PS e PCP dizem que BdP deveria ter substituído Salgado antes
Porto Canal / Agências
Lisboa, 26 nov (Lusa) - O PS e o PCP convergiram na ideia de que o Banco de Portugal (BdP) deveria ter afastado Ricardo Salgado da administração executiva do BES antes do verão deste ano.
"Sabemos hoje que a substituição da administração do BES podia ter evitado muitos dos prejuizos em que incorremos todos", declarou o deputado do PS Pedro Nuno Santos, coordenador do partido na comissão de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).
As declarações do deputado, a que se junta uma posição no mesmo sentido de Miguel Tiago, do PCP, surge no dia em que também o PSD reclamou que o governador do BdP explique o "desacerto" entre os factos afirmados na comissão parlamentar e revelações posteriores sobre o porquê de Ricardo Salgado não ter sido afastado mais cedo.
Na semana passada, ouvido no parlamento, o governador Carlos Costa realçou que o supervisor não tinha poderes consagrados na lei para afastar a equipa de gestão do BES e retirar a idoneidade de Ricardo Salgado, socorrendo-se, entre outros elementos, de um parecer de "dois grandes juristas de Coimbra a mostrar que o BdP não podia fazer o que queria fazer", isto é, afastá-lo da presidência do BES.
Em carta endereçada aos deputados da comissão, o professor Pedro Maia, um desses dois juristas de Coimbra, "esclarece cabalmente a sua posição", disse à agência Lusa o deputado do PSD Carlos Abreu Amorim, dizendo "exatamente o contrário" do que havia revelado Carlos Costa.
Pedro Nuno Santos, do PS, sublinha que "há instrumentos na lei hoje que permitiam ao BdP ter substituido a administração de Salgado e provavelmente ter poupado ao país a dimensão dos prejuizos" que adviram da permanência do banqueiro.
"Essa não foi a opção", lamenta o parlamentar.
Pelo PCP, Miguel Tiago sublinha que "tudo aponta" para que Carlos Costa devesse "ter agido muito antes", como o partido reclama.
"Há um problema de arquitectura do sistema que se traduz na permanente incapacidade de resolver problemas", adverte o deputado comunista.
O que foi dito ao parlamento pelo governador sobre a idoneidade de Salgado e o sustento na tese académica "não é verdade", diz Miguel Tiago, mas se o governador foi "aconselhado juridicamente" no sentido de prestar tais esclarecimentos é algo que "do ponto de vista político pouco importa".
A comissão de inquérito, que arrancou na semana passada, tem um prazo de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado.
A 03 de agosto, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado 'bad bank' (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas) e o banco de transição que foi designado Novo Banco.
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