Os espaços que disseram adeus ao Porto e não resistiram à força do tempo
João Nogueira
Ao longo dos anos, o Porto tem assistido ao encerramento de diversos espaços históricos e tradicionais, muitos deles carregados de memórias dos portuenses. Estes negócios, que outrora foram pontos de encontro e de referência na cidade, não resistiram à passagem do tempo e às mudanças sociais e económicas no tecido empresarial e de serviços da Invicta, acabando por dar lugar a outros investimentos. As ruas, o comércio e as empresas mudaram, e com esses mudou a cidade.
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Confeitaria Cunha (1906-2019)
A Confeitaria Cunha, carinhosamente conhecida como "Cunha", abriu as suas portas em 31 de março de 1906 como padaria na Rua de Santa Catarina, perto da Capela das Almas. Após três décadas, mudou-se para o outro lado da rua. Na década de 1970, transferiu-se para o “Edifício Emporium”, desenhado pelo arquiteto Arthur de Almeida Júnior em 1939, com interiores projetados por Victor Palla, Bento d’Almeida e João Bento d’Almeida, inspirados nos anos 50/60. A "Cunha" acabaria por não conseguir resistir às mudanças dos tempos, fechando as portas em 2019.
Aniki Bobó (1985-2005)
Situado na Rua da Fonte Taurina, na Ribeira, o Aniki Bobó foi um dos primeiros bares do Porto a ter DJ, tornando-se um espaço de referência na vida noturna da cidade desde a sua abertura em 1985. O nome do bar homenageia a primeira longa-metragem homónima de Manoel de Oliveira.
Era frequentado por artistas e figuras culturais. Contudo, o bar fechou em julho de 2022, quando a Câmara do Porto colocou o espaço em hasta pública. Acabou por ser arrendado a uma empresa gaiense que tem um restaurante de fados chamado ANIKI.
Casa Madureira
Fundada em 1944, a Casa Madureira na Rua das Carmelitas é uma loja de têxteis com três pisos. Mas o fim já foi anunciado pelo proprietário que vendeu o estabelecimento a investidores espanhóis. Após 80 anos de atividade, a loja fecha em julho de 2024. O proprietário não revelou ainda quais os planos futuros para aquele local.
Café Vitória e Café Embaixador
Aberto em 2011 na Rua José Falcão, o Café Vitória também funcionava como bar e restaurante. Com um jardim nas traseiras muito popular, anunciou o encerramento em dezembro de 2022. A este fechou seguiu-se o do Café Capitólio e do Café Embaixador, que encerrou após 65 anos de atividade e que dará lugar a um Burger King num futuro próximo.
Estes exemplos refletem a dificuldade que muitos espaços históricos têm em se adaptar aos novos tempos e às mudanças no comportamento dos consumidores. No entanto, continuam a ser lembrados com carinho pelos portuenses, que guardam muitas memórias desses locais icónicos.
Casa Porfírios (Início dos anos 50-2001)
Localizada no n.º 39 da Rua de Santa Catarina, a Casa Porfírios foi fundada por Porfírio Augusto de Araújo no início dos anos 50. A loja destacou-se por introduzir moda vibrante e colorida em Portugal, inspirada nas tendências de cidades como Londres. A Casa Porfírios foi pioneira na venda de calças à boca de sino e camisas floridas. No entanto, a marca não conseguiu adaptar-se à concorrência das marcas estrangeiras após a Revolução dos Cravos e fechou em abril de 2001.
Indústria Club
O Indústria foi um clube mítico da Foz, conhecido por fazer as pessoas dançarem até de madrugada. Com uma programação regular de DJs e produtores, o clube focava-se principalmente em techno e house. Apesar de um breve ressurgimento, o Indústria acabou por fechar e deixou saudades aos amantes da música eletrónica.
O Meu Mercedes é Maior que o Teu
O espaço situado na Rua da Lada, na Ribeira, era um dos mais antigos do Porto. Aberto desde 1990, "O Meu Mercedes é Maior que o Teu" era conhecido pela sua atmosfera acolhedora e programação musical intensa. Mas fechou as portas recentemente e acabou por ser substituído por outro bar.
Mercearia do Bolhão
Ao fim de 144 anos de história, aquela que foi a mercearia mais antiga da cidade do Porto fechou portas em definitivo a 30 de abril deste ano, como noticiou o Porto Canal em primeira mão. O bacalhau, café, fruta e frescos que ocupavam o espaço no número 305 da Rua Formosa foram substituídos por bugigangas e brindes com a abertura da multinacional Ale-Hop no lugar, meses depois.