Fecho de mais de 700 lugares de estacionamento no Campo Alegre deixa estudantes apreensivos
João Nogueira
Enquanto em Santo Ovídio o barulho e o movimento das máquinas prosseguem a todo o vapor para a construção do traçado do metro da Linha Rubi, no Campo Alegre a empreitada avança “com timidez”. O encerramento dos parques junto às faculdades teve como impacto a supressão de mais de 700 lugares de estacionamento, problema a que se junta a falta de transportes públicos para aceder a esta zona da cidade. A maioria compreende o encerramento, mas queixa-se da falta de alternativas.
“Não há bela sem senão”. As palavras de Rodrigo Coelho espelham o sentimento da maioria. Apesar de ser dado um grande passo na mobilidade e acessibilidade ao Campo Alegre, há inconvenientes temporários. O professor da Faculdade de Arquitetura reconhece “os benefícios da obra para a cidade” mas também considera “evidente” que as obras impliquem “este tipo de constrangimentos”. Para o docente a grande dúvida prende-se com o tempo que a comunidade académica terá de ficar sem acesso aos parques.
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“A cidade está um caos”
Esta é uma preocupação partilhada pelo presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Francisco Porto Fernandes. “Se, ao mesmo tempo, o Metro para o Campo Alegre é crucial e uma política pública que aplaudimos de pé, por outro lado, não se percebe os atrasos consecutivos”, refere, acrescentando que “a cidade está um caos”.
Para o dirigente da FAP a Metro do Porto deveria ser mais compreensiva e ter em conta que o Campo Alegre tem uma “má” acessibilidade de transportes. “Temos muitos estudantes que vivem longe, mas que devido à crise na habitação têm de vir de carro. E neste momento, de um dia para o outro, fecharam-se dois parques de estacionamento que albergavam mais de 700 carros. E, portanto, nestas ruas adjacentes podemos dizer que está um bocado caótico”, frisa Francisco Porto Fernandes.
Em resposta ao Porto Canal, a Metro do Porto afirma estar a explorar alternativas de estacionamento e reconhece os impactos temporários. "Naturalmente, não se encontrando as questões de estacionamento automóvel entre as suas competências, a Metro do Porto é sensível aos impactos que as obras de expansão da sua rede podem causar", confirma fonte da empresa.
A Metro do Porto afirma estar a “trabalhar na possibilidade de abertura de uma área alternativa de estacionamento na zona do Campo Alegre, encontrando-se a desenvolver contactos nesse sentido com diversas entidades”.
Manuel Godinho, estudante da Faculdade de Arquitetura, destaca a importância da preparação adequada durante o período de construção. "Podiam facilitar um pouco ao nível de parques de estacionamento, parquímetros... pelo menos durante a semana", lamenta o aluno, reconhecendo no entanto que os inconvenientes temporários são em prol de benefícios futuros.
Pedro Freitas, investigador em Arquitetura e Urbanismo, destaca o impacto da falta de comunicação entre as instituições e a necessidade de uma visão de longo prazo. "Eu acho que a maioria, de um certo modo, está descontente porque vê a curto prazo. A longo prazo nós vamos ter um metro à porta", considera.
A construção da Linha Rubi, entre o Porto e Vila Nova de Gaia, traz oito novas estações de metro, duas delas do lado do Porto: Casa da Música e Campo Alegre.
Nesta segunda, a estação vai nascer junto ao parque de estacionamento que ladeia com o restaurante Madureiras e com o túnel do Campo Alegre. A estação vai ser subterrânea, e no lugar onde estacionam os carros, vai nascer um espaço ajardinado e um ‘e-learning’ da Universidade do Porto. Ainda a uma quota mais baixa da estação, vai ser garantido um estacionamento subterrâneo.