Siza Vieira vai desenhar Avenida da Ponte pela terceira vez, 57 anos após primeiro projeto

Ana Francisca Gomes
A Câmara Municipal do Porto, através da empresa municipal Porto Vivo - SRU, contratou o arquiteto Álvaro Siza Vieira para voltar a elaborar um projeto para a Avenida da Ponte, depois de este já o ter feito em 1968 e em 2000.
Segundo os documentos disponibilizados no portal da contratação pública, pelo valor de 300 mil euros (ao qual acresce o valor do IVA), o primeiro pritzker português deve não só elaborar um projeto de uma operação de loteamento daqueles terrenos municipais, mas também os projetos de especialidades.
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A decisão de adjudicação foi deliberada pelo Conselho de Administração da Porto Vivo, SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto a 24 de fevereiro de 2025 e o contrato com o arquiteto assinado a 25 de março. Começa assim a cumprir-se o “compromisso político” feito por Pedro Baganha, vereador com o pelouro do Urbanismo e Espaço Público, no verão de 2024 em que afirmou num debate realizado em Serralves que tentaria “arranjar forma de fazer o convite a Álvaro Siza” para atualizar o seu projeto de 2000.
A “Avenida da Ponte” é uma das “feridas” urbanas mais antigas da cidade do Porto. Primeiro no final dos anos 1930, a mando da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), e depois no final dos anos 1940, para que fosse aberta a Avenida Dom Afonso Henriques, foram efetuadas um conjunto de demolições junto à Sé.
Acabou por aí ficar um vazio urbano em torno da via que se abriu para ligar o tabuleiro superior da Ponte Luís I a São Bento. Muitos arquitetos desenharam planos para preencher aquele rasgão, incluindo Fernando Távora e Álvaro Siza, que foi autor de um primeiro plano em 1968 e outro em 2000, no âmbito do Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura. Mas todos os planos ficaram na gaveta.
Em julho, Siza Vieira recordou como já em 1968, na primeira vez que abordou o assunto, precisou de estudar mais de 40 projetos já feitos e reprovados para aquela zona - fruto da sua complexidade urbanística. À data não temeu ser honesto: “Quando percebi que tinha sido convidado para uma sessão pública sobre este tema, pensei em telefonar a dizer que não vinha. O que me custa é a ideia de discutir a ideia de Avenida da Ponte. É que já fiz duas e não concretizei nenhuma”, afirmou.
O novo projeto desenhado para aquela zona já deverá complementar mais habitação. “Neste território já não temos ausência de investimento [com em 1968 e 2000], agora temos é um desequilíbrio de funções. E isto é uma oportunidade de termos construção nova no Bairro da Sé. Precisamos de repopular o centro da cidade”, dizia Pedro Baganha.
Em 2001, foi entregue um plano bastante específico a Siza Vieira a propósito da Porto Capital Europeia da Cultura 2001 que previa que o arquiteto inserisse no seu segundo projeto para a Avenida da Ponte um grande Museu da Cidade e um parque de estacionamento. Não só o conceito deste museu se alterou, como a construção de uma estação de metro com uma saída para a avenida em 2005 alterou o paradigma de mobilidade da zona. À luz dos dias de hoje, por isso, há consenso entre arquitetos e urbanistas que o plano deve ajudar a colmatar a falta de habitação. E para a Câmara do Porto isso também está claro.
“Acho que com a arte do Siza não é difícil adaptar o projeto às novas premissas que se aplicam àquele território: que é a necessidade de mais habitação”, afirmou à data Baganha em declarações ao Porto Canal. O vereador ressalvou ainda que o problema com o projeto de 2001 é o programa que foi entregue a Siza: “Aquele museu com aquela volumetria era irrealizável. Ainda assim, o partido urbanístico escolhido pelo arquiteto, do meu ponto de vista, é o indicado para este território. A forma como é reposto este tecido, a escala dos arruamentos, a reposição da integridade perdida com as demolições da década de 40”.