"Queremos uma linha em serviço por ano até 2030". Grande entrevista ao presidente da Metro do Porto
Henrique Ferreira e Fábio Lopes
“Queremos ter a capacidade de colocar uma linha em serviço por ano até 2030”. É a garantia deixada pelo presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga, numa grande entrevista ao Porto Canal, no dia em que a empresa apresentou as quatro novas linhas que vão fazer parte da rede de metro da área metropolitana do Porto.
A Metro do Porto apresentou, esta sexta-feira, quatro novos traçados, que incluem a tão ansiada ligação Trofa, a chegada ao centro de Gondomar e o reforço da rede nos municípios da Maia e de Matosinhos. Para Tiago Braga, este projeto de expansão “faz parte da estratégia de crescimento da Metro do Porto enquanto espinha dorsal de um sistema de transportes que pensa e se desenvolve a partir daquilo que são as expectativas dos clientes."
Presidente da Metro deixa críticas aos decisores políticos do passado
Quando questionado sobre o atraso com que chega esta fase de expansão do Metro do Porto, Tiago Braga deixa críticas aos decisores políticos do passado, que não tiveram na mobilidade uma prioridade.
“Não foram criadas as condições para haver um consenso ou os decisores de então não tinham como prioridade da ação governativa a mobilidade”, afirma. Para o responsável da empresa, “responsabilidade dos trabalhadores da Metro do Porto seguramente não foi”.
“Queremos mesmo atingir as 150 milhões de validações”
Quanto ao futuro, “a ambição hoje está totalmente clara: nós queremos atingir as 150 milhões de validações em 2030 e queremos porque acreditamos que isso é possível, não é apenas uma aspiração”, assegura o presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto.
No primeiro trimestre de 2023, a Metro do Porto registou os melhores resultados de sempre em termos de validações. O valor superou o período pré-pandemia. Em 2019, a Metro tinha registado os melhores números desde a fundação: 71,4 milhões de validações.
“O metro serve para libertar as cidades”
Para Tiago Braga, “o metro serve, em primeira instância, para libertar a cidade” e “dar espaço às pessoas para usufruírem dela”.
O presidente da Metro do Porto nega que a utilização do metro à superfície atrase a circulação diária e explica que, “apesar de a questão financeira ser fundamental” na hora de escolher os métodos de inserção da rede no território, é preciso pensar também na “sustentabilidade da operação”.
“A questão da velocidade de ponta num sistema de metro não é verdadeiramente aquilo que é importante. A nossa rapidez é superior à dos metros convencionais enterrados”, explica o responsável pela empresa. Além disso, Tiago Braga garante que “há mais operações neste momento de metro à superfície na Europa do que de metro enterrado, porque este é também um momento de transformação urbana”.
Metro na Trofa: um sonho antigo
Quanto à utilização, que foi esta sexta-feira anunciada, do sistema BRT (metrobus) em parte da ligação à Trofa, Tiago Braga diz que entende a desconfiança da população.
“É a desconfiança normal de alguém perante uma novidade. Mas o que vamos demonstrar é que esta solução garante os níveis de serviço alinhados com o que a Metro do Porto ofereceria no caso de utilizar veículos convencionais”, explica. Os utilizadores da futura linha viajarão em metro ligeiro entre a estação do ISMAI e do Muro e terão depois de trocar de veículo para o metrobus para chegarem ao centro da cidade da Trofa.
Na estação do Muro, que será instalada no local onde outrora funcionou um apeadeiro ferroviário, será ainda construído um parque de estacionamento para captar os utilizadores de transporte individual, avança o presidente da Metro do Porto.
“Viaduto no Vale de Campanhã seria uma ameaça”
As linhas apresentadas, esta sexta-feira, na presença do primeiro-ministro e do ministro do ambiente, sofreram várias alterações face ao primeiro plano de expansão que data de 2008 e que, por isso, chega com 15 anos de atraso.
No caso da linha de Gondomar, as alterações ao traçado são significativas, mas Tiago Braga explica que “do ponto de vista do estudo de impacte ambiental um viaduto pelo Vale de Campanhã seria sempre visto como ameaça”.
“Por outro lado, quisemos ter uma estrutura que servisse também como elemento de coesão social e, por isso, é que vamos ter uma estação no Bairro do Cerco e do bairro do Lagarteiro”, afirma.
Linha de São Mamede vai utilizar parte da Linha de Leixões
Há, no entanto, novidades deixadas por Tiago Braga no que diz respeito a outras linhas agora apresentadas. A nova Linha de São Mamede, que vai ligar o IPO ao Estádio do Mar, vai utilizar parte da esteira da linha ferroviária de Leixões.
Apesar disso, a utilização desta ligação em larga escala não está para já prevista em outras linhas que venham a ser construídas com o objetivo de tornar a rede do metro mais radial e progressivamente menos concêntrica.
“2030 é já amanhã”
“Independentemente de haver fundos nacionais ou fundos estrangeiros, mal seria se eu não acreditasse na importância do metro e no ecossistema de transportes no processo de descarbonização”, diz Tiago Braga quando questionado sobre o receio da falta de financiamento europeu na expansão do Metro do Porto.
Para o presidente da empresa de transportes, “fará sempre sentido, em qualquer circunstância, alocar fundos públicos para fazer a conversão carbónica”.
“Caso contrário, não será possível cumprir as metas de descarbonização para 2030” e, lembra Tiago Braga, “2030 é já amanhã”.
“Trânsito é nosso grande inimigo”
“O congestionamento é o nosso grande inimigo”, constata Tiago Braga, que reforça a importância da expansão da rede de transportes públicos para alcançar as metas de descarbonização. “Não é possível continuar a ter uma área metropolitana em que se consome em média 70 minutos no transito”, afirma o presidente da Metro.
Tiago Braga lamenta ainda que este não seja um problema para todos. “Parece que nunca nos inquietamos com esta questão”.
“Hoje o metro já não é de papel”
Quanto ao futuro da Metro do Porto, o presidente da empresa mostra-se satisfeito por este já não ser “de papel”, numa referência à descrença que existia na fase inicial do projeto.
“Com a nossa natureza, com a capacidade de resistir às adversidades, olhamos para isto como nosso. É nosso. Foi com o nosso suor, com o nosso sacrifício que o conquistámos”, afirma Tiago Braga, que garante que há cada vez mais um sentimento de pertença dos portuenses face ao metro.
“Estou totalmente dedicado à Metro do Porto”
“Acima de tudo espero poder disfrutar e continuar a ser cliente da Metro do Porto, como já sou”, confidencia Tiago Braga.
Questionado sobre o seu próprio futuro dentro da empresa, o atual presidente do Conselho de Administração responde de forma enigmática: “o futuro a Deus pertence." No entanto, garante que, neste momento, “está totalmente dedicado à Metro do Porto”.
“Eu não sou presidente da Metro do Porto, eu estou presidente da Metro do Porto”, remata.