Trabalhadores contratados para obra em Inglaterra alegam pagamentos em atraso mas empresa nega
Porto Canal
Trabalhadores portugueses contratados para trabalhar numa obra em Birmingham e regressados a Portugal antes do fim do contrato reclamam pagamentos em atraso, mas a empresa de recrutamento afirma que todas as dívidas estão saldadas.
O caso tem sido notícia desde 23 de julho, quando os trabalhadores pediram a ajuda do consulado de Portugal em Manchester por alegadamente estarem sem trabalhar e sem receber.
Desde então, quase todos os 106 trabalhadores já regressaram a Portugal, em diferentes datas e por motivos distintos.
O primeiro grupo, de 29 trabalhadores, regressou logo no dia 25.
Segundo contaram à Lusa o diretor da empresa que recrutou os trabalhadores em Portugal, Steve Craggs, e alguns trabalhadores concentrados esta semana à porta da empresa, os trabalhadores deveriam começar a trabalhar a 19 de julho.
No entanto, por decisão do empreiteiro, o início dos trabalhos foi adiado e aos trabalhadores foi proposta uma redução salarial.
Em vez de receberem por 12 horas diárias, receberiam apenas seis nos dias em que não houvesse trabalho.
Após rejeitarem essa e uma segunda proposta, de oito horas diárias, os trabalhadores obtiveram a garantia de que seriam pagos pelas 12 horas diárias previamente combinadas, estivessem ou não a trabalhar.
Um grupo de 29 trabalhadores decidiu ainda assim desvincular-se do contrato por considerar que “já havia fricção” com a empresa, segundo contou à Lusa um desses trabalhadores, Paulo Rodrigues.
Com a mediação de duas funcionárias do consulado, os trabalhadores e a empresa que os contratara, a Bespoke Resources & Recruitment Limited, chegaram a um acordo, segundo o qual receberiam 1.142 euros pelos dias em que deveriam ter estado a trabalhar (de 19 a 25 de julho).
Ainda no Reino Unido, receberam 250 libras em dinheiro de bolso para chegarem a casa (os voos foram suportados pela empresa) e no dia 25 partiram.
Já em Lisboa, receberam 299,88 euros, pelo que afirmam estar a haver 843 euros.
No entanto, a empresa argumenta que aos 1.142 euros foram retirados 30% correspondentes aos impostos exigidos no Reino Unido, bem como 100 euros relativos a uma semana de alojamento e o equivalente às 250 libras que, segundo a empresa, era apenas um adiantamento para facilitar o regresso dos trabalhadores.
Os trabalhadores contestam estas deduções, argumentando que no acordo alcançado em Birmingham lhes foi dito que os 1.142 euros seriam valores líquidos, o que a empresa nega.
Steve Craggs garante que a empresa apenas se comprometeu a pagar os 1.142 euros brutos e afirma que os próprios trabalhadores assinaram uma declaração em que reconheciam que as 250 libras eram um adiantamento dos seus rendimentos.
Mas as queixas de que a empresa não terá pago tudo aquilo a que se comprometeu não são exclusivas do primeiro grupo a sair de Birmingham.
João Carlos Neves, um dos trabalhadores do segundo grupo a sair, de 19 pessoas, afirma que ainda tem a haver 430 euros.
O carpinteiro, que saiu também após uma negociação mediada pelo consulado, afirma que na reunião em que a empresa chegou a acordo com os trabalhadores se comprometeu a pagar o valor total, descontando apenas os 30% de impostos.
“Foi-nos afirmado que não haveria mais qualquer tipo de desconto”, disse.
Steve Craggs afirma por seu lado que muitos dos trabalhadores que agora se queixam não chegaram sequer a trabalhar e estão a receber, por uma semana em Inglaterra, mais de dois salários mínimos portugueses.
Este diferendo já levou alguns trabalhadores para a porta da sede da empresa no Estoril por três vezes nas últimas semanas, tendo a polícia sido chamada a intervir em pelo menos duas situações conta o diretor da Bespoke, Steven Craggs.
No dia em que a Lusa esteve na empresa estavam à porta cerca de 10 trabalhadores, que se mostravam indignados, mas pacíficos.
No entanto, Craggs afirma que na semana anterior houve mesmo ameaças de morte e a polícia teve de retirar trabalhadores do interior das instalações, pelo que a empresa se prepara agora para processar os trabalhadores em causa.
Confrontados com as acusações, os trabalhadores no exterior disseram não terem sido eles os responsáveis pelos distúrbios.
Nem a empresa nem os trabalhadores facultaram o contrato à Lusa.