25 Abril: Editorial do Jornal de Angola saúda revolução e acusa Portugal de ter falhado em Angola
Porto Canal / Agências
Luanda, 25 abr (Lusa) - O Jornal de Angola saúda hoje em editorial o 40.º aniversário do 25 de Abril, mas ao mesmo tempo considera um falhanço a política prosseguida posteriormente por Portugal relativamente a Angola.
Sob o título "Portugal falhou em Angola", o editorial reconhece que o 25 de Abril de 1974, abriu "as portas da liberdade" aos portugueses, e também aos povos das antigas colónias.
Depois de saudar o papel "decisivo" dos "militares revolucionários" na conquista da independência, o Jornal de Angola sustenta a existência de "um plano político e militar" para transformar Angola numa segunda Rodésia de Ian Smith, "para que o bloco do 'apartheid' se estendesse desde o Cabo até Cabinda".
"A aventura terminou no dia em que o almirante Rosa Coutinho, membro da Junta de Salvação Nacional, que governava em Lisboa, desembarcou em Luanda, com o mandato dos 'Capitães de Abril' para dirigir a descolonização e pôr fim às conspirações de todos os aventureiros, que tinham nos aliados internos a cobertura ideal para fazer da Independência Nacional uma paródia", lê-se no editorial.
O texto pretende homenagear o Movimento das Forças Armadas (MFA), que o editorial apresenta como um verdadeiro "movimento de libertação em Angola", mas outro objetivo é o de analisar o que aconteceu desde então e, "sobretudo o que falhou".
"O poder político em Portugal falhou rotundamente em Angola. Deixou os angolanos sufocados por invasores estrangeiros, quando tinha assumido o compromisso, no Alvor, de defender as fronteiras. Os partidos do "arco do poder" deram expressão a Savimbi, mesmo sabendo que era um servidor do regime sul-africano", acusa-se no editorial, que considera que os "falhanços dos Governos de Portugal na época têm a dimensão de uma imperdoável traição aos angolanos, aos africanos e à Humanidade".
O editorial termina, todavia, com uma nota positiva, concluindo que fica a certeza de que "os erros se corrigem, as deslealdades perdoam-se, a amizade cultiva-se".
"Os angolanos estão sempre de braços abertos aos amigos", conclui o texto.
Na mesma edição, o Jornal de Angola publica uma entrevista com Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, em que este reitera as razões da recusa em participar nas comemorações na Assembleia da República.
A entrevista tem chamada de primeira página e sob o título "Portugal foi ocupado e é vendido a patacos", Vasco Lourenço disse ter explicado à presidente do parlamento que os militares apenas aceitariam participar nas comemorações oficiais se os deixassem dizer o que pensam sobre o estado atual de Portugal.
"Não podemos fazer de conta que não se está a passar o que se passa no país (...). Tratem de parar de destruir o que eu ajudei a construir", disse Vasco Lourenço, recordando uma frase de Salgueiro Maia.
Vasco Lourenço acrescentou que era apenas isso que queriam dizer no parlamento.
"As loas não nos servem de nada, nós queremos é que pratiquem uma política de acordo com os valores de Abril. Acharam que não. Pronto, estão no seu direito, têm esse poder, nós não vamos. O que não significa que estejamos contra a instituição Assembleia da República", disse.
Mais à frente, Vasco Lourenço considera que a independência nacional de Portugal está em causa, partindo do princípio de que o país está ocupado.
"Considero que, neste momento, estamos ocupados. Só falta a bota cardada a pisar-nos. Estamos a ser vendidos a patacos permanentemente. Tudo o que é de valor está a ser vendido aos estrangeiros", acusou.
EL // ZO
Lusa/Fim