Prémio da Fatura da Sorte é exemplo lamentável contra sustentabilidade - Quercus
Porto Canal / Agências
Lisboa, 07 fev (Lusa) - A Quercus classificou hoje como "lamentável" o exemplo dado pelo Governo ao premiar com automóveis topo de gama os contribuintes que peçam faturas, uma opção "insustentável e contraditória" perante o objetivo de ter uma fiscalidade verde.
"É um evento lamentável da parte do Estado porque dá um sinal errado num contexto de dificuldades económicas que atinge a população portuguesa e em que seria desejável sensibilizar para um consumo mais amigo do ambiente", disse à agência Lusa Francisco Ferreira, da associação ambientalista.
Numa questão "crucial" como as compras ecológicas, "o próprio Estado podia e devia fazer muito melhor, adquirir papel reciclado, lâmpadas mais eficientes, e não o está a fazer", realçou.
O Governo aprovou na quinta-feira a criação de um sorteio apelidado de "Fatura da Sorte" para premiar "a cidadania fiscal" dos contribuintes.
Os consumidores ficam imediatamente habilitados ao incluírem o número de identificação fiscal nas faturas pedidas desde 1 de janeiro de 2014 e comunicadas à Autoridade Tributária e Aduaneira.
"Não deixa de ser curioso que há menos de 10 dias os ministros das Finanças e do Ambiente tenham iniciado uma reforma fiscal verde. É do mais contraditório possível esse mesmo Estado estar a estimular uma fiscalidade mais correta do ponto de vista ambiental, por um lado, e acenar agora com um prémio que, pelo impacto que tem, transmite uma imagem errada", salientou Francisco Ferreira.
Para o responsável da Quercus, trata-se de "uma oportunidade perdida de apelar ao desenvolvimento mais sustentável" do país.
A associação de defesa do ambiente identificou cinco "razões insustentáveis", contra o prémio "Fatura da Sorte", começando pelo facto de ser um automóvel, logo um estímulo à mobilidade rodoviária individual, que é uma das principais causas de problemas ambientais.
"Já temos demasiadas estradas, muitas delas dispendiosas e desnecessárias, [que são] causa de ruído, má qualidade do ar, emissões de gases com efeito de estufa", refere o especialista da Quercus.
Por outro lado, um automóvel de alta gama simboliza um desnecessário consumo de recursos, tem uma pegada ecológica muito maior em termos de construção e provavelmente será um veículo importado.
Os ambientalistas sugerem ao governo investir em veículos elétricos pois a mobilidade elétrica "está praticamente estagnada", mas se insistir no carro novo de alta gama, o Executivo de Passos Coelho deve fazer uma escolha ambiental e energaticamente eficiente.
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