Começou a demolição da antiga refinaria de Matosinhos. Trabalhadores despedidos falam em “crime económico”
Inês Veloso Durães
Os trabalhos iniciaram-se esta segunda-feira na zona dos tanques de armazenagem. O local de partida de uma jornada rumo à demolição total da antiga refinaria, uma jornada rumo ao futuro.
Já do lado oposto do complexo, junto à entrada, marcava presença o passado da antiga refinaria através de uma concentração de alguns dos cerca de 150 trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo.
“É com grande tristeza, com grande lamento e com frustração enorme de ver um complexo como este de criação de riqueza, de criação de energia desaparecer para não sabemos ainda o quê”, afirma José Azevedo, antigo trabalhador.
Também César Martins foi abrangido pelo despedimento coletivo e conta que “há equipamento novo e isto é tudo para deitar fora. É assim que se usam os dinheiros públicos. Isto é um crime. A nossa indústria há de ficar sempre prejudicada de futuro, porque vamos começar a comprar tudo ao exterior.”
O princípio de um processo que terá a duração de dois anos e meio e que é da total responsabilidade da Galp. Após a demolição, seguem-se a descontaminação e a reabilitação ambiental dos terrenos, mediante a futura utilização dos 240 hectares. Um futuro ainda incerto.
“Hoje diz-se uma coisa, amanhã diz-se outra. Os planos já alteraram e depois o fundo para a limpeza do terreno, que é muito dinheiro, isto está a criar uma grande celeuma e não há decisões”, explica César Martins.
O objetivo futuro para já revelado é a construção de uma cidade da inovação, voltada para as energias do futuro. Mas há quem esteja revoltado e acredite que o setor imobiliário tomará conta daquelas áreas, como é o caso de Ana Basílio, antiga trabalhadora.
“São muitos metros quadrados de terreno que pertenceram a 200 proprietários que foram expropriados com o intuito de interesse público nacional urgente, segundo o decreto-lei da altura. E após 60 anos, vemos isto ser transformado num local talvez de imobiliário”, diz Ana Basílio.
Para já, decorre o processo de demolição que, de acordo com a Galp, poderá originar poeiras e ruídos, na zona envolvente.