O Porto é a rua de abrigo. Como se dorme ao relento com as baixas temperaturas

O Porto é a rua de abrigo. Como se dorme ao relento com as baixas temperaturas
| Porto
Maria Abrantes / Pedro Benjamim

Nos últimos dias na cidade do Porto tem-se registado uma vaga de frio, com as temperaturas mínimas perto dos pressupostos para ativar o plano de contingência, contudo não houve três dias consecutivos com temperaturas abaixo dos 3ºC, critério definido junto do NPISA - Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo.

As temperaturas rondavam os 5ºC quando o Porto Canal saiu à rua para ouvir quem por lá dorme. O vento – invisível – cortava o rosto e mãos que estavam descobertos, mas não para os sem-abrigo que aceitaram falar.

Numa primeira resposta nunca revelavam ter frio, protegidos pelos cobertores e camisolas que as equipas municipais e voluntários fornecem, mas alguns minutos de conversa volvidos revelavam que os últimos dias têm sido mais difíceis. Se havia quem revelava que iria para os abrigos temporários, havia quem dissesse que preferia manter o seu “spot” já que com mais um cobertor o problema estaria resolvido.

O Porto Canal esteve em vários ‘spots’ da cidade, desde a Batalha, também na zona junto à Reitoria da Universidade do Porto, passando pela zona da Trindade. No caminho acabaria por cruzar-se com a equipa de rua, parte do reforço da autarquia, aquando da conversa com o Francisco, que pernoitava numa praceta da cidade. O funcionário, de colete da Proteção Civil, interrompeu e falou com o Francisco para saber se iria dormir naquela zona, além de oferecer uma bebida quente, uma madalena e mantas para ajudar a passar a noite.

Deitado num lance de escadas estava Alcino, que apresentava soluções universais para lidar com o frio. “Somos iguais todos. Toda a gente foge para o sol. Veste a roupa que tem, não é? Eu tenho que vestir a que tenho. Não tenho dinheiro para comprar outra melhor”.

Horas depois foi tempo de ouvir António, que lia Crime e Castigo de Dostoiévski. Pedia medidas que fossem além dos planos de contingência. “Espero que estejam a pensar numa solução mais de fundo, mais definitiva, para situações destas de sem-abrigo, de pessoas sem rendimentos, pessoas que estão na base da pirâmide. Não têm nada, nem ninguém e que são seres humanos e que precisam de ser ajudados. Não é varrendo para debaixo do tapete, abrindo a estação de metro”.

Não estava a ler, mas estava deitada junto a uma das mais conhecidas livrarias da cidade e respondia desta forma à pergunta sobre qual a noite mais fria nestes últimos dias: “Não sei. Para mim, são todos”, revelava ‘Cecília’ (nome fictício), que pediu para não ser identificada.

Com as equipas na rua, o plano de contingência continua na gaveta
A Câmara do Porto anunciou na quarta-feira (25 de janeiro) que as equipas de rua iriam ser reforçadas, a partir das 21h00, para apoiar as pessoas em situação de sem-abrigo devido à vaga de frio.

Segundo a autarquia, o “contingente especial” será constituído por dois elementos da Proteção Civil Municipal, dois elementos do Regimento dos Sapadores Bombeiros, dois técnicos do Departamento Municipal de Coesão Social e dois Técnicos das Equipas de Rua.

A Câmara Municipal do Porto refere ainda que os três restaurantes solidários da rede municipal – Centro de Acolhimento Temporário Joaquim Urbano, Baixa (Travessa de Passos Manuel) e Batalha – mantêm-se em funcionamento, assegurando mais de 550 refeições diárias, com o apoio dos voluntários da Associação CASA.

O BE pediu que a Câmara do Porto atualize o plano de contingência para as pessoas em situação de sem-abrigo devido à vaga de frio e aumente para, pelo menos, 5ºC a temperatura mínima para o acionar.

No entanto, Rui Moreira refere ainda que se os critérios do BE para o acionamento do plano de contingência fossem em frente, o plano estaria ativo “praticamente o ano todo”.

 
 
 
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