Especial Eleições Galiza: A regionalização em Portugal adiada há 25 anos
Henrique Ferreira
Este texto é parte integrante da Grande Reportagem do Porto Canal “Galiza: Espelho da Autonomia”, publicada a 16 de Março de 2023.
Já de regresso a Portugal, parámos em Vigo. A cidade, que nos últimos natais se tem enchido de portugueses curiosos com as atrações festivas, é uma das mais importantes da Galiza e concentra grande parte da estrutura económica da região.
E se até aqui se ouviram apenas elogios à boa gestão da autonomia, a relação entre Vigo e o governo regional já teve melhores dias. O autarca da cidade é um opositor assumido da Junta da Galiza e das políticas do Partido Popular.
Abel Caballero é alcaide de Vigo desde 2007. Foi eleito pelo Partido Socialista da Galiza. Assume-se como defensor pleno da autonomia, mas não de quem a gere. “Vocês em Portugal têm um primeiro-ministro e a instituição é boa, há uns bons e outros maus e aqui acontece o mesmo, mas em geral a autonomia é um grande êxito”, afirma o autarca.
“A Galiza nasce sobre Santiago e a Corunha, mas na modernidade emerge Vigo”, lembra Abel Caballero, que lamenta a “falta de apoio institucional” por parte da Junta. “Não nos podemos esquecer que eles tentaram encerrar o nosso aeroporto”, remata.
A razão para a discórdia? Possivelmente as diferentes cores políticas que governam as duas instituições. Mas, para o alcaide de Vigo, o problema vai mais além. “Vigo é economia, é indústria, são as empresas. Temos uma força económica imparável e a Junta da Galiza não entende isso”, afirma.
Mas, as picardias de Caballero com outras figuras políticas não ficam apenas em território galego. Na cidade do Porto, o autarca é conhecido pela desavença com Rui Moreira, com quem se desentendeu há já alguns anos. Em causa está uma declaração do presidente da Câmara do Porto, em 2016, numa entrevista à revista Visão, que compara a cidade de Vigo à "salsicha fresca dentro de uma francesinha, com um aeroporto miserável”.
Na altura, o Alcaide de Vigo apressou-se a responder a Moreira, pedindo-lhe que retificasse as declarações e que pedisse perdão à cidade “por um insulto gravíssimo” como nunca tinha ouvido de nenhum responsável político. Agora, Abel Caballero volta a dizer que “foi uma opinião muito desafortunada” e que só irá “restabelecer relações com o próximo autarca” do Porto.
“Nós temos em Vigo um aeroporto que queremos para viajar dentro de Espanha e para alguns lugares da Europa, mas o aeroporto do Porto é uma oportunidade, porque se eu quiser ir a Nova York, a Buenos Aires ou ao Brasil, é lá que vou embarcar”, esclarece Caballero. Apesar disso, o presidente de Vigo garante que não vai “deixar que o aeroporto do Porto ocupe o lugar” da cidade galega.
No entanto, a relação entre Vigo e o Porto não se estabelece apenas nas questões aeroportuárias. Há outro meio de transporte que tem, nos últimos meses, sido protagonista na história entre as duas cidades. O projeto do comboio de alta velocidade, que irá ligar Lisboa ao Porto em apenas 1h15, prevê a ligação à cidade galega para integrar depois a rede europeia.
Neste processo, Abel Caballero volta a criticar a Junta da Galiza pela “falta de empenho e investimento” e garante que os esforços para que a ligação a Madrid aconteça estão a ser feitos pelo Concelho de Vigo.
De recordar que, no final de fevereiro, o jornal Faro de Vigo avançou, citando a Comissária Europeia dos Transporte, que a ligação ferroviária de alta velocidade entre o Porto e a Galiza não deverá seguir os planos apontados pelo governo português, que preveem a conclusão do projeto em 2030. Aldina-Loana Valean estima um atraso de 10 anos, empurrando a previsão para 2040. Entretanto, o executivo de António Costa já veio desmentir as declarações, com o secretário de Estado das Infraestruturas a garantir que o TGV “não irá sofrer atrasos”.
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