Opções para sector ferroviário prejudicam Centro e Norte - Almeida Henriques
Porto Canal / Agências
Viseu, 30 jan (Lusa) -- O presidente da Câmara de Viseu mostrou-se satisfeito com a inclusão da ligação rodoviária a Coimbra na lista de projetos prioritários, mas considerou que no setor ferroviário há opções que "prejudicam gravemente" o Centro e Norte do país.
Ao comentar à agência Lusa o documento produzido pelo grupo de trabalho para as infraestruturas de elevado valor, que definiu 30 projetos prioritários para o investimento, Almeida Henriques (PSD) considerou que a ligação de Viseu a Coimbra (com um investimento necessário de 600 milhões de euros) não poderia deixar de estar incluída.
"Uma ligação a Sul é claramente uma prioridade que nós também entendemos, sendo que defendemos que deve ser um princípio de melhoramento da ligação, no sentido de ter uma ligação sem portagens", explicou.
No entanto, no que respeita ao setor ferroviário, disse que as opções lhe suscitam muitas dúvidas.
Entre os 30 projetos prioritários está a modernização do corredor Aveiro-Vilar Formoso/Linha da Beira Alta (com um investimento estimado de 900 milhões de euros), mas a ligação internacional Aveiro-Vilar Formoso só aparece no "ranking" do setor ferroviário (em 14.º lugar, com um investimento estimado de 2.100 milhões de euros)
"Mais de 60% das exportações das mercadorias destas duas regiões são feitas através da fronteira de Vilar Formoso. Portanto, se faz algum sentido priorizar a ligação de Sines, ainda mais sentido faz priorizar a ligação internacional Aveiro-Viseu-Vilar Formoso", defendeu.
Ao olhar para o estudo, o antigo secretário de Estado da Economia faz a leitura de que "não é prioridade" a ligação internacional Aveiro-Vilar Formoso que, no entanto, é entendida como estratégica no Norte e Centro de Portugal.
"A leitura que eu faço é de que o dinheiro não é elástico e se os fundos forem aplicados num lado, deixarão de ser aplicados noutro. Parece-me claro que este estudo deixa para as calendas a ligação internacional Aveiro--Viseu--Vilar Formoso", lamentou.
Na opinião do autarca, a não concretização desta ligação internacional "significaria deixar todo o Centro e Norte do país fora das ligações internacionais e até da lógica da ligação do que se está a fazer do lado de Espanha".
Almeida Henriques questionou o porquê da duplicação, uma vez que se fala "da modernização da Linha da Beira Alta e, ao mesmo tempo, da questão da ligação internacional Aveiro--Vilar Formoso", que no total somam três mil milhões de euros de investimento.
"Pode encontrar-se aqui uma solução intermédia, que passe pela construção entre Aveiro e Viseu, ligando à linha da Beira Alta, com a modernização da Linha da Beira Alta. Se fizermos a fusão das duas opções estaremos a falar de valores mais pequenos", sublinhou.
O autarca garantiu que não baixará os braços na defesa da ligação internacional, tendo já prevista uma reunião da Plataforma da A25 (com os colegas da Guarda e de Aveiro) e outra com o presidente da Câmara do Porto. Também os empresários do Centro e Norte "já estão neste momento a preparar-se para fazer uma reunião sobre esta matéria", contou.
No seu entender, este documento -- que entrou na quarta-feira em discussão pública -- faz "opções que servem sobretudo o Sul do país", esquecendo "dois terços do território que hoje contribuem de uma forma decisiva para a criação de riqueza do país".
Para o antigo secretário de Estado, a ligação internacional entre Aveiro e Vilar Formoso "devia aparecer a par da ligação Poceirão--Caia", porque se esta "tem importância para o Sul e para a vertente do porto de Sines", a primeira justifica-se pelo "tráfego de mercadorias diário que existe no Centro e Norte do país".
"A nós não nos basta uma ligação (ferroviária) a Viseu. Estou a olhar para isto no contexto do desenvolvimento do país. Este quadro comunitário de apoio é a última oportunidade que temos de poder olhar para o país do ponto de vista das suas infraestruturas e fazer opções racionais", alertou.
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