Terrenos da Galp em Matosinhos foram pensados para refinaria de lítio por Matos Fernandes e Galamba

Terrenos da Galp em Matosinhos foram pensados para refinaria de lítio por Matos Fernandes e Galamba
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Porto Canal

Foi a 21 de dezembro de 2020, em plena pandemia de covid-19, que a Galp anunciava o encerramento da refinaria de Leça da Palmeira, em Matosinhos, mantendo a unidade industrial de Sines, no sul do país. A decisão foi justificada pela empresa devido a "alterações estruturais dos padrões de consumo" e na poupança anual de 90 milhões de euros em custos fixos e investimentos.

Matos Fernandes, então ministro do ambiente, defendia que a unidade industrial da petrolífera a norte devia fazer parte da transição energética no país.

"Há uma coisa que sei: Portugal vai ter uma refinaria de lítio, mas não posso estar aqui a discutir as intenções de empresas privadas", defendia o político, na ressaca do anúncio do encerramento da  refinaria da GALP, acrescentando ainda: "Está aberta a porta para que seja rentabilizado o grande ativo industrial que ali existe. Pela localização que tem, pelo passado industrial que tem, pela proximidade ao porto de Leixões, estão ali um conjunto vasto de ativos e de terrenos que poderão ser muito importantes para a transição energética com outros projetos industriais diferentes da refinação do petróleo".

Também o seu secretário de Estado da Energia, João Galamba, constituído arguido na Operação Influencer e recentemente demitifo do cargo de ministro das Infraestruturas, sempre viu com bons olhos a localização da refinaria de lítio no norte do país, dada a proximidade com os projetos mineiros de Boticas e Montalegre, da Savannah Resources e da Lusorecursos, respetivamente. 

De acordo com o Jornal Negócios, nos autos de busca do Caso Influencer, o Ministério Público vem agora defender a preferência dos dois governantes pelos terrenos da GALP em Matosinhos para a instalação de uma refinaria de lítio.

"Suspeita-se que o Estado possa ter imposto, de forma indevida, através de uma ação concertada entre os suspeitos Matos Fernandes, então ministro do Ambiente, João Galamba, então secretário de Estado da Energia, e Rui Oliveira Neves, então diretor da Galp, a entrada da Galp na participação da Savannah Lithium e a parceria da Northvolt com a Galp", é destacado.

A ECO avança que os contactos entre as demais entidades começaram em 2019, altura em que o então presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Luís Castro Henriques, deslocou-se à Suécia para se reunir com os responsáveis da Northvolt, que por sua vez vieram a Portugal em 2020 falar com a Galp.

Este foi um processo sempre acompanhado pelo Governo português, que participou, inclusivamente, numa reunião com a Northvolt.

A Galp terá também encetado contactos com a Lusorecursos para obter o lítio da mina de Montalegre para o refinar, contudo a empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira declinou o negócio.

Apesar das intenções, o projeto terá caído e a petrolífera lusa tem agora um projeto com a sueca Northvolt para construir uma refinaria de lítio em Setúbal, com um investimento de 700 milhões de euros. A decisão final deverá ser anunciada em 2024. Apesar de outras localizações que estiveram em cima da mesa, a cidade na foz do Sado venceu. 

Agora, o MP realça que João Galamba participou na negociação e que "os responsáveis da Savannah tiveram acesso privilegiado aos responsáveis da APA, à DGEG (Direção Geral de Energias e Geologia) e aos gabinetes dos ministros do Ambiente e das Infraestruturas para obterem benefícios ilegítmos".

 

Recorde-se que já arrancaram os trabalhos de demolição da antiga refinaria da Petrogal. O processo deverá, segundo a Galp, demorar cerca de dois anos e meio e vai começar com o desmantelamento dos tanques de armazenagem de crude.

O local de partida de uma jornada rumo à demolição total da antiga refinaria, uma jornada rumo ao futuro.

 
 
 
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