Galiza está a votar e independentistas podem estrear-se no poder
Porto Canal
A Galiza vai eleger o novo parlamento regional nas eleições deste domingo, 18 de fevereiro. As últimas sondagens dão como quase certa a vitória do Partido Popular, mas o crescimento do Bloque Nacionalista Galego pode ameaçar a maioria absoluta da direita e colocar, pela primeira vez, o partido de Ana Pontón à frente da “Xunta.”
A Galiza foi governada pelo Partido Popular durante praticamente todos os últimos 34 anos, desde 1990. A excepção foi o período entre 2005 e 2009, após uma eleição que pôs termo ao governo a 15 anos e quatro mandatos de Manuel Fraga (PP), marcada pelo forte abalo que resultou do desastre do petroleiro Prestige.
Apesar de ter conquistado a ampla maioria do voto popular, em 2005 o PP viu a maioria absoluta escapar-lhe por apenas um deputado regional e acabaria afastado do poder. Emilio Pérez Touriño foi o líder da coligação que uniu o Partido Socialista de Galicia (a versão galega do PSOE) com o Bloque Nacionalista Galego.
Liderado por Anxo Quintana, que viria a tornar-se vice-presidente do governo comandado pelo PSOE, o “Bloque” era então um médio partido de esquerda, nascido nas primeiras eleições regionais democráticas de Espanha (1981) e com raízes históricas em movimentos independentistas galegos. Com resultados quase sempre abaixo dos 20%, o horizonte de poder era longínquo, a não ser como “sidecar” do PSdG.
Em 2024, apesar de as sondagens darem como praticamente garantida a vitória do PP de Alfonso Rueda, o sucessor de Feijóo na liderança do governo regional, paira no ar a “ameaça” de 2005. Embora o cenário mais provável apontado por todos os estudos de opinião publicados nas vésperas das eleições ser o da maioria absoluta do PP, o Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) coloca a hipótese de os populares não atingirem o número “mágico” dos 38 deputados, metade mais um do que os 75 eleitos no parlamento galego.
Nesse caso, o cenário de 2005 poderia repetir-se e o PP voltaria a ser afastado do poder. Só que a relação de forças entre o Partido Socialista de Galicia e o Bloque Nacionalista Galego inverteu-se.
Com a liderança carismática de Ana Pontón desde 2016, o “Bloque” renovou a sua imagem perante os galegos, modernizou-se e consolidou uma posição que nunca antes tinha tido: líder de oposição. Em 2020, Pontón conquistara mais de 23% dos votos e o “Bloque” tornara-se a segunda força política.
Agora, na reta final da campanha, a menos de uma semana das eleições, a sondagem do Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) publicada na segunda-feira passada atribuiu ao BNG 33,4%, um crescimento de quase 10% face às eleições de 2020, e 24 a 31 deputados eleitos, muito acima dos atuais 19.
O melhor cenário para o BNG seria, porém, o pior para o PP. Apesar de liderar com mais de 42% das intenções de voto, os populares poderiam ficar aquém da maioria, sendo-lhes apontados um intervalo de 34 a 38 deputados.
BNG moralizado com perspetiva de poder
No encerramento da campanha eleitoral, Ana Pontón pediu em Santiago de Compostela uma mobilização massiva dos galegos para “fazer história” e construir “uma Galiza melhor.”
A candidata do “Bloque” piscou o olho aos indecisos e ao eleitorado tradicionalmente mais distante do partido: “Peço a todas as pessoas que querem uma mudança que no próximo domingo votem no BNG. Não importa o que votaram noutras ocasiões, há muitas formas de sentir-se galego e de sentir-se galega e todos são necessários para fazer história e construir uma Galiza melhor”, afirmou.
Com a máquina nacionalista empolgada pelas sondagens, Pontón, que arrancou a campanha na sua aldeia natal, Chorente, e em Pontevedra, afirmou que o Bloque é “a esperança deste país” e que vão fazer história “com uma mulher presidenta.”
A aliança entre socialistas e nacionalistas galegos seria mais do que provável perante a eventual perda da maioria absoluta do PP. Apesar do empenho de Pedro Sánchez nas eleições galegas (o primeiro-ministro espanhol visitou a região por oito ocasiões só desde que o socialista José Ramón Goméz Besteiro se assumiu candidato pelo PSdG/PSOE), a moderação ideológica que o BNG tem vindo a assumir sob o comando de Ana Pontón nos pontos mais críticos do seu programa, incluindo na questão independentista e no euroceticismo, facilitaria um cenário de coligação liderada pelos nacionalistas.
Hegemonia do PP à prova
O cenário mais provável em cima da mesa continua a ser a vitória do PP e a continuidade de Alfonso Rueda à frente da “Xunta”. O presidente popular foi a sucessão natural encontrada após a saída de Alberto Nuñez Feijóo, que abandonou o governo da região em maio de 2022 para assumir a liderança nacional do partido e candidatar-se às eleições gerais de Espanha de 2023.
Para o encerramento de uma campanha marcada pela incerteza do resultado, o PP preparou uma mensagem forte e juntou mais de 3.500 pessoas no Palexco (Corunha).
“Necessitamos de vós mais do que nunca”, foi o apelo de Rueda – que falou no comício em castelhano e galego. A mensagem era especialmente dirigida aos militantes do PSdG “que se envergonham” pelo seu partido se ter “rendido” aos nacionalistas.
Na esperança de conquistar o centro e esvaziar o território socialista que rejeita a agenda radical do “Bloque”, Rueda pediu “uma oportunidade” ao PP: “Arrisquem um pouco para travar essa Galiza que se rende ao nacionalismo.”
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