Patrick Modiano, um escritor perseguido pela memória da guerra

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Porto Canal / Agências

Redação, 09 out (Lusa) - O escritor francês Patrick Modiano, hoje distinguido com o Prémio Nobel da Literatura 2014, tem uma vasta obra centrada na memória e na identidade, colocando a segunda Guerra Mundial como cenário de vários livros.

O laureado, de 69 anos, nascido em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris, a 30 de julho de 1945, herdou dos pais essa memória da guerra: o pai, um judeu natural de Alexandria, conheceu a mãe, atriz belga, durante a ocupação francesa, pelas forças nazis.

Devido às digressões profissionais da mãe, estudou em várias escolas, um pouco por toda a França, e completou os estudos do liceu em Paris, uma cidade que se viria a tornar cenário frequente nas suas obras.

Aos 12 anos sofreu o desgosto da morte do irmão mais novo, com quem tinha uma relação muito próxima, e a quem viria a dedicar o primeiro livro, "La Place de l'Étoile" (1968).

Só um ano antes da publicação deste primeiro livro Modiano conseguiu uma situação financeira estável para passar a dedicar-se totalmente à escrita, depois de ter tido vários empregos para sobreviver.

Os temas da memória, do esquecimento, da identidade e da culpa vão marcar a futura obra do autor, que obteve um sucesso quase imediato com o primeiro romance, intensificado com o segundo, "La Ronde de Nuit" (1969), e o terceiro, "Les Boulevards de Ceinture" (1972).

O Grande Prémio de Romance da Academia Francesa, em 1972, e o Prémio Goncourt, em 1978, pela obra "A Rua das Lojas Escuras" (1978) - publicado em Portugal pela editora Relógio d'Água, em 1987 - vieram trazer-lhe um lugar definitivo na literatura francesa.

Patrick Modiano manteve-se um autor prolífico nas duas décadas seguintes, publicando obras como "Quartier Perdu (1984)", "Catherine Certitude" (1988), ilustrado por Sempé, ou "Remise de Peine" (1988).

Em Portugal seriam ainda publicados os livros "Domingos de Agosto" (1986), pela Dom Quixote, em 1988, "Dora Bruder" (1997), pelas Edições ASA, em 1998, "No Café da Juventude Perdida" (2007), também pelas Edições ASA, em 2009, e "Horizonte" (2010), pela Porto Editora, em 2011.

Na altura, o editor Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, definiu Modiano como "o principal escritor francês da atualidade".

Modiano viria a ser galardoado com o Grande Prémio Nacional das Letras de França, em 1996, num tributo pela totalidade da sua obra, que se manteve assinalada por uma fundação autobiográfica ou acontecimentos decorridos durante a ocupação alemã.

"Dora Bruder" é um exemplo dessa memória histórica, sobre uma rapariga de 15 anos que vive em Paris e que se torna vítima do Holocausto.

Patrick Modiano também escreveu livros para crianças e argumentos para filmes, nomeadamente, com o realizador Louis Malle, para a longa-metagem "Lacombe Lucien" (1974), passada na França, durante a ocupação alemã, protagonizada por um jovem.

O livro mais recente do galardoado com o Nobel da Literatura é deste ano, e intitula-se "Pour que tu ne te perdes pas dans le quartier".

Patrick Modiano é o 15.ª autor francês distinguido com o Nobel da Literatura. O galardão será entregue numa cerimónia em Estocolmo, a 10 de dezembro.

AG (NL) // MAG

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