Há um ano um fantasma batia à porta do Stop e metia 500 músicos de malas feitas na rua

Há um ano um fantasma batia à porta do Stop e metia 500 músicos de malas feitas na rua
Pedro Benjamim | Porto Canal
| Porto
João Nogueira

Foi há um ano que o fantasma que assombrava os músicos há décadas bateu à porta do Stop, no Porto. O edifício da Rua do Heroísmo foi fechado e os artistas foram obrigados a fazer as malas e a sair de instrumentos nas mãos. Um ano depois, a resistência faz com que o edifício mantenha as portas abertas, mas no interior saltam à vista as inúmeras portas fechadas com um “aluga-se” estampado. O espaço tem um novo ar, a legalidade foi reposta e a administração garante que um novo fecho não acontecerá. Mas a incerteza continua a pairar sob a “verdadeira casa da música” portuense e a possibilidade da Câmara intervir pode mesmo vir a ser uma realidade.

 
 
 
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É preciso recuar até 1989 para voltarmos às primeiras vezes que o músico Paulo Pereira entrou no Centro Comercial Stop. E à data era diferente. No espaço, as frações eram ocupadas efetivamente por atividades comerciais. “Eu e o meu vizinho íamos para lá jogar bilhar, comprar jogos do espectro, alugar filmes em beta, VHS. Isto é mesmo do século passado”, lembrou em declarações ao Porto Canal.

O guitarrista acompanhou o momento em que começaram a aparecer as primeiras salas de ensaio no Stop, os primeiros passos que foram dados até ao cenário atual do local. Depois de um período afastado, em que esteve na Marinha, regressou ao Stop. Teve muitas salas desde então e lembra-se em específico da primeira: pagava 75 euros por mês pelo espaço da bilheteira dos cinemas, que já tinham encerrado à data.

“Doeu-me bastante”. As palavras saem da boca de Paulo ao falar do dia 17 de julho de 2023, quando a comunidade de músicos que ocupava o edifício foi confrontada com as salas seladas pelas autoridades.

Quem esteve pela Rua do Heroísmo na tarde daquele dia, não ficou indiferente à manifestação e tensão que se viveu em frente ao Stop. O fantasma de um fecho que assombrava os músicos há vários anos tinha chegado.

Naquela altura, Paulo já tinha abandonado o Stop, mas esteve presente em frente ao edifício no momento do fecho que, mesmo livre de qualquer perigo, foi “violento” e “abrupto”: “Estou a falar muito sinceramente de ver malta a correr, quase a chorar. (...) Vi lá pais com miúdos a tirar o material, a correr porque estavam naquela situação”.

Stop mantém portas abertas mas com salas fechadas

A partir daquele dia, há toda uma série de acontecimentos que marcam o Stop até ao que é hoje, desde as manifestações dos músicos, as providências cautelares, a entrada de uma nova administração de condomínio ou mesmo a presença permanente dos Bombeiros Sapadores do Porto no edifício.

O Stop mantém-se atualmente de portas abertas. O edifício tem um novo ar, nem que seja pelos equipamentos de segurança, a luz dos corredores ou novos negócios. Por outro lado, também saltam à vista as frações fechadas com um “aluga-se estampado”. Numa curta passagem pelos corredores sente-se o clima de resistência e percebe-se também que vigora a ideia de que o Stop dos tempos do Paulo “nunca mais vai voltar”.

A vocalista Joana Rodrigues sente que a luta pelo Stop “é como remar contra a maré” e que o espaço nunca mais vai ser o mesmo. “ Nós não íamos só lá ensaiar. Íamos lá tomar café e encontrarmo-nos com pessoas para ir a algum lado (...) cheguei a dormir lá”, recorda Joana sem deixar de romper um sorriso aqui e acolá entre as afirmações.

Mas todo o clima vivido além dos ensaios já não se repete no novo estúdio onde Joana e a sua banda ensaiam, localizado na zona industrial. Depois da selagem das salas no Stop, começaram a chegar vários projetos que procuravam um refúgio, um sítio para ensaiar ou apenas guardar o material.

