Após reviravolta, Stop pode ser viabilizado com o apoio da Câmara do Porto
João Nogueira
No centro comercial Stop vivem-se tempos de mudança e o fantasma do encerramento, que levou centenas às ruas em julho de 2023, está cada vez mais distante. Depois da reposição dos equipamentos de segurança e da entrada de uma nova administração de condomínio, foi a vez de a Câmara do Porto sugerir a hipótese de vir a ocupar uma das frações do centro comercial e assumir-se como dinamizadora da nova vida do Stop.
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“Ficámos a saber que há lá alguns espaços que não estão a ser utilizados, nomeadamente um espaço multiusos que a Câmara do Porto admitiria alugar”, referiu Rui Moreira, durante a reunião do executivo desta segunda-feira.
Segundo o autarca, a aquisição municipal de uma das frações do Stop “poderia ajudar não só a atividade dos músicos, porque permitiria manter e guardar lá alguns equipamentos, e também dar pode dar alguma ajuda ao centro comercial”.
A ideia resulta de uma reunião entre os proprietários e o município, onde foram debatidas condições para que “a verdadeira casa da música do Porto” não corra o risco de voltar a fechar portas.
À margem da reunião com o município, Vladimir Pereira, um dos proprietários presentes, adiantou ao Porto Canal a possibilidade de a Câmara avançar com essa aquisição: “Não se meteram de fora.”
Fonte da autarquia portuense avançou ao Porto Canal que o espaço que pode vir a ser gerido pela Câmara do Porto corresponde às antigas salas de cinema do STOP, salas que podem ser usadas para espetáculos com capacidade para 400 e 300 lugares, atualmente abandonado e propriedade da NOS
O Porto Canal contactou a empresa, mas não obteve resposta.
“A Câmara, ao infiltrar-se aqui, vai criar mais cultura”, disse o proprietário, sublinhando que a “veia cultural” do Stop não está em causa. “Nem que seja para uma biblioteca. É cultura. Encaixa”, acrescentou, apontando para outras opções.
“Sabemos, por exemplo, que a banda da ESMAE está aflita quanto ao espaço. A Câmara pode pegar no espaço e arrendá-lo a eles”, indicou Vladimir Pereira.
Neste momento, o Stop está a um passo de ser viabilizado, faltando apenas resolver a obstrução de uma saída de emergência nas traseiras, bloqueada pelo proprietário de um vizinho do Stop.
“Nós pedimos à fiscalização para lá ir e que confirmou que era verdade. E estamos a verificar como podemos resolver esse problema da porta”, explicou Rui Moreira aos vereadores.
Cinema histórico
O STOP foi inaugurado na década de 80 e tem 126 frações. Antes de ser um centro comercial, o edifício servia de instalações da marca de automóveis Austin. Depois da reconversão do espaço, as frações foram vendidas a particulares, a quase uma centena de proprietários individuais.
Com o aparecimento de outros shoppings de nova geração pela cidade, o STOP perdeu a força e a iminência de fechar aumentou. Mas uma comunidade de cerca de 500 artistas apropriou-se do edifício e deu-lhe uma nova vida, ao longo das últimas duas décadas.
Com sete pisos, parque de estacionamento no subsolo, o STOP é considerado uma “verdadeira casa da música” e polo incontornável da cultura underground da cidade.
Os pisos acima são frações destinadas maioritariamente à produção cultural. Na entrada, existem dois espaços de restauração. Nesse mesmo piso situam-se ainda duas das maiores frações, que eram os cinemas.
Os cinemas funcionaram durante 13 anos. Em 1995, o aparecimento de outras salas mais modernas levou ao seu encerramento. “Antigamente tinha muita gente. Vinham autocarros de Baguim, Gondomar. Locais de longe para trazer as pessoas ao cinema”, lembrou Horácio Pereira, porteiro do STOP.
São duas salas de cinema, identificadas como Stop 1 e Stop 2. Um dos espaços tem cerca de 300 lugares, e o outro tem cerca de 400.