Metro do Porto aprende com irmão mais velho do metrobus em Nantes
João Nogueira e Pedro Benjamim
“É um autocarro, mas que funciona como o metro”. A afirmação tem vindo a ser usada de forma depreciativa para descrever o novo metrobus que vai surgir na Avenida da Boavista, no Porto, ainda este ano. Mas a própria Metro do Porto viajou até à cidade francesa de Nantes, onde o transporte funciona desde 2006, para mostrar que “um sistema de mobilidade não se faz apenas com um modo de transporte”.
O presidente da Metro do Porto reconhece que têm existido críticas ao BRT (Bus Transport Rapid), sendo questionada a sua eficiência e a perceção de que o sistema representa uma redução da qualidade comparada com a restante rede da Metro do Porto. “Aquilo que nós vimos aqui verificar é que isso não é verdade”, explicou Tiago Braga.
Em Nantes, o sistema de BRT é dos mais eficientes, revela um estudo feito pela Semitan (empresa que gere a rede de transportes da cidade francesa), quando comparado com os outros modos de transporte existentes. Existe desde 2006 e funciona numa extensão de 13 quilómetros.
“Os nossos clientes preferem claramente o Busway como meio de transporte preferido em Nantes, porque é mais confortável, rápido e eficiente”, afirma Stéphane Bis, diretor-adjunto da Semitan, acrescentando que a chegada do transporte à cidade fez decair o trânsito rodoviário. “A quota modal dos carros diminuiu. Diminuiu cerca de 8 ou 9% em relação ao que era anteriormente”.
“Um autocarro que funciona como o metro”
Ao nível do serviço, o metrobus é composto por um conjunto de variáveis que o aproximam do metro convencional. As principais diferenças estão na segregação de vias e a eficiência na entrada e saída dos passageiros através dos validadores no exterior que evitam atrasos: “Permite que a entrada e a saída dos passageiros seja mais rápida”, explica Tiago Braga.
O metrobus no Porto vai partir da rotunda da Boavista e no cruzamento com a Avenida Marechal Gomes da Costa a linha estende-se em dois traçados que rumam até à Praça do Império e a outra até à rotunda da Anémona, em Matosinhos. A primeira parte da obra deverá estar concluída ainda em junho.
As estruturas do metrobus deverão ser semelhantes às que existem nas linhas do metro à superfície, com o troço por onde vão circular os veículos a situar-se no eixo central da avenida da Boavista. Entre essa zona exclusiva para o metrobus e os passeios ficará o percurso para os automóveis, composto por duas vias em cada sentido.
Isso vai permitir que o metrobus não tenha o seu serviço perturbado ou registe atrasos quando, por exemplo, automóveis estacionem em segunda fila. Contudo, as vias reservadas no troço até à Praça do Império não vão ser totalmente segregadas e esse “condicionamento” vai ser parcial. Os carros vão poder utilizar aquela via, mas cumprindo os requisitos do metrobus: seguir em andamento sem efetuar manobras que condicionem a via.
Críticas à falta de ciclovia ou vias segregadas
Sobre as críticas relacionadas com o tempo de percurso e a ausência de ciclovia em todo o trajeto, Tiago Braga é categórico, afirmando que “são infundadas" e feitas por quem "não conhece o projeto”. Segundo o mesmo, a aposta na ciclovia não aconteceu porque “o coração de qualquer sistema de mobilidade é o transporte coletivo”. Mas a ideia não está arrumada e pode voltar a ser debatida em breve, com Tiago Braga a dar nota que a abertura de uma ciclovia é algo que se realiza facilmente através da pintura do piso.
O presidente da empresa metropolitana esclareceu ainda que as velocidades comerciais projetadas para o metrobus deverão rondar os 22 quilómetros por hora, e que este número não se distancia da restante rede.
Estudos realizados pela empresa prevêem que 3500 carros sejam retirados diariamente do centro da cidade e que o Metrobus, tanto para a Praça do Império, como para a Anémona, registe 220 mil validações diárias. O serviço vai ligar a Casa da Música à Praça do Império em 12 minutos e até à Anémona em 17 minutos. A operação vai ser feita por 10 autocarros a hidrogénio, que circulam por uma via dedicada e em convivência com o trânsito automóvel.
Os autocarros deverão ter dois módulos e um comprimento de 18 metros, sendo que a sua frequência será de 14 veículos por hora, o que representa uma média de um veículo a passar a cada quatro minutos.
O Porto Canal viajou a convite da Metro do Porto.