Choque e dúvidas em Marín com tragédia dos "amigos" portugueses do "Mar Nosso"
Porto Canal / Agências
Marín, Espanha, 18 abr (Lusa) - De volta das redes e depois de uma faina que "deixou muito a desejar", mestre "Pepe", do arrastão "Leixões", atracado no porto galego de Marín, não consegue explicar a tragédia que envolveu os "amigos" portugueses do "Mar Nosso".
"Que se vá o barco, não os homens. Mas os que se salvaram que expliquem o que aconteceu porque ninguém percebe, o mar estava calmo, não havia problema", contou hoje à Lusa o mestre José Piñero, do arrastão de bandeira portuguesa e base em Marín, tal como o "Mar Nosso", que naufragou quinta-feira nas Astúrias, Espanha.
Naquela mesma zona esteve, horas antes, o "Leixões", onde trabalham dois marroquinos, cinco portugueses e quatro espanhóis. Também na faina da cavala, que se prolongou por 30 dias, sem passagem por casa.
Às primeiras horas da manhã do feriado da sexta-feira Santa, José Piñero é o único no porto de Marín e confessa o "choque" com os três portugueses mortos, já confirmados - e outros dois desaparecidos -, da tripulação do "Mar Nosso".
A "tragédia", a terceira em quarenta dias, com pesqueiros da região, tomou conta daquele concelho piscatório, mesmo que os cinco marinheiros da Galiza - assim como outros dois portugueses - tenham sido resgatados com vida.
"Homem, a bordo somos todos uma família, amigos, sejam portugueses ou espanhóis. Eu próprio trabalhei toda a minha vida em barcos em Portugal. O que aconteceu é uma tragédia que nos choca muito, porque nos conhecemos todos, era boa gente", assume o mestre do "Leixões", um dos quatro pesqueiros de bandeira portuguesa com porto base em Marín.
O arrastão regressou durante a tarde de quinta-feira àquela cidade da Galiza, depois de uma faina ao largo das Astúrias, onde se cruzou com os colegas do "Mar Nosso" antes do seu naufrágio.
"Andávamos todos à cavala. Terminou quinta-feira, mas não correu muito bem, vendeu-se a pouco mais de quarenta cêntimos [o quilo], metade da do ano passado", conta.
A muita quantidade pescada este ano fez diminuir o lucro dos pescadores, explica, enquanto prepara o arrastão para regressar ao mar na quarta-feira, logo depois de uns dias férias pela Páscoa.
Uma festa que, diz, já não será a mesma face à "tristeza pelos amigos portugueses", apontando para o arrastão "Zodíaco", outro de bandeira nacional e do mesmo armador do "Mar Nosso", igualmente de Marín.
"O mestre do 'Zodíaco', que é da Póvoa de Varzim, esteve no 'Mar Nosso' durante muitos anos, até há uns meses. Trocou porque era um barco mais novo e agora aconteceu isto aos colegas, é muito triste", conta, apreensivo, o marinheiro, de 59 anos e que vai passando o comando do "Leixões", um arrastão de 26 metros, ao filho, também galego.
"No mar nunca podes estar tranquilo. Infelizmente é essa a nossa vida e sempre que acontece uma tragédia destas é disso que nos lembrámos", remata mestre "Pepe".
Três pescadores portugueses morreram na quinta-feira no naufrágio do pesqueiro de bandeira portuguesa "Mar Nosso", a cerca de 20 milhas norte da ria de Navia, nas Astúrias, Espanha.
A tripulação do barco, de 32 metros de comprimento e 183 toneladas, era constituída por 12 homens -- cinco galegos, todos resgatados com vida, e sete portugueses, dos quais três morreram.
Dois tripulantes portugueses continuam desaparecidos e outros dois foram hospitalizados, mas já tiveram alta.
Os pescadores são naturais das Caxinas, Vila do Conde e da Póvoa de Varzim.
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