Covid-19: Médico antigo ministro moçambicano apela à prevenção ou restrições poderão piorar
Porto Canal com Lusa
Maputo, 24 mai 2020 (Lusa) - O médico e antigo ministro da saúde moçambicano Hélder Martins apela a que todos cumpram melhor as medidas de prevenção da covid-19, sob pena de serem necessárias restrições mais difíceis ou até mesmo insuportáveis para a população.
"Há um grande espaço para melhorar as medidas e é preciso fazer isso", referiu em entrevista à Lusa, a poucos dias de terminar o estado de emergência em Moçambique e depois de o Presidente da República já ter avisado que as novas regras podem manter-se e até agravar-se.
"É preciso melhorar a implementação das medidas", caso contrário, poderá haver outras "mais constringentes que a ninguém interessa", disse Hélder Martins.
"Nas condições do nosso país, de muitos outros países africanos e outros na Ásia, que têm condições idênticas, há pessoas que, para comer, têm de sair à rua, trabalhar no mercado informal", referiu, para concluir que "medidas muito constringentes vão ter consequências para as famílias".
"É por isso que já disse várias vezes que sou e serei sempre contra o confinamento obrigatório. Mas para que tenhamos sucesso e não nos caia uma situação grave [em cima], é preciso que as pessoas adiram às recomendações oficiais", sublinhou.
Hélder Martins critica quem se movimenta sem necessidade: "Há pessoas que ainda querem visitar a família no distrito. É preciso aceitar a situação e modificar o comportamento", disse.
A nível sanitário "não me parece que a situação requeira medidas novas. A implementação [é que] ainda deixa muito a desejar".
O antigo ministro considera que, para já, o sistema nacional de saúde moçambicano está preparado porque o número de assintomáticos é alto, a vigilância está a funcionar e os meios de saúde estão a postos para responder.
Moçambique tem um total acumulado de _ casos de infeção pelo novo coronavírus, sem mortes e com _ pessoas recuperadas.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, admitiu há uma semana, numa comunicação à nação, tomar medidas mais duras no âmbito do estado de emergência para prevenção da covid-19, se persistir o incumprimento de algumas restrições, nomeadamente, se os níveis de mobilidade interna continuarem altos.
O país vive em estado de emergência desde 01 de abril e até final de maio, com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações, recomendando-se à população que fique em casa, se não tiver motivos de trabalho ou outros essenciais para tratar.
Durante o mesmo período, há limitação de lotação nos transportes coletivos com obrigatoriedade do uso de máscaras que se estende à via pública, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar no país está suspensa.
Até ao momento, Moçambique conta 168 doentes infetados, um número que contrasta com a vizinha África do Sul, que é o páis africano com mais infeções (21.343) e o terceiro com mais mortes (407).
África regista 3.246 mortos e mais de 107 mil casos de infeção pela covid-19, em 54 países, de acordo com as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
Segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número de mortos subiu nas últimas 24 horas de 3.183 para 3.246 (+63), enquanto os casos de infeção aumentaram de 103.933 para 107.412 (+3.479).
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 339 mil mortos e infetou mais de 5,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de dois milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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