A rotunda de acesso ao Terminal de Campanhã é um “caos projetado” que entope até à VCI
João Nogueira
A rotunda do Terminal de Campanhã, no Porto, é hoje o ponto mais intermodal da cidade, onde se reúnem quase todos os meios de transporte. Essa confluência é, contudo, desorganizada, principalmente aos olhos dos passageiros que ficam presos nos constantes engarrafamentos de trânsito que se fazem até ao terminal. “A mobilidade não se ensaia em laboratório”, salienta Teresa Stanislau, gestora da STCP Serviços, reconhecendo que o edifício tem alguns problemas estruturais determinantes neste ponto.
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“Não é fácil”. O desabafo é de Lurdes Rodrigues, motorista de autocarros com frequentes ligações ao Terminal Intermodal de Campanhã (TIC). “É muito autocarro a entrar aqui. Com o tráfego que a VCI tem, com os acidentes que sempre existem, raro é o dia em que não acontecem. É muito difícil o cumprimento de horários”, conta em declarações ao Porto Canal.
“Ainda a semana passada, os 15 minutos do ‘check-in’ para poder cumprir o horário, foram passados aqui à espera”, indica a motorista, acrescentando que os atrasos têm consequências, desde logo as constantes críticas dos utilizadores: “Os passageiros reclamam muito, porque muitas vezes têm ligações a outro transporte. É muito difícil, e não se consegue passar de forma nenhuma”.
O que acaba por acontecer, com relativa frequência, é uma acumulação de atrasos. “Às vezes, a meio do caminho, a empresa tem de contactar outro motorista para fazer o restante serviço”, confessa Lurdes.
Barreira congestiona a circulação na rotunda
O TIC funciona como um aeroporto. Não há cais de embarque pré-definidos para os diferentes operadores. Sempre que um autocarro chega, o sistema de gestão do TIC, neste caso, uma barreira à entrada, lê a matrícula e atribui um cais. A partir daí, todos os passageiros podem ver em tempo real o cais atribuído à viagem que pretendem fazer.
A área da barreira onde os autocarros são obrigados a parar leva a que a parte traseira do veículo se mantenha a ocupar a rotunda, não permitindo que mais qualquer outra viatura circule naquela praça, desenhada para um sistema “kiss & ride”.
A STCP Serviços reconhece os congestionamentos e lembra que, no projeto inicial, “a barreira de acesso dos autocarros não estava prevista ser exatamente naquele ponto". “Ela está aqui por questões operacionais e técnicas”, declarou ao Porto Canal, Teresa Stanislau, gestora da empresa.
Via segregada para os autocarros
O acesso à rotunda, feita pela Rua de Bonjóia, é feito por todos os meios de transporte e por uma via única. A sua coexistência (autocarros expressos ou da STCP, bicicletas e trotinetes, carros privados e TVDE’s) provoca diversas vezes um cenário de caos na rotunda. Para chegar à estrutura, os autocarros acabam por formar filas desde a VCI e a ficar parados, em muitos casos, durante mais de meia hora.
Uma das soluções apontadas para evitar o engarrafamento e os atrasos dos vários serviços passaria pela criação de uma faixa BUS: "Nós entendemos as limitações da própria via, mas de facto o acesso ao terminal deveria ter uma faixa base dedicada apenas para os serviços expressos", considera Teresa Stanislau, acrescentando que acredita que “juntamente com o município vamos encontrar uma solução”.
Questionada pelo Porto Canal sobre a possibilidade de a rotunda poder figurar uma Zona de Acesso Automóvel Condicionado ou uma faixa BUS, a Câmara do Porto não confirma essa hipótese.
A autarquia realça que “durante os períodos com maior tráfego, a área da envolvente e de acesso ao TIC será acompanhada pela Polícia Municipal”.
Sobre os transtornos de trânsito provenientes da VCI, o município recorda que introduziu 113 balizas flexíveis para combater “o estacionamento abusivo recorrente nas bermas do nó da Via de Cintura Interna (VCI) e junto à saída de veículos pesados de passageiros do próprio terminal”.
TVDE’s refutam culpas
António Filipe é motorista de transporte de passageiros por aplicativos (TVDE) e, em declarações ao Porto Canal, confirma que a atividade é habitualmente culpada pelo caos atual do trânsito na rotunda. Mas o condutor sublinha que nem os TVDE’s, nem qualquer carro privado são os principais responsáveis: “Não são os TVDE’s que estão ali a criar congestionamento, mas sim os próprios autocarros e a estrutura em si que não é funcional. Foi um caos projetado”.
“Aquilo está mal projetado. Ou seja, os autocarros para entrar, ao fazer o ‘check-in’, têm que parar e criam uma fila desmesurada enquanto o autocarro não entra”, afirma o motorista.
Em resposta às questões do Porto Canal, a Câmara refere que “foram criadas zonas de tomada e largada de passageiros. Em frente à moagem Ceres, a Zona de Estacionamento de Duração Limitada (ZEDL) foi desativada para criar uma zona de estacionamento reservada ao transporte individual de passageiros em veículo descaracterizado (TVDE)”.
Contudo, a medida que pretendia aliviar o problema na praça parece não ser suficiente, uma vez que são outros transportes que não os TVDE’s a entrar e sair com mais frequência na rotunda, devido à elevada quantidade de serviços.
Parque com dez minutos gratuitos
A informação de que os carros privados têm dez minutos gratuitos para fazer cargas e descargas no parque de estacionamento do TIC está afixada, mas escapa à maioria dos utilizadores. E tal percebe-se, por exemplo, pelos constantes carros privados que param na rotunda para largar ou acolher passageiros. “Devia ser compartilhada nas redes sociais”, expõe o jovem Alexandre Costa, que desconhecia a medida e considera que passa despercebida.
Apesar de ser uma das medidas para aliviar a pressão na rotunda, a adesão à medida é quase nula. Os próprios funcionários do parque de estacionamento o alegam: “Ninguém entra aqui para largar passageiros, quando tem a rotunda mesmo à mão”.
“É uma questão comportamental”, sublinha Teresa Stanislau, que acrescenta: “Convidamos todos, incluindo os TVDE’s a utilizar o parque de estacionamento. É mais cómodo, as pessoas transitam automaticamente para os cais de embarque, é muito mais fácil e não tem qualquer acréscimo de custos e não congestiona aqui a própria rotunda”.