Ex-membro da máfia de Nova Iorque escreve livro dirigido a empresários

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 06 mai (Lusa) -- Louis Ferrante, ex-membro do clã Gambino de Nova Iorque, disse à Lusa que o sistema bancário é violento e que escreveu um livro para "aconselhar" os empresários a "aprenderem com a máfia" a fazerem negócios mais eficazes.

Ferrante, 44 anos, atualmente autor de programas de televisão sobre a máfia, dedica-se também a escrever livros sobre o submundo do crime, como o último trabalho "Aprenda com a Máfia", publicado este mês em Portugal e que, segundo o autor, pretende dar a ensinar - sobretudo a empresários - "as regras essenciais" para se ter "êxito em negócios".

"Quando eu era um criminoso aprendi algumas coisas nas ruas: nós fazíamos negócios todos os dias e uma das boas razões pelas quais as pessoas faziam negócios connosco é porque nós somos bons homens de negócios", disse à Lusa Louis Ferrante, que cumpriu uma sentença de oito anos e meio em cadeias de alta segurança nos Estados Unidos por atividades relacionadas com a família Gambino e por se ter recusado a incriminar os membros do clã mafioso de Nova Iorque.

"Quando voltei a casa, depois da prisão, decidi que jamais poderia voltar ao crime, porque já não acreditava no crime nem na violência, mas comecei a pensar que se pegasse em tudo o que aprendi na máfia e lhe retirasse o crime e a violência e ficasse apenas com as coisas boas e depois aplicá-las ao mundo legal podia dar passos em frente e com êxito", explicou o autor do livro referindo que, "comparado" com a máfia, o sistema bancário é igualmente violento e muitas vezes ineficaz.

"Vejamos a crise económica que atravessamos neste momento: os bancos emprestam dinheiro a pessoas que não têm possibilidade de pagar e não se importam. Na máfia nunca fazíamos isso. Se você me pedir um empréstimo, a primeira coisa que lhe pergunto é como é que pensa pagar e se pode pagar. Se você não me provar que pode pagar o dinheiro, eu não lhe empresto nada porque eu não quero andar à procura de dinheiro que não pode ser encontrado", refere o antigo membro do clã Gambino.

"A máfia foi sempre muito mais inteligente a evitar maus empréstimos e esta crise na América começou com empréstimos a pessoas que nunca seriam capazes de pagar. Isto além da notação financeira (rating). Como é possível subir a notação a quem quer que seja se a mesma pessoa não vai ter nunca um aumento de salário?", interroga-se o autor do livro "Aprenda com a Máfia".

"Julgo que é ridículo estas cabeças pensantes do mundo dos negócios não terem pensado em tudo isto antes de fazerem os empréstimos. Os mafiosos são mais práticos, perguntam logo se uma pessoa pode pagar ou não", refere o antigo mafioso nova-iorquino.

"A máfia é violenta e vive fora da lei e isso não está certo. Eu condeno qualquer tipo de violência porque já não tenho nada com isso, mas, se vir as coisas de uma perspetiva mais elevada e se olhar para a sociedade, apercebo-me que se um banco lhe deu um empréstimo que você não pode pagar você é posto fora com a família e tudo. Eles forçam o despejo e se você não se for embora eles vão retirá-lo à força. A sociedade também usa a violência e se você não cumpre a lei eles não vêm dizer-lhe as coisas com delicadeza e vão arrastá-lo de lá para fora, com mulher e crianças se for preciso", resume Ferrante.

"Vejam a América, nós estamos envolvidos em guerras no Iraque e no Afeganistão e para quem não concorda com as nossas políticas temos grandes armas para os convencermos. A máfia é um microcosmos de tudo isto -- eu não concordo nem estou a sugerir o uso da violência -- só estou a dizer que eles (máfia) veem as coisas de uma forma muito mais clara, veem a violência e sabem que estão face a face com a violência. Em sociedade, a violência pode estar atrás dos panos mas está lá sempre", diz Ferrante, acrescentando que a ideia do livro é "aplicação das coisas boas".

"Acredite ou não, numa comunidade mafiosa tentamos evitar a violência e muitas vezes quando há problemas reunimos e as partes são obrigadas a cumprimentarem-se no final e assumir que temos de nos relacionar uns com os outros, porque é essa a forma de fazermos dinheiro. Se nos matarmos por causa de dinheiro, jamais arranjaremos mais dinheiro", explica o autor do livro que refere que não tem problemas com a máfia porque nunca denunciou ninguém da organização criminosa com que se relacionou desde muito jovem.

O livro "Aprenda com a Máfia" (287 páginas) publicado pela Esfera dos Livros, está organizado por "lições", uma longa série de considerações, relatos históricos e interpretações políticas, mas, sobretudo, episódios do mundo da máfia dirigidos a empregados, ou a "soldados" na linguagem dos mafiosos, e a quadros médios ("capos").

PSP // MLL

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