“Acho que o PM pediu ao Siza para ver isso…”, a escuta de Galamba que pode implicar António Costa
Porto Canal
João Galamba foi escutado a referir a capacidade de influência de António Costa no âmbito da Operação Influencer, o processo que investiga suspeitas de corrupção e tráfico de influências que está a ser liderado pela Procuradoria-Geral da República.
Segundo avança o Correio da Manhã na edição deste sábado, o atual ministro das Infraestruturas foi apanhado numa conversa com Eurico Brilhante Dias, então secretário de Estado da Internacionalização (atual líder parlamentar do PS), numa troca de mensagens considerada suspeita pelo Ministério Público (MP).
“O Siza [Pedro Siza Vieira, na altura ministro da Economia] falou comigo e acho que o PM [primeiro-ministro] pediu ao Siza para ver isso com o Matos Fernandes [então ministro do Ambiente] para resolver este problema”, escreveu Galamba a Brilhante Dias. Os procuradores acreditam que Galamba falava da alteração ambiental que permitiu a construção do centro de dados promovido pela Start Campus de Sines.
O “problema” que António Costa poderia resolver, acredita o MP, estaria relacionado com a recusa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas em alterar a Zona Especial de Conservação de Sines – esta alteração seria essencial para que a Start Campus pudesse construir o centro de dados.
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Numa outra escuta revelada no despacho do MP, os dois responsáveis da Start Campus foram apanhados a discutir o problema da Zona Especial de Conservação, tendo um dos sócios escrito que “o ministro da Economia [António Costa Silva], o das infraestruturas [Pedro Nuno Santos] e o primeiro-ministro aprovaram a desclassificação daquilo”.
O inquérito que visa o primeiro-ministro e que corre junto do Supremo Tribunal de Justiça foi aberto há 25 dias, ou seja no dia 17 de outubro.
O esclarecimento é dado pela Procuradoria Geral da República e acrescenta alguma informação à nota emitida na passada terça-feira.
Além da data agora divulgada, a PGR diz que "o Ministério Público se encontra vinculado por imposição legal" a abrir um inquérito "sempre que obtém notícia da eventual prática de factos criminalmente relevantes" e explica que tal foi feito junto do Supremo porque "o Código de Processo Penal" atribui um "foro especial ao primeiro-ministro".
De recordar que António Costa anunciou a demissão do cargo de primeiro-ministro na terça-feira e o Presidente da República decidiu dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas para 10 de março.