Ataque ao Charlie Hebdo "ameaça toda a liberdade de expressão"
Porto Canal / Agências
Consternação, choque e ataque à liberdade de expressão são as palavras repetidas pelas pessoas próximas do jornal satírico Charlie Hebdo e ouvidas pela Lusa.
Para o jornalista e escritor Eric Aeschimann, co-autor da banda desenhada "La Révolution Pilote" que conta a aventura de vários cartoonistas que trocaram há 40 anos o Charlie Hebdo pela revista satírica Pilote, para depois regressar à primeira publicação - entre eles estavam os cartoonistas Jean Cabut e George Wolinsky, duas das vítimas mortais do ataque de hoje -, mais do que um jornal foi uma instituição que foi visada.
"É um jornal satírico, criado nos anos 60, que foi proibido pelo poder de De Gaulle. Quarenta anos mais tarde, é uma instituição que encarna um certo humor corrosivo, mas quem os ataca não é o Governo, não sabemos muito bem quem é", disse à Lusa.
O jornalista trabalha no semanário Obs, onde, diz, "a notícia caiu que nem uma bomba e as pessoas ficaram chocadas e mudas".
"Não compreendemos. Temos um amigo que está ferido e que está neste momento no hospital, não corre risco de vida, mas foi atingido no rosto. É um amigo do jornal Libération que trabalha também no Charlie Hebdo", descreveu.
Alice Toulemonde foi durante cinco anos a diretora editorial da "Cartooning for Peace", a associação que perdeu um dos cartoonistas no atentado de hoje, Bernard Velhac, conhecido por Tignous.
"É algo absolutamente atroz. Estou completamente chocada por ter conhecido todos estes cartoonistas e por ser uma defensora da liberdade de expressão. É um ato ignóbil contra a liberdade de expressão e contra o Estado francês porque é um dos fundamentos da nossa democracia", disse Alice Toulemonde à Lusa.
Com a voz embargada e pontuada por silêncios, Alice Toulemonde, atualmente a trabalhar na Embaixada de França no Brasil, admite ter "alguma dificuldade em falar porque conhecia as vítimas", deixando o alerta que "é toda a liberdade de expressão que está ameaçada".
"É algo que ultrapassa tudo o que possamos imaginar em França e em Paris porque são os nossos maiores cartoonistas que foram diretamente visados. É um simbolo absolutamente monstruoso e um ataque à liberdade de expressão", continuou.
Entre as vítimas mortais está também o jornalista, cartoonista e diretor do Charlie Hebdo, Charb.
O atentado perpetrado por três homens encapuzados e fortemente armados provocou pelo menos 12 mortos e 20 feridos, quatro em estado grave.