Construtora britânica diz que estrangeiros na obra é residual e encoraja recrutamento local
Porto Canal
A construtora britânica responsável pela obra em Birmingham para a qual foram contratados 106 portugueses, a maioria dos quais já regressou num polémico processo, afirma encorajar o recrutamento local sempre que possível.
A construtora Amey, especializada em obras públicas, respondia assim à pergunta da Lusa sobre se o regresso dos trabalhadores portugueses teria sido influenciado por notícias, publicadas na imprensa local, que criticavam a presença de estrangeiros na obra quando a taxa de desemprego é de 9,8% na região.
A eventual relação entre as notícias e o retorno dos portugueses foi levantada pelo diretor da empresa que recrutou os trabalhadores em Portugal, Steven Craggs.
Embora admita que o processo tenha corrido mal por uma variedade de motivos, incluindo a falta de capacidades técnicas ou linguísticas de alguns trabalhadores, Craggs afirmou que em causa poderão ter estado também motivos políticos relacionados com o desemprego local e a existência de protestos na cidade contra a contratação de estrangeiros.
Uma notícia publicada a 29 de julho pelo Birmingham Mail dava conta do mal-estar: “Centenas de trabalhadores estrangeiros trazidos para trabalhar nos túneis da cidade quando o desemprego aumenta”.
A notícia acrescentava que cerca de 200 trabalhadores de Portugal e Espanha estavam alojados em residências universitárias enquanto 268 mil residentes da região estavam sem emprego.
Questionada pela Lusa, a Amey respondeu por email que “o número de trabalhadores estrangeiros no projeto de restruturação dos túneis representa menos de 4% de toda a mão-de-obra no local”.
“A Amey e a Câmara de Birmingham [dona da obra] podem ambas confirmar que encorajam todas as suas subcontratadas a recrutar localmente sempre que possível e a apoiar a economia local”, acrescenta a resposta da empresa, que recorda que todos os trabalhadores na obra são recrutados através dessas subcontratadas.
A Lusa questionou ainda a empresa sobre a crítica que une os trabalhadores revoltados e a empresa que os recrutou em Portugal.
Em conflito aberto e com acusações mútuas, as duas partes concordam pelo menos num ponto: não havia na obra trabalho para tantos homens, o que levou já a empresa a anunciar que vai processar o cliente em Inglaterra por quebra de contrato.
O diretor da empresa que recrutou os trabalhadores em Portugal, Steve Craggs, afirmou à Lusa que ao fim de alguns dias de contrato em Birmingham se tornou evidente que o empreiteiro estava a usar os trabalhadores em regime ‘ad hoc’.
“Nessa altura tínhamos 52 homens disponíveis, mas em nenhum momento estavam mais de 25 a 30 pessoas a trabalhar ao mesmo tempo. Alguns dias eram só 15”, recordou.
Um dos primeiros trabalhadores a regressar de Birmingham, Paulo Rodrigues, concorda: “Não dá para perceber o porquê de requisitar 100 homens e depois não haver trabalho nem para dez”, desabafa.
Confrontada pela Lusa com estas críticas, a Amey respondeu apenas que os trabalhadores “têm contratos temporários que variam ao longo da duração do projeto devido à natureza mutável dos requisitos”.