alexis Tsipras efectuou um discurso após o anúncio do acordo. Referiu que várias medidas a aprovar vão criar inevitavelmente tendências de recessão. Porém, assegurou que a decisão "vai manter a estabilidade financeira da Grécia e dar potencial de recuperação".

Tsipras sublinha a "justiça social" com que as medidas serão implementadas, e que "desta vez, os que evitaram pagar, vão pagar, vão partilhar o fardo". Comprometeu-se a "livrar-se dos interesses escondidos no país, fazer reformas radicais a favor das forças sociais, e contra a oligarquia que deixou o país neste estado".

Greves e manifestações

"É muito difícil ter noção do que será a reacção da sociedade. Até agora, especialmente depois do grande 'não' no referendo, que vai contra o memorando devastador, as pessoas estão extremamente desapontadas, zangadas e ansiosas". As palavras de Dimitris Rapidis ajudam a prever algumas greves e manifestações por parte do povo grego. As farmácias, aliás, já anunciaram uma greve, tal como o sector público, que promete uma paralisação geral esta quarta-feira, dia da votação das medidas no parlamento.

O sentimento geral de frustração deverá reflectir-se nas próximas eleições, quer sejam antecipadas ou não. "Poderão aparecer novas formações políticas, como a Plataforma de Esquerda sair do Syriza, ou, por outro lado, outros partidos vindos do centro. A Aurora Dourada vai aumentar o seu poder de atracção, mas não tanto assim", explica Rapidis, concluindo que "os defensores de uma saída do euro vão certamente aumentar, um partido ou grupo de políticos que apoiem essa opção poderão receber apoio substancial."

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