“Não é um sítio credibilizado que venha na agenda cultural do Porto, mas o ‘underground’ todo o conhece”, sublinha a vocalista, lamentando que os músicos, mesmo que não tenham as malas feitas para sair, têm-nas preparadas face ao cenário duvidoso que continua a pairar no Stop.

A 16 de janeiro dava-se mais um passo de mudança na superfície outrora comercial, com a chegada de uma nova administração que pôs fim a quase 40 anos de mandatos do administrador que geria até então.

Em entrevista ao Porto Canal, a atual administradora Isabel Vieira garante que o Stop não voltará a fechar. “Eu fui contratada para manter isto aberto, organizar isto, pôr na legalidade, e é isso que estou a trabalhar. É um trabalho difícil, mas acho que está a ser valorizado”.

Porém, o atual mandato também tem sido alvo de críticas, principalmente pelos músicos e as associações que os representam, que afirmam a falta de um diálogo e envolvimento dos mesmos nos processos de transformação do Stop.

“Ouçam os músicos, porque tudo isto aconteceu e toda esta atenção foi dada por causa dos músicos. Mas depois, na hora de conversar e de pensar em soluções, os músicos não são ouvidos”, declarou Mariana Costa, dirigente da Associação ALMA Stop.

Escalada das rendas

Mas este diálogo, explica Isabel Vieira, tem de ser feito entre a administração e os proprietários. “É com eles que têm de falar”, referiu, acrescentando que também são os donos das frações que cobram a renda que entenderem.

O Stop é conhecido pelas salas a preços muito reduzidos, mas nos últimos meses, as associações do Stop têm dado eco às preocupações com o aumento das rendas e que, mesmo de portas abertas, os artistas são obrigados a ir embora por não conseguirem pagar.

Rui Guerra, da Associação Cultural de Músicos do Stop, lembra que antes foram quase 500 músicos a ocupar o Stop, mas o número tem caído pelas rendas elevadas. “Têm todo o direito de o fazer. Só condeno é realmente uma não intervenção da autarquia ou das entidades competentes dessa situação”, disse ao Porto Canal.

Mas segundo a administração, o Stop está com uma taxa de ocupação superior a 90%, estando cerca de 20 a 30 lojas por utilizar, uma vez que são desconhecidos os proprietários. E a missão é clara: “Nós queremos é proteger o Stop. Culturalmente ou não. Neste momento estão os músicos, mas o resto é futurologia”, disse Isabel Vieira.

E sobre o futuro, a administradora já traça um cenário: “Daqui a um ano? Espero que com as paredes limpas, com obras feitas. Vamos ter já muita coisa feita e diferente no sentido de as pessoas entrarem daqui sem medos, espaços comuns atrativos, casas de banho úteis, sem atos de vandalismo”.

A entrada da Câmara do Porto no Stop também pode estar para breve. Por diversas vezes nos últimos meses, Rui Moreira manifestou a possibilidade de a autarquia alugar uma das salas e dinamizar um dos espaços, como, por exemplo, os cinemas e a danceteria, que o mesmo chegou a visitar.

Em resposta ao Porto Canal, a Câmara do Porto confirmou que “há interesse em adquirir salas de cinema, mas sob a condição de estas terem licença de utilização”. A administração vê com bons olhos a entrada do município, uma vez que pode “ajudar a chamar mais gente”, mas reitera que está fora do diálogo, uma vez que este tem de ser feito com o proprietário.

Todos os elementos que estavam em falta no edifício, conforme o relatório da Proteção Civil, já foram regularizados. O Stop tem bocas de incêndio, elevadores a funcionar, câmaras de videovigilância, entre outros. E foi isso que fez com que o piquete dos bombeiros deixassem de estar presentes diariamente no edifício, desde o início de julho.

Como principal dor de cabeça permanece a porta de saída de emergência, uma situação que continua a arrastar-se pelos tribunais. “Falta a sentença”, referiu Isabel Vieira, adiantando que estão esperançosos de vencer o processo e que em breve o muro que veda a saída já não lá esteja.

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