Souto Moura assina projeto da nova cidade que vai nascer no Freixo
Ana Francisca Gomes
Plantados à beira-rio, os terrenos da antiga Central Termoeléctrica do Freixo vão ser totalmente transformados. As parcelas na margem do Douro foram compradas pelo consórcio franco-suíço Ginkgo Advisor, que investe na regeneração de zonas industriais abandonadas e contaminadas. O projeto, assinado pelo Pritzker Eduardo Souto de Moura, vai fazer nascer cerca de 500 novos fogos até 2026 e criar uma nova centralidade em Campanhã.
Terrenos da antiga Central do Freixo e da Empresa Industrial do Freixo. Foto: Centro Português de Fotografia
Até há pouco, quem atravessava a ponte do Freixo no sentido sul-norte era confrontado com um conjunto de ruínas industriais nos terrenos da antiga Central Termoeléctrica do Freixo, na margem do Douro. Desde os primeiros meses de 2023, o cenário mudou: as máquinas entraram de rompante pelo CACE Cultural do Porto – a única entrada, para já, para os terrenos – e começaram os trabalhos de demolição e descontaminação dos solos.
Numa área de 56 mil metros quadrados, está em curso um programa que prevê a criação de habitação, uma residência sénior, edifícios de escritórios e empresas e a preservação de alguns edifícios pré-existentes. Em entrevista ao Porto Canal, Bruno Farber, presidente e co-fundador da Ginkgo Adviser, avança que serão criados 499 novos fogos habitacionais.
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O investidor francês não especifica quantos fogos de cada tipologia vão ser construídos, mas avança estar planeado “fazer várias tipologias diferentes, desde grandes moradias em banda, a apartamentos mais pequenos, sempre com muito boas vistas do rio”. E quanto vai custar morar com vista desafogada para o Douro? “O preço de venda será definido posteriormente quando tivermos plena visibilidade dos custos totais de construção”, responde.
Até agora, a empresa procedeu apenas à alteração do projeto de loteamento na Câmara e o desenvolvimento da arquitetura está numa fase inicial, em que são refletidos apenas a volumetria e o uso dos edifícios. “A ideia principal desta mudança é criar uma urbanização que respeite as cotas pré-existentes, que começam com edifícios à cota baixa e que crescem colina acima, para beneficiar da orientação a sul e amplificar as vistas para o rio”, explica Bruno Farber.
Um projeto na esfera da Mota-Engil
Até 2018, os terrenos pertenciam à EDP, ano em que a elétrica os vendeu a um conjunto de investidores portugueses e estrangeiros, ligados ao empresário João Cota Dias. Em 2021, foram revendidos à ‘Freixo Magnum, Lda’ por intermédio de Telmo Azevedo Fernandes. Em resposta ao Porto Canal, o consultor imobiliário destaca o interesse do projeto, que “colocará no futuro à disposição e usufruto dos portuenses uma grande área da cidade que estava até agora degradada, esquecida e poluída”.
“Poderemos ter no Porto uma espécie de Parque das Nações, mais bonito, mais funcional, mais integrado na cidade e ambientalmente mais bem conseguido do que em Lisboa. Quem ali vier a viver terá um novo diálogo com o Rio Douro”, considerou.
Os terrenos junto à sede da Mota-Engil parecem ter despertado o interesse da construtora, que detém, nas imediações, vários terrenos e projetos imobiliários em fase de construção, como a Quinta da China. Em 2021, a Ginkgo Advisor criou a unipessoal ‘Freixo Magnum, Lda’ para comprar os terrenos e, mais tarde, em setembro de 2022, junta-se ao negócio, com 21% da sociedade, a Emerge, uma empresa do ramo imobiliário do universo da Mota-Engil.
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Assinatura de Eduardo Souto de Moura
O projeto para o Freixo chegou a ser entregue ao escritório de arquitetura lisboeta PROMONTÓRIO. Contactado pelo Porto Canal em agosto, o atelier esclareceu que já não era responsável pela transformação daqueles terrenos, uma vez que o projeto foi entregue pelo cliente a outro arquiteto.
Projeto do atelier de arquitetura Promontório, presente numa memória descritiva que consta do processo de licenciamento que resultou no atual alvará, consultado pelo Porto Canal em junho de 2023.
O projeto está agora nas mãos de Eduardo Souto de Moura. Contactado pelo Porto Canal em janeiro, o arquiteto não quis avançar detalhes e afirmou ser ainda “muito cedo para falar do assunto”.
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Souto Moura e Bruno Farber, CEO da Ginkgo, junto aos terrenos, na Avenida de Paiva Couceiro.
Um projeto à boleia do Plano de Urbanização de Campanhã e da Alta Velocidade
O projeto para a antiga Central Termoeléctrica do Freixo insere-se no contexto do Plano de Urbanização de Campanhã que promete resgatar a zona oriental da cidade de décadas de desinvestimento.
Numa planta do processo de loteamento assinada pelo segundo pritzker português, que consta do processo de licenciamento que resultou no alvará em vigor, consultado pelo Porto Canal em junho de 2023, pode já ver-se desenhado um dos novos arruamentos que deverão resultar do plano para Campanhã.
Bruno Farber confirma que se trata de um projeto pensado para se inserir no plano de urbanização e que vai beneficiar da chegada da futura linha de Alta Velocidade.
“Esperamos ter melhores ligações rodoviárias e uma nova centralidade com a nova ponte sobre o rio Douro para automóveis”.