PR espera "bom senso" das entidades responsáveis pela JMJ e avisa professores que simpatia da opinião pública pode virar-se contra eles
Porto Canal / Agências
O Presidente da República afirmou esperar que as entidades responsáveis pela Jornada Mundial de Juventude (JMJ) encontrem uma solução "de bom senso" que concilie "o sucesso dessa jornada" com a atual situação de crise e guerra. Alertou ainda que "há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles".
Marcelo Rebelo de Sousa, que falava aos jornalistas no antigo picadeiro real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, não se quis intrometer na questão da coordenação deste acontecimento, que envolve, além da Igreja Católica Portuguesa, as autarquias de Lisboa e Loures e o Governo.
O chefe de Estado disse saber que "as entidades envolvidas estão a falar e estão a tratar de ver qual é a solução adequada para compatibilizar o sucesso dessa jornada com a situação que se vive no mundo e também em Portugal.
"Portanto, estando isso a decorrer nesta semana, nas próximas semanas, eu espero que também aí haja um bom senso e uma capacidade de conjugar esses dois valores, o que corresponde, no fundo, ao sentir dos portugueses em geral", acrescentou.
Interrogado sobre a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, o Presidente da República respondeu que não iria comentar o assunto, porque "seria invadir a competência própria da Assembleia da República", e que apenas "acompanha de fora, em respeito ao princípio da separação e interdependência de poderes".
No entanto, em termos gerais, saudou "tudo o que seja a Assembleia a querer levar até ao possível a investigação sobre matéria de uma comissão parlamentar de inquérito", considerando que "vale a pena" e que "o parlamento está em condições sempre por definição muito boas para exercer esse escrutínio".
Ainda quanto ao encontro de jovens católicos com o Papa Francisco que Portugal irá acolher entre 01 e 06 agosto, interrogado se dá o seu voto de confiança ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o Presidente da República respondeu que "não tem de dar voto de confiança em relação a autarcas".
Segundo o Presidente da República, já "ficou muito claro qual é o sentir generalizado na sociedade portuguesa, e também dos vários protagonistas, por aquilo que têm dito".
"Agora é um problema de ver como é que atuam para se chegar a um resultado que seja, por um lado eficaz, por outro lado rápido, e que consiga fazer esse equilíbrio: garantir o sucesso do que é importante para Portugal, é muito importante para Portugal, com aquilo que corresponde a uma situação que é diferente de outras jornadas, em que o mundo não estava em crise, não havia guerra [na Ucrânia], não havia a situação económica, social e financeira que existe neste momento", reiterou.
"Neste momento há diligências já anunciadas pelas várias entidades, estão em curso, vão continuar em curso, vamos esperar", aconselhou.
Simpatia da opinião pública pode voltar-se contra os professores, aponta Marcelo
O Presidente da República alertou que "há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles".
Interrogado sobre até quando é o que sistema de educação aguenta esta situação, o chefe de Estado respondeu: "Não é um problema de o sistema de educação aguentar, é o problema de ser um ano letivo substancialmente perdido ou não".
"E é essa é a avaliação que todos têm de fazer, até por isto: há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles", considerou.
Segundo o Presidente da República, "como tudo na vida, também nestes processos, que são processos sociais, mas também políticos, há uma avaliação política que Governo de um lado e professores do outro e sindicatos do outro têm de ir fazendo".
Marcelo Rebelo de Sousa chamou a atenção para as "desigualdades que se acumularam ao longo do tempo" e "posições diferentes" entre professores mais antigos e menos antigos e disse que aguarda para ver "se o caminho é, por via da negociação, chegar-se a uma lei do Governo".
"Não sei se, atendendo às desigualdades que existem entre as situações dos professores, para ultrapassar essas desigualdades, pelo menos para não as agravar, se no futuro, aqui ou ali, não terá de se rever aquilo que foram soluções adotadas ao longo de muitos governos", acrescentou, sem entrar em detalhes.
Sobre os serviços mínimos impostos a partir de hoje, declarou: "É uma experiência nova, diferente e, portanto, vale a pena ver. Aparentemente os sindicatos, nomeadamente o sindicato mais envolvido na atividade que acabou por determinar o recurso a serviços mínimos, tomou uma posição compreensiva aceitando a deliberação. Vamos ver o que se vai passar".
A sua expectativa é "que se caminhe no sentido de um entendimento, de uma convergência" e que o ano letivo não prossiga com "um número apreciável de escolas a não funcionarem de modo contínuo".
O chefe de Estado salientou que os alunos já tiveram "dois anos largamente afetados por causa da pandemia" e que "um terceiro ano é de facto uma paragem muito grande na vida escolar desses alunos".
"Para as famílias, é uma confusão. Os exemplos que eu conheço de famílias que esperam que haja greve a um tempo escolar, depois é outro tempo escolar, depois há intervalos, depois não há intervalos, depois não sabem como preparar a sua vida. Depois há os alunos de ensino especial, que exigem uma atenção também especial", apontou.
Perante esta "perturbação na vida daqueles que são o centro do sistema educativo", Presidente da República insistiu para que "se caminhe para uma solução", e depressa: "Se não qualquer dia estamos a meio do ano letivo e a solução ainda não aconteceu".
Relativamente ao seu papel neste processo, afirmou que "o papel do Presidente da República é o magistério de influência, ir acompanhando, acompanhando, acompanhando".
"É preciso paciência nestes processos e, portanto, tudo o que possa ser feito, de um lado e de outro, para que se chegue não digo a uma conclusão ótima, porque não há, ou muito boa, mas razoavelmente boa, vale a pena fazer", reforçou